|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO TUCANATO
Relatório de comissão cita operações fraudulentas
Corretora de Ricardo Sérgio lesou fundo, aponta CVM
ANDREA MICHAEL
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em 1996 e 1997, quando ainda
pertencia ao economista Ricardo
Sérgio de Oliveira, a corretora
RMC lesou o fundo de pensão da
Embrapa (Ceres), ao assessorá-lo
em investimentos feitos na Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa), segundo relatório da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), obtido pela Folha.
Ricardo Sérgio foi arrecadador
de fundos na campanha do presidenciável tucano José Serra,
quando ele candidatou-se ao Senado, em 1994. No ano seguinte,
contou com o apoio de Serra para
tornar-se diretor do Banco do
Brasil, cargo que ocupou até 1998.
A investigação da CVM, concluída no dia 31 de janeiro deste
ano, descobriu que a RMC e outras cinco corretoras utilizaram
"operações fraudulentas" para
obter lucro de R$ 17,3 milhões em
investimentos da Ceres. O próprio fundo de pensão, que tem 12
mil participantes e patrimônio de
R$ 940 milhões, ficou com apenas
R$ 5,2 milhões nos investimentos
realizados pelas corretoras.
A fraude descoberta pela CVM
tem semelhanças com os desvios
cometidos no Banpará que resultaram na renúncia do senador Jader Barbalho, em 2001. Nos anos
80, Jader complementou aplicações do Banpará e, depois, apropriou-se dos rendimentos, segundo apurou a fiscalização do Banco
Central (BC).
Rendimentos
Nos investimentos da Ceres, as
seis corretoras e alguns de seus sócios e funcionários também investiram valores pequenos nas
negociações e retiraram altos rendimentos. Uma das 3.533 operações analisadas pela CVM ajuda a
entender a fraude.
No dia 9 de janeiro de 1997, a
Ceres investiu R$ 3,875 milhões
em ações Telebrás ON, utilizando
os serviços da RMC. No mês seguinte, em 12 de fevereiro de 1997,
as ações foram vendidas. O lucro
da Ceres somou R$ 155 mil, ou 4%
do valor aplicado.
Dois sócios da RMC e um funcionário, atuando como pessoas
físicas, também participaram do
negócio. Lucraram muito mais do
que o fundo de pensão.
Ricardo Cavalieri, que já deixou
a sociedade na corretora, aplicou
R$ 66 mil. Recebeu, segundo a
CVM, R$ 583,3 mil, um rendimento de 884%.
Henrique Molinari, atual presidente da RMC, investiu R$ 45 mil.
Obteve R$ 66,3 mil, com rentabilidade de 147%. O operador José
Penna, ainda funcionário da
RMC, aplicou R$ 1.500. Retirou
R$ 13,4 mil. Rendimento de 893%.
"Evidente está que a operação
envolvendo a Ceres foi estruturada visando proporcionar rendimentos, inicialmente, aos diretores da RMC Ricardo Cavalieri e
Henrique Molinari, os quais foram suas contrapartes no mercado de opções", diz o relatório da
Comissão de Valores Mobiliários.
Segundo o texto, a negociação
"proporcionou aos referidos comitentes [RMC, Cavalieri e Molinari" significativos resultados,
por ocasião da reversão da operação de tais opções".
As operações de mercado executadas pela RMC, com dinheiro
da Ceres, deram à própria corretora, a seus sócios e funcionários
lucros que somaram R$ 1,430 milhão, segundo a CVM.
O então sócio e diretor Ricardo
Cavalieri foi o que mais ganhou:
embolsou R$ 1,040 milhão.
A RMC ficou com R$ 275 mil;
Henrique Molinari, com R$ 67
mil; o funcionário José Penna e
sua mulher, com R$ 45 mil; e a
Agropastoril Ricci, empresa ligada à corretora, com R$ 1 mil.
O relatório da CVM concluiu
que a RMC cometeu "operações
fraudulentas" e criou "condições
artificiais de demanda, oferta e
preço de valores mobiliários", ao
negociar ações para a Ceres.
E não foi a única vez. No mesmo
documento, a comissão de inquérito da CVM fez questão de lembrar que a corretora RMC já havia
sido notificada por "irregularidades nas operações com ações de
emissão da Telesp e com opções
dessas ações, tendo em contraparte o Instituto de Seguridade
Social dos Correios e Telégrafos
[Postalis], operações estas em tudo semelhantes às descritas neste
relatório".
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Outro Lado: Economista diz desconhecer caso Índice
|