São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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Gestão de dom Paulo é repleta de confronto com poderosos

da Reportagem Local

A atuação de d. Paulo Evaristo Arns nos 32 anos em que esteve à frente da Arquidiocese de São Paulo foi marcada pelo confronto com o poder. No Brasil, lutou contra os generais do regime militar (1964-85). No Vaticano, enfrentou as perseguições de Roma contra a Teologia da Libertação.
Ao explicar sua atuação como religioso e político, d. Paulo diz que se guia pela "defesa de quem sofre". Essa premissa explica, por exemplo, por que o cardeal se envolveu intensamente na defesa tanto dos direitos humanos dos presos políticos quanto dos presos comuns, depois do regime militar.
Explica também por que, depois da aposentadoria, ele vai se dedicar a idosos e crianças carentes. D. Paulo vai se mudar para uma casa no Jaçanã (zona norte da capital) comprada pela Arquidiocese.
A casa foi escolhida por ser próxima a um abrigo de idosos carentes onde d. Paulo pretende trabalhar. Entre seus planos, também está escrever um livro relatando sua atuação frente à Arquidiocese.
A atuação de d. Paulo contra o regime militar culminou com a organização do livro "Brasil: Nunca Mais". Publicado em 1985, ele fez um relato abrangente da repressão e da tortura no país no período.
Entre os enfrentamentos no Vaticano, o mais marcante foi o pedido para acompanhar o teólogo Leonardo Boff quando este foi interrogado pelo cardeal Joseph Ratzinger, da Comissão de Doutrina da Fé, como é chamada hoje a Santa Inquisição.
O pedido, feito também por d. Aloízio Lorscheider, foi inédito na história da Igreja Católica. O teólogo havia sido convocado para explicar os fundamentos da Teologia da Libertação, que mistura instrumentos de análise marxista com catolicismo.
"O cardeal Arns chegou a ameaçar Ratzinger. Disse que denunciaria a perseguição do Vaticano à Teologia da Libertação, na Alemanha, onde faríamos palestras antes de voltar ao país", disse Boff em entrevista à Folha em 1996.
Questionado sobre como gostaria que sua gestão em São Paulo fosse lembrada, d. Paulo afirmou: "Gostaria que esse período fosse considerado como de transição entre uma igreja onde havia pouca participação do povo para outra onde o povo é convidado a participar". (LUIS HENRIQUE AMARAL)



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