São Paulo, sábado, 16 de maio de 1998

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REFORMA
Presidente, que fez a declaração sobre aposentados com menos de 50 anos, tenta diminuir estrago da frase
FHC se explica na TV sobre 'vagabundos'

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem pronunciamento em rede nacional de TV para tentar reduzir os estragos em sua imagem provocados pela afirmação de que são "vagabundos" os que se aposentam antes dos 50 anos de idade.
"Não quero que uma palavra mal compreendida traduza de forma equivocada o imenso respeito que tenho por todos aqueles que trabalham e pelos aposentados que trabalharam uma vida inteira. Pessoas que começam muito cedo, aos 14, 15 anos, para ajudar suas famílias", disse.
Segundo FHC, é "evidente" que essas pessoas têm direito a uma justa aposentadoria. "Não são esses trabalhadores e aposentados que eu critico. O que eu critico, e vou continuar criticando sempre, são os privilégios. Pessoas que trabalham 20, 25 anos e se aposentam ainda jovens e com salários altos", afirmou.
O ataque às aposentadorias consideradas precoces foi feito na última segunda-feira, durante palestra no Rio de Janeiro.
"Fiz a reforma da Previdência para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis", afirmou, ao abrir o 10º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos.
A declaração do presidente teve péssima repercussão, mesmo entre os aliados do governo. Na terça-feira, os telefones do Palácio do Planalto ficaram congestionados com reclamações de pessoas que se sentiram ofendidas.
No mesmo dia, FHC voltou a gerar descontentamentos ao tentar se explicar: afirmou que os "vagabundos" a que havia se referido eram os antigos "marajás".
"Ou seja, as pessoas que ganham bastante, têm vida boa e que se aposentam para pegar outro emprego", acrescentou.
Ao criticar as aposentadorias precoces, o presidente acabou dando munição para a oposição. Entre os que se aposentaram com menos de 50 anos estão aliados e ex-integrantes do governo, como o deputado e ex-ministro da Previdência Reinhold Stephanes (PFL-PR) e o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge.
No pronunciamento de ontem, FHC comemorou a aprovação de "pontos essenciais"da reforma da Previdência na Câmara, na sessão da última quarta-feira.
"Faço questão de reafirmar, mais uma vez, a contribuição fundamental dos deputados e senadores nessa luta para transformar o Brasil em um país mais justo", afirmou.
Ele também procurou tranquilizar os atuais aposentados, ressaltando que, no caso deles, os direitos adquiridos serão preservados. "Nada vai acontecer com a sua aposentadoria."
Segundo FHC, com a reforma da Previdência e com "as outras" que estão sendo feitas, "vai sobrar mais dinheiro para gastar em saúde, educação e moradia".



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