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ENTREVISTA RICARDO KNOEPFELMACHER
Brasil Telecom quer ser protagonista e não alvo de novas aquisições no país
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher,
41, não nega o interesse da empresa na possibilidade de uma
fusão com a Telemar ou até na
hipótese de compra da TIM,
entre outros negócios possíveis
de ser realizar no setor. Ele defendeu também a formação de
uma grande companhia nacional, a exemplo do que acontece
na Europa. A Brasil Telecom,
segundo ele, é, hoje, uma protagonista desse processo. "Nós
deixamos de ser alvo."
Ricardo K. diz que a tele dispõe hoje de um caixa forte com
capacidade de alavancagem para fazer qualquer aquisição no
mercado. O caixa é de R$ 4 bilhões, mas ele afirma que "se
necessário for, temos de condições de levantar mais de R$ 10
bilhões para uma aquisição".
O processo de consolidação,
segundo diz, será inevitável no
Brasil, a exemplo do que ocorre
no mundo, apesar de hoje ser
necessário mudar a lei. A seguir, trechos da entrevista.
FOLHA - Há mesmo interesse da
Brasil Telecom em se fundir com a
Telemar?
RICARDO K. - Já enviamos um
comunicado ao mercado para
esclarecer que não firmamos
qualquer entendimento, mesmo que preliminar, sobre fusão, compra, venda, nem com a
Telemar nem com qualquer
outra empresa ligada a ela. Essa
é a posição que nós temos hoje.
Agora, dentro do contexto de
consolidação, é óbvio que o
mundo inteiro está passando
por esse fenômeno de consolidação das empresas de telecomunicações, seja na Europa ou
nos Estados Unidos.
FOLHA - A fusão é viável?
RICARDO K. - Todos os países europeus têm uma grande empresa nacional, com mais de metade do mercado. Isso ocorre na
França, na Itália, na Espanha,
em Portugal, enfim, em praticamente todos os países europeus. Todos também possuem
um número pequeno de grandes operadores. Nos EUA, que é
um mercado oito vezes maior
do que o brasileiro, só há quatro
grandes operadoras. A consolidação é um fenômeno mundial
e tem a ver com o aumento da
escala e a melhora de preços e
qualidade. Ajuda a baixar preços e melhorar a qualidade para
o usuário, desde que você tenha
um órgão regulador forte que
continue lutando pela universalização dos serviços, pela
qualidade dos serviços e pela
modicidade da tarifa (preços
acessíveis).
FOLHA - Mas, para isso, é preciso
mudar a lei...
RICARDO K. - No Brasil, é necessário fazer uma modificação no
Plano Geral de Outorgas e,
eventualmente, até na Lei Geral de Telecomunicações. Há
controvérsias, porque há uma
interpretação de que uma simples mudança no Plano Geral,
por meio de um decreto presidencial, seria o suficiente. Desde 1996, os EUA já permitem as
fusões. O engraçado é que o
Brasil veio justamente na contramão. Em 1997, o Brasil estava promulgando a Lei Geral de
Telecomunicações. O governo
tinha dois objetivos: o primeiro
era de não criar um grande monopólio privado, e o segundo
era a certeza de que conseguiria
o melhor preço possível pela
privatização. A única forma de
conseguir isso era picar o território brasileiro em regiões e foi
assim que foi feito. O Brasil foi
dividido em três concessionárias locais e uma de longa distância, a Embratel. As três locais eram: Telemar, Telefônica
e Brasil Telecom, além das espelhos. O Brasil está atrasado
no processo de consolidação.
FOLHA - O sr. vê mais disposição do
governo em mudar a lei?
RICARDO K. - O governo está
olhando com atenção o que está acontecendo no mundo e,
obviamente, o que tem que presidir qualquer decisão governamental é o que é melhor para a
sociedade. Como é que ele garante competição? E a modicidade das tarifas? Essa é uma
discussão absolutamente pertinente no cenário brasileiro de
telecomunicações, até porque é
a melhor forma de você ganhar
escala, ganhar preço para o
consumidor e qualidade do serviço. A consolidação é um fenômeno e não necessariamente a
consolidação com a Telemar é a
única saída. Temos outras empresas interessantes como a
TIM, por exemplo, que entra
num processo às vezes de venda e, às vezes, esse processo é
interrompido. Estamos atentos. Hoje, a nossa posição é
muito diferente daquela de
dois anos atrás, em que nós éramos vistos como um alvo. Hoje,
temos um caixa muito forte e
somos um "player" desse mercado. A empresa deixou de ser a
consolidada óbvia para ser uma
protagonista do processo.
FOLHA - Qual é o tamanho do caixa
da Brasil Telecom?
RICARDO K. - Temos mais de R$
4 bilhões em caixa e uma capacidade de alavancagem enorme. A gente tem condições de
se endividar, se necessário for,
para fazer uma aquisição. Uma
empresa como a Brasil Telecom teria condições de levantar mais de R$ 10 bilhões para
uma aquisição.
FOLHA - A Brasil Telecom está negociando a compra da parte da Telecom Italia na empresa ?
RICARDO K. - A Brasil Telecom
ainda é uma grande operadora
fixa com uma pequena operadora celular, por maior que tenha sido o sucesso dessa nossa
operadora celular. Já temos
12% do mercado na nossa região e vendemos 21% de todos
os novos celulares. Temos quase 30% de pós-pago na nossa
base, quase o dobro das outras
operadoras, mas precisamos
ampliar essa participação na
telefonia móvel. Por isso, a operação da TIM nos interessa.
FOLHA - Como estão as conversas?
RICARDO K. - A Telecom Italia é
uma acionista da Brasil Telecom. As conversas são freqüentes e normais.
FOLHA - Qual foi a objetivo da mudança de estatuto da empresa?
RICARDO K. - O objetivo foi melhorar a governança corporativa da empresa, tornando os
processos mais transparentes.
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