São Paulo, sábado, 16 de maio de 1998

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NORDESTE
Ação ocorreu em Bezerros, um dia após a Justiça Federal negar o pedido de prisão a líder do movimento
MST volta a fazer saque em Pernambuco

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Agricultores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) promoveram ontem o primeiro saque em Pernambuco após a ameaça de prisão de seus líderes, feita no dia 9 passado pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros.
A ação ocorreu em Bezerros, no agreste pernambucano, um dia após a Justiça Federal negar o pedido de prisão do líder dos sem-terra João Pedro Stedile.
O alvo escolhido foi o Mercadinho São José, localizado em frente à prefeitura, no centro da cidade. Segundo a Polícia Militar, cerca de cem pessoas participaram da invasão. Não houve confronto, nem feridos. Ninguém foi preso.
Em depoimento à polícia, o proprietário do estabelecimento, Enoque Izidio da Silva, disse que foi surpreendido com a chegada do grupo, às 8h20, e ameaçado com uma foice por um dos saqueadores.
De acordo com Silva, os invasores permaneceram cerca de cinco minutos no mercado. Nesse período, afirmou, roubaram aproximadamente 1.200 quilos de alimentos. O prejuízo foi de R$ 8.000.
A PM foi alertada, mas não conseguiu deter os saqueadores, que fugiram em dois caminhões de placas não anotadas. Os veículos estavam estacionados a cerca de cem metros do estabelecimento.
A Polícia Civil registrou a queixa, mas não abriu inquérito porque os policiais da instituição entraram em greve ontem por melhores salários, em todo o Estado.
O governador Miguel Arraes (PSB) disse que é contra a repressão policial aos saques. "Todos nós devemos evitar que se pense que repressão resolve essas questões. Às vezes pode até agravar."
Os dois únicos saqueadores presos até agora no Estado sob acusação de furto, Luiz da Silva e Ismael Ciro Luiz, ligados ao MST, foram soltos terça-feira passada por meio de habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça.
O MST em Pernambuco confirmou a participação da entidade no saque de ontem e afirmou que as ações vão continuar, enquanto não houver solução para a fome.
"Os saques vão ocorrer independentemente de o MST estar ou não presente", disse Carlos Brasileiro, da coordenação estadual.
Segundo o MST, há focos de tensão, com risco de novos saques, em vários municípios do Estado, como Santa Maria da Boa Vista, Petrolina e Arcoverde.
Brasileiro afirmou desconhecer a denúncia feita pelo dono do mercado saqueado, que disse ter sido ameaçado com uma foice por um dos saqueadores.



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