São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Ausência de ágio na venda da Metropolitana frustra Covas, que foi aconselhado a evitar o leilão de ontem
Governo de SP vê apenas "sucesso parcial'

PATRÍCIA ANDRADE
PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local

A venda da Eletropaulo Metropolitana sem qualquer ágio frustrou as expectativas do governo paulista, que considerava esse leilão como estratégico para alavancar o PED (Programa Estadual de Desestatização).
Embora tentasse disfarçar a decepção, o próprio governador Mário Covas (PSDB) admitiu que a privatização da empresa foi um "sucesso parcial".
"Não foi decepcionante. Alcançamos um sucesso parcial na venda de hoje. É claro que eu esperava que o ágio fosse de 300%, mas isso não aconteceu, paciência", disse Covas logo após o leilão na Bovespa,no centro de São Paulo.
Além de ter vendido pelo preço mínimo a Eletropaulo Metropolitana, que será a maior distribuidora de energia da América Latina, o governo paulista não conseguiu vender a Bandeirante, outra subsidiária da Eletropaulo.
Com isso, todo o cronograma de privatização do setor elétrico será atrasado. "A venda da Bandeirante vai ser rediscutida no PED. O fato de não terem aparecido compradores foi uma questão de mercado", disse, evasivo, o vice-governador Geraldo Alckmin, um dos coordenadores do programa de desestatização.
Anteontem, já havia sido dado por cancelado o leilão de 36,69% das ações ordinárias da Empresa Paulista de Transmissão de Energia. Nenhuma das empresa que haviam se apresentado na fase de pré-identificação depositou a garantia de 10% do preço mínimo.
Em função disso, governo já cogita a possibilidade de desistir da venda. "Podemos ficar com a transmissora inteira. Mas, se tiver de ser vendida, a gente vai ter de repensar o processo, que, tal como está, já mostrou que não obtém interessados", declarou Covas.
O dinheiro da privatização da Metropolitana vai ser usado, maciçamente, para abater as dívidas do Estado e somente 10% para investimentos sociais. "Aqui em São Paulo, privatiza-se tudo para pagar dívidas das administrações passadas, débitos do Maluf", ironizou o governador.
A Folha apurou que, nos últimos dias, vários integrantes do governo tentaram fazer com que Covas adiasse os leilões da Metropolitana e da Bandeirante já com receio de que as companhias fossem arrematadas pelos preços mínimos.
"Não podemos recuar agora. Não tem essa história, vamos privatizar", disse Covas. Aos amigos, em tom de brincadeira, o governador tem sempre um argumento para continuar com as privatizações. "É engraçado, sou taxado de estatizante, mas chega na hora de privatizar, fica esse pessoal mais liberal querendo adiar e eu, não, vou lá e privatizo".



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