São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2007

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ENTREVISTA RICARDO KNOEPFELMACHER

Brasil Telecom quer ser protagonista e não alvo de novas aquisições no país

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, 41, não nega o interesse da empresa na possibilidade de uma fusão com a Telemar ou até na hipótese de compra da TIM, entre outros negócios possíveis de ser realizar no setor. Ele defendeu também a formação de uma grande companhia nacional, a exemplo do que acontece na Europa. A Brasil Telecom, segundo ele, é, hoje, uma protagonista desse processo. "Nós deixamos de ser alvo." Ricardo K. diz que a tele dispõe hoje de um caixa forte com capacidade de alavancagem para fazer qualquer aquisição no mercado. O caixa é de R$ 4 bilhões, mas ele afirma que "se necessário for, temos de condições de levantar mais de R$ 10 bilhões para uma aquisição". O processo de consolidação, segundo diz, será inevitável no Brasil, a exemplo do que ocorre no mundo, apesar de hoje ser necessário mudar a lei. A seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - Há mesmo interesse da Brasil Telecom em se fundir com a Telemar?
RICARDO K.
- Já enviamos um comunicado ao mercado para esclarecer que não firmamos qualquer entendimento, mesmo que preliminar, sobre fusão, compra, venda, nem com a Telemar nem com qualquer outra empresa ligada a ela. Essa é a posição que nós temos hoje. Agora, dentro do contexto de consolidação, é óbvio que o mundo inteiro está passando por esse fenômeno de consolidação das empresas de telecomunicações, seja na Europa ou nos Estados Unidos.

FOLHA - A fusão é viável?
RICARDO K.
- Todos os países europeus têm uma grande empresa nacional, com mais de metade do mercado. Isso ocorre na França, na Itália, na Espanha, em Portugal, enfim, em praticamente todos os países europeus. Todos também possuem um número pequeno de grandes operadores. Nos EUA, que é um mercado oito vezes maior do que o brasileiro, só há quatro grandes operadoras. A consolidação é um fenômeno mundial e tem a ver com o aumento da escala e a melhora de preços e qualidade. Ajuda a baixar preços e melhorar a qualidade para o usuário, desde que você tenha um órgão regulador forte que continue lutando pela universalização dos serviços, pela qualidade dos serviços e pela modicidade da tarifa (preços acessíveis).

FOLHA - Mas, para isso, é preciso mudar a lei...
RICARDO K.
- No Brasil, é necessário fazer uma modificação no Plano Geral de Outorgas e, eventualmente, até na Lei Geral de Telecomunicações. Há controvérsias, porque há uma interpretação de que uma simples mudança no Plano Geral, por meio de um decreto presidencial, seria o suficiente. Desde 1996, os EUA já permitem as fusões. O engraçado é que o Brasil veio justamente na contramão. Em 1997, o Brasil estava promulgando a Lei Geral de Telecomunicações. O governo tinha dois objetivos: o primeiro era de não criar um grande monopólio privado, e o segundo era a certeza de que conseguiria o melhor preço possível pela privatização. A única forma de conseguir isso era picar o território brasileiro em regiões e foi assim que foi feito. O Brasil foi dividido em três concessionárias locais e uma de longa distância, a Embratel. As três locais eram: Telemar, Telefônica e Brasil Telecom, além das espelhos. O Brasil está atrasado no processo de consolidação.

FOLHA - O sr. vê mais disposição do governo em mudar a lei?
RICARDO K.
- O governo está olhando com atenção o que está acontecendo no mundo e, obviamente, o que tem que presidir qualquer decisão governamental é o que é melhor para a sociedade. Como é que ele garante competição? E a modicidade das tarifas? Essa é uma discussão absolutamente pertinente no cenário brasileiro de telecomunicações, até porque é a melhor forma de você ganhar escala, ganhar preço para o consumidor e qualidade do serviço. A consolidação é um fenômeno e não necessariamente a consolidação com a Telemar é a única saída. Temos outras empresas interessantes como a TIM, por exemplo, que entra num processo às vezes de venda e, às vezes, esse processo é interrompido. Estamos atentos. Hoje, a nossa posição é muito diferente daquela de dois anos atrás, em que nós éramos vistos como um alvo. Hoje, temos um caixa muito forte e somos um "player" desse mercado. A empresa deixou de ser a consolidada óbvia para ser uma protagonista do processo.

FOLHA - Qual é o tamanho do caixa da Brasil Telecom?
RICARDO K.
- Temos mais de R$ 4 bilhões em caixa e uma capacidade de alavancagem enorme. A gente tem condições de se endividar, se necessário for, para fazer uma aquisição. Uma empresa como a Brasil Telecom teria condições de levantar mais de R$ 10 bilhões para uma aquisição.

FOLHA - A Brasil Telecom está negociando a compra da parte da Telecom Italia na empresa ?
RICARDO K.
- A Brasil Telecom ainda é uma grande operadora fixa com uma pequena operadora celular, por maior que tenha sido o sucesso dessa nossa operadora celular. Já temos 12% do mercado na nossa região e vendemos 21% de todos os novos celulares. Temos quase 30% de pós-pago na nossa base, quase o dobro das outras operadoras, mas precisamos ampliar essa participação na telefonia móvel. Por isso, a operação da TIM nos interessa.

FOLHA - Como estão as conversas?
RICARDO K.
- A Telecom Italia é uma acionista da Brasil Telecom. As conversas são freqüentes e normais.

FOLHA - Qual foi a objetivo da mudança de estatuto da empresa?
RICARDO K.
- O objetivo foi melhorar a governança corporativa da empresa, tornando os processos mais transparentes.


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