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QUESTÃO AGRÁRIA
"Não houve massacre", diz Badan; Molina acha tese "meio estranha"
Disputa entre peritos marca julgamento do caso Carajás
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O segundo dia do julgamento
do caso Eldorado do Carajás (PA)
foi marcado pela batalha de laudos entre o médico-legista Badan
Palhares e o foneticista Ricardo
Molina, ambos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Badan afirmou que não houve
massacre. "Não morreram mulheres nem crianças. Em um massacre não se distingue nada", disse ele sobre o confronto ocorrido
em 17 de abril de 96, quando 19
sem-terra foram mortos e 84 pessoas ficaram feridas.
"Não houve massacre. O que
posso afirmar é que as 19 pessoas
que morreram, no meu entender,
foram escolhidas para morrer.
Houve intenção de matar, mas
quem produziu essas mortes?",
perguntou. Segundo ele, oito dos
19 mortos foram feridos com instrumentos cortantes, como foice.
Já Molina afirmou: "A conclusão do laudo dele [Badan" é meio
estranha. Ele diz que a maioria foi
morta por armas brancas e quem
usa é o MST. Então só se pode
concluir que eles mataram uns
aos outros ou se suicidaram".
Molina analisou há dois anos as
imagens do confronto, e Badan
elaborou, em 1996, um parecer
técnico sobre os laudos necroscópicos dos 19 mortos.
Os advogados de defesa tentaram fazer uma acareação entre
Badan e Molina, mas o juiz Roberto Moura negou o pedido. Eles
são desafetos, tendo se contraposto em diversos outros casos.
Molina depôs como testemunha da acusação dos policiais militares, e Badan foi convidado pela
defesa para explicar o seu parecer.
Nos bastidores, os dois trocaram
farpas por meio da imprensa.
Em seu depoimento, Molina
reafirmou seu laudo feito em setembro de 2000. A fita do confronto, com 9 minutos e 11 segundos, foi desmembrada em 33 quadros, dos quais pelo menos sete
mostram que a polícia atirou primeiro, para acertar.
O laudo do foneticista revela
que, antes do conflito, dois sem-terra foram feridos e ao menos
um foi morto pelas costas depois
que a rodovia PA-150 foi liberada.
Para Molina, o confronto começou antes do início das gravações.
A cena começa com sons de disparos. "Quando começou o tiroteio, a câmera estava no acampamento, mas dá para ouvir rajadas
de metralhadora."
Jurados
Nesta primeira etapa, estão sendo julgados os oficiais que comandaram a operação. Os sete jurados -quatro mulheres e três
homens- poderiam tomar sua
decisão nesta madrugada.
O Ministério Público do Pará
quer a pena máxima de homicídio -30 anos- para o coronel
Mário Pantoja e o capitão Raimundo Almendra Lameira.
O terceiro oficial no dia do confronto, major José Maria de Oliveira, será julgado em separado
na próxima terça-feira.
O advogado Roberto Lauria,
que defende os oficiais, disse que
"a acusação não tem provas".
A segunda sessão de júri foi
marcada o próximo dia 27. Serão
julgados 17 PMs: 12 sargentos,
quatro tenentes e um cabo da policia. Na terceira sessão, marcada
para o dia 10 de junho, serão julgados 129 policiais militares.
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