São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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Análise

Lula canta êxito econômico cem anos atrasado

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como Lula, Rodrigues Alves governou o país, há mais de cem anos, com inflação baixa, dívida externa sob controle, exportações em alta, ortodoxia monetária e fiscal, queixas do setor produtivo contra o câmbio desfavorável e a proposta de acelerar o crescimento econômico com um plano de obras em infra-estrutura.
À diferença de Lula, só Rodrigues Alves poderia ter afirmado o que o petista afirmou na entrevista coletiva de ontem: "Nós vivemos o melhor momento da economia de toda a história da República" -e, ainda assim, porque em seu governo (1902-1906) a República, proclamada em 1889, ainda não contava duas décadas.
Morto em 1919, o quinto presidente brasileiro não pôde ver o país se transformar de economia agrícola em industrial, disputar com o Japão as maiores taxas de crescimento do mundo entre 1950 e 1980 e reduzir pela metade seus índices de pobreza ao longo da década de 70 do século passado.
Nascido em 1945, Lula pode ilustrar a urbanização vertiginosa e as possibilidades de ascensão social dos anos seguintes, quando também começam a ser apuradas as séries estatísticas mais confiáveis sobre a economia brasileira.
No final da década de 60, quando o migrante nordestino começou sua carreira no sindicalismo industrial, os pobres representavam aproximadamente 70% da população brasileira. Depois do "milagre econômico" da ditadura militar, minimizado ontem pelo petista, o percentual havia caído para 35% em 1980, ano da fundação do PT.
Na década seguinte, apelidada de "perdida", o colapso do desenvolvimentismo dá início a um período de estagnação econômica não superado até hoje -mesmo Lula, como fez ontem, reconhece que o crescimento ainda deixa a desejar.
Os anos 90 são marcados por crises externas e domésticas que abortam as tentativas de retomada econômica. Ainda assim, o país inicia um processo de redução da inflação, da pobreza e, pela primeira vez documentada pelas estatísticas, da desigualdade social.
Como Rodrigues Alves, Lula teve a sorte de assumir o governo em um cenário internacional favorável. O primeiro se aproveitou da explosão das exportações da borracha; o segundo, de uma alta generalizada dos preços globais dos produtos primários.
Superávits comerciais vigorosos e capitais atraídos pelos juros mais altos do mundo respondem pela maior parte dos sucessos e fracassos da economia lulista. O dólar barato responde pela inflação baixa e pelo controle da dívida externa, mas também freia a atividade econômica e a geração de empregos. Rodrigues Alves, ao menos, conseguiu crescimento ainda em seu primeiro governo -ele morreu antes de iniciar o segundo.


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