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RELIGIÃO
"Estado tem de defender fracos'
Arcebispo
faz críticas
a governo
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Fortaleza
Dom Cláudio Hummes, nomeado arcebispo de São Paulo, responsabilizou o governo federal
pelo desemprego no país e afirmou ontem que a falta de trabalho
"provém, em grande parte, do
neoliberalismo".
D. Cláudio, que assume no dia
23 de maio a Arquidiocese de São
Paulo, afirmou também ser contra
os métodos anticoncepcionais
"não naturais" e contra o aborto,
mesmo em caso de estupro. Para
ele, cabe à sociedade acolher os
bebês rejeitados pelas mães.
A seguir, trechos da entrevista à
Agência Folha.
Agência Folha - O sr. se considera
um representante da ala progressista ou conservadora da igreja?
D. Cláudio Hummes - Nem uma
coisa nem outra. Eu nunca
consegui me
identificar com
esses perfis.
Minha referência é Jesus Cristo.
Agência Folha - Dom Paulo Evaristo Arns
é considerado
um representante da chamada ala progressista. Como o sr. pretende administrar a Arquidiocese de São
Paulo?
D. Cláudio -
Ninguém repete outro. Claro
que todos nós,
como cristãos e
como bispos,
temos referências comuns. Mas a
forma como nós o fazemos é bastante diferenciada.
Agência Folha - O sr é favorável
ao aborto legal?
D. Cláudio - Não, não, de forma
nenhuma. Sou responsável pelo
setor família na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Tenho lutado constantemente
contra qualquer tipo de aborto.
Agência Folha - O que fazer com
as crianças rejeitadas pelas mães?
D. Cláudio - Quando são vítimas de violência, as gestantes carregam um trauma muito ruim e a
gente tem de entender esse sofrimento. Mas o que não se pode é
incentivar ou orientar essa gestante a abortar. É preciso ajudá-la a
perdoar, porque só no dia em que
ela conseguir perdoar seu agressor
vai começar voltar a ser feliz de novo. Se ela não conseguir acolher
seu filho depois que nasce, então é
a sociedade quem tem de acolher.
Agência Folha - O sr. aprova os
métodos anticoncepcionais?
D. Cláudio - Assim como a igreja não aprova, eu também não
aprovo. Eu sou filho da igreja, fiel à
orientação do papa. A igreja nunca
proíbe por proibir.
Agência Folha - Como o sr. vê a
atuação do MST?
D. Cláudio - A Igreja não apóia
este ou aquele movimento, nominalmente, porque esses movimentos são autônomos e é importante
que sejam autônomos. A igreja
não tem por que apoiar esse movimento, porque senão ela está assumindo a responsabilidade por tudo o que eles dizem e fazem, e isso
não tem sentido. A igreja apóia o
direito de a sociedade se organizar
para defender seus direitos.
Agência Folha - Como o sr. vê as
invasões?
D. Cláudio - Cada caso tem de
ser analisado pela lei e pela sociedade. A propriedade privada não é absoluta, é defendida pela igreja
como um direito, mas como um direito
secundário. O
direito primário é a destinação universal
dos bens. Ou
seja, os bens da
terra são para
todos.
Agência Folha - A igreja
deve ou não fazer política?
D. Cláudio -
Sim, política
não partidária,
mas política no
sentido maior.
Ela não pode
entrar em termos partidários, porque não foi
fundada para governar a sociedade
civil. A igreja ajuda a conscientizar
o povo que ele tem responsabilidade política, que não se pode omitir.
Agência Folha - Como a igreja vê
o desemprego?
D. Cláudio - A igreja está alarmada com o alto desemprego. Todos nós sabemos que o desemprego provém, em grande parte, do
neoliberalismo. A igreja diz que o
neoliberalismo deve ser reformulado. Não se pode deixar tudo simplesmente a cargo do mercado. A
parte mais fraca da sociedade tem
de ser protegida. O Estado tem de
proteger os mais fracos. E nós sabemos que aqui o governo tem assumido elementos do neoliberalismo. É nesse sentido que esse governo sente, sabe que é responsável pelo desemprego que está havendo e até está anunciando que
quer combater esse problema.
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