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Campanha de Dilma usa segurança irregular
Grupo CR 5 Brasil Segurança, de São Paulo, presta serviços em Brasília, mas não tem filial na capital, como exige a lei
Empresa possui alvará para prestar serviço de segurança patrimonial, mas não tem autorização para oferecer segurança pessoal privada
MATHEUS LEITÃO
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A empresa contratada pelo
PT para fazer a segurança da
pré-candidata do partido à Presidência, Dilma Rousseff, atua
de forma irregular em Brasília.
O contrato foi acertado com o
grupo CR 5 Brasil Segurança,
de São Paulo, que recebeu R$
3,1 milhões de órgãos do governo federal entre 2008 e 2009.
A atuação das empresas do
setor é fiscalizada pela Delegacia de Segurança Privada da Polícia Federal. A Folha apurou
que, para fazer o serviço para a
petista, a CR 5 recebe entre R$
100 mil e R$ 120 mil por mês.
Segundo a legislação em vigor (lei 7.102/83 e decretos
posteriores, como a portaria
387/06 da Polícia Federal), para uma empresa paulista prestar serviço em Brasília, ela precisa ter uma filial aberta na cidade, com vários requisitos
-como um cofre para guardar
as armas e um mínimo de funcionários. Esse é o aparato
obrigatório para garantir a qualidade do serviço de segurança.
O grupo CR 5 não cumpre esses requisitos e não iniciou o
processo de abertura de filial.
Isso torna passíveis de multa
tanto a empresa quanto o seu
contratante, o PT. A empresa
pode ainda ser proibida temporariamente de funcionar.
Em São Paulo, ela tem alvará
para realizar o serviço de segurança patrimonial -ou seja, de
estabelecimentos-, mas não
tem autorização para fazer a
segurança pessoal privada, o
serviço de guarda-costas.
A Folha ouviu cinco seguranças da casa e de um dos escritórios de Dilma Rousseff, na
QI 7 e na QL 24 do Lago Sul, em
Brasília, em dias diferentes.
Todos responderam trabalhar
com a "segurança da pré-candidata por uma empresa de São
Paulo" ou com a "segurança para empresa chamada CR 5".
Diziam ter a carteira nacional de vigilante, específica para
o trabalho de segurança. Um
deles disse ter dado "baixa do
Exército, saído do Gabinete de
Segurança Institucional" da
Presidência da República para
trabalhar na pré-campanha pela empresa paulista.
Os serviços da empresa não
se restringem à casa da ex-ministra Dilma, no Lago Sul. São
executados também em outro
escritório da pré-campanha do
PT em Brasília, no Setor Hoteleiro Sul, dentro das dependências do Hotel Imperial.
Agressividade
A CR 5 foi criada em maio de
2005 e, de acordo com o dono,
Cassiano Rodrigues de Oliveira, é "agressiva no mercado".
Três anos após sua criação,
ela começou, de acordo com o
portal Transparência Brasil, a
ter importantes contratos com
o governo federal.
Passou a atuar para órgãos e
autarquias do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Fazenda e Ministério da Educação.
Somados, os contatos atingiram em 2008 R$ 1,3 milhão.
São contratos para realizar a
segurança do escritório da Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) em São
Paulo, da Universidade Federal
de São Carlos, da Delegacia da
Receita Federal em Taubaté e
do Centro Federal de Educação
Tecnológica de São Paulo.
No ano de 2009, o valor para
os mesmos contratos aumentou para R$ 1,8 milhão. O dinheiro gasto com a CR 5 no
Centro Federal de Educação
Tecnológica de São Paulo aumentou 93%, de R$ 328 mil para R$ 635 mil.
Também subiu o valor do
contrato com a Universidade
Federal de São Carlos, que passou de R$ 285 mil para R$ 394
mil, um aumento de 38%. Em
2010, já foram liberados R$ 872
mil para a empresa pelos mesmos contratos.
Campanha política e serviço
de segurança já renderam problemas para o PT no passado.
Em 2006, o então assessor especial da Secretaria Particular
da Presidência, Freud Godoy,
pediu demissão após ter o nome envolvido na compra de
dossiê falso com informações
contra políticos do PSDB.
Freud, ex-segurança de Lula,
não foi indiciado no caso.
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