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GOVERNO
Presidente diz que críticos da Lei de Responsabilidade Fiscal são irresponsáveis e que Planalto não pratica fisiologia
FHC se diz vítima de críticas desonestas
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou ontem de
"irresponsáveis" os que defendem mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal e voltou a reclamar das denúncias feitas pela
oposição de que ele está liberando
verbas "para que o Executivo obtenha tal e qual vantagem". Segundo FHC, "isso não é intelectualmente correto, porque se está
fazendo uma relação de causa e
efeito onde não existe".
FHC disse que, desde o ano passado, com a LRF e com as mudanças no Orçamento da União, "não
há espaço para a fisiologia" no governo. "Não há maneira de o Executivo discriminar", afirmou
FHC, em mais uma referência ao
uso de verbas públicas para barrar a CPI da corrupção.
Segundo ele, é democrática a
prática de os congressistas apresentarem emendas ao Orçamento
e de o governo liberar posteriormente os recursos. "No regime
militar se proibia o congressista
de apresentar as emendas e cabia
à tecnocracia e ao Estado a capacidade de definir os gastos", disse.
"Não há um gasto do governo
federal que não esteja à disposição
de quem tem acesso à internet e
ao processo do Siafi [sistema de
controle de gastos do governo",
não há um gasto que não tenha sido feito com aprovação do Congresso ou que possa ultrapassar
os limites orçamentários definidos por lei", afirmou o presidente.
FHC reclamou do "escândalo
sobre o que não é escandaloso".
Para ele, essa prática é na verdade
o "uso político da ética". Para
FHC, a democracia exige as maiorias. "Ou se tem as maiorias ou
não se muda nada."
FHC disse que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi criada para
que "a gestão da coisa pública se
afaste crescentemente das práticas do clientelismo, da fisiologia e
do patrimonialismo". Segundo
ele, a LRF vai poupar o governo
de críticas, ano que vem, da utilização de recursos públicos com
fins eleitorais. Depois corrigiu:
"Nunca se impede totalmente,
mas pelo menos vai se deixando
aí alguns marcos nessa direção".
Embora não tenha citado nenhum nome de partido ou de personalidade política brasileira, as
críticas ao rigor da LRF foram interpretadas como sendo para a
prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT). Ela encabeça o movimento que quer renegociar as dívidas dos municípios com a
União -segundo o governo, essa
prática já custou R$ 220 bilhões.
FHC disse que "a responsabilidade do gestor da coisa pública
não deve ser ideologizada e nem
pode estar submetida a pseudo-interpretações para dizer: os que
querem aplicar as restrições fiscais são "de direita", os que são "liberais" no gasto são de esquerda".
Segundo ele, esses últimos "são irresponsáveis".
Para o presidente, processos de
mudança cultural como a LRF sofrem esse tipo de crítica porque se
vive um processo de "mudança
de mentalidade" no país. Citando
o jurista Raymundo Faoro, autor
do clássico "Os Donos do Poder",
FHC declarou: "Nós temos de entender que o que está havendo no
Brasil é, no fundo, uma repulsa à
confusão entre a Fazenda Pública
e a fazenda privada".
Segundo o presidente, essa visão patrimonialista, que confunde o público e o privado, é histórica e muito antiga. ""Sem querer
ofender meus ancestrais portugueses, [a visão patrimonialista"
vem da Casa de Avis", disse. ""É
uma espécie de concubinato entre
o público e o privado", comentou.
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