São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

"Não houve massacre", diz Badan; Molina acha tese "meio estranha"

Disputa entre peritos marca julgamento do caso Carajás

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O segundo dia do julgamento do caso Eldorado do Carajás (PA) foi marcado pela batalha de laudos entre o médico-legista Badan Palhares e o foneticista Ricardo Molina, ambos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Badan afirmou que não houve massacre. "Não morreram mulheres nem crianças. Em um massacre não se distingue nada", disse ele sobre o confronto ocorrido em 17 de abril de 96, quando 19 sem-terra foram mortos e 84 pessoas ficaram feridas.
"Não houve massacre. O que posso afirmar é que as 19 pessoas que morreram, no meu entender, foram escolhidas para morrer. Houve intenção de matar, mas quem produziu essas mortes?", perguntou. Segundo ele, oito dos 19 mortos foram feridos com instrumentos cortantes, como foice.
Já Molina afirmou: "A conclusão do laudo dele [Badan" é meio estranha. Ele diz que a maioria foi morta por armas brancas e quem usa é o MST. Então só se pode concluir que eles mataram uns aos outros ou se suicidaram".
Molina analisou há dois anos as imagens do confronto, e Badan elaborou, em 1996, um parecer técnico sobre os laudos necroscópicos dos 19 mortos.
Os advogados de defesa tentaram fazer uma acareação entre Badan e Molina, mas o juiz Roberto Moura negou o pedido. Eles são desafetos, tendo se contraposto em diversos outros casos.
Molina depôs como testemunha da acusação dos policiais militares, e Badan foi convidado pela defesa para explicar o seu parecer. Nos bastidores, os dois trocaram farpas por meio da imprensa.
Em seu depoimento, Molina reafirmou seu laudo feito em setembro de 2000. A fita do confronto, com 9 minutos e 11 segundos, foi desmembrada em 33 quadros, dos quais pelo menos sete mostram que a polícia atirou primeiro, para acertar.
O laudo do foneticista revela que, antes do conflito, dois sem-terra foram feridos e ao menos um foi morto pelas costas depois que a rodovia PA-150 foi liberada. Para Molina, o confronto começou antes do início das gravações. A cena começa com sons de disparos. "Quando começou o tiroteio, a câmera estava no acampamento, mas dá para ouvir rajadas de metralhadora."

Jurados
Nesta primeira etapa, estão sendo julgados os oficiais que comandaram a operação. Os sete jurados -quatro mulheres e três homens- poderiam tomar sua decisão nesta madrugada.
O Ministério Público do Pará quer a pena máxima de homicídio -30 anos- para o coronel Mário Pantoja e o capitão Raimundo Almendra Lameira.
O terceiro oficial no dia do confronto, major José Maria de Oliveira, será julgado em separado na próxima terça-feira.
O advogado Roberto Lauria, que defende os oficiais, disse que "a acusação não tem provas".
A segunda sessão de júri foi marcada o próximo dia 27. Serão julgados 17 PMs: 12 sargentos, quatro tenentes e um cabo da policia. Na terceira sessão, marcada para o dia 10 de junho, serão julgados 129 policiais militares.



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