São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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Vice aposta em indústria de ovos, frangos e leite para gerar empregos

Paulinho diz desconhecer o programa de Ciro Gomes

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 46, vice na chapa do presidenciável Ciro Gomes (Frente Trabalhista) e presidente licenciado da Força Sindical, quer ser um vice diferente "dos que estão aí".
Na política, defende a renegociação da dívida interna -o que possibilitaria cortar os juros para menos de 10% ao ano. No sindicalismo, aposta no agribusiness, com a criação de uma "poderosa" indústria de leite, ovos e frangos -uma saída para gerar empregos e assentar famílias no campo.
Apesar de ainda desconhecer o programa de governo do partido ao qual se aliou -"vamos discutir isso neste final de semana"- diz que tem propostas próprias e vai trabalhar com autonomia para colocá-las em prática.
Dona de orçamento anual de R$ 2,4 milhões, a central de Paulinho tem 1.696 sindicatos filiados, que representam 16,7 milhões de trabalhadores. A seguir os principais trechos da entrevista:
 

Folha - O que o sr. pretende fazer como candidato a vice-presidente?
Paulinho
- Não preciso ficar junto com o Ciro o tempo todo. Sou um vice diferente, com mais autonomia, não como os que estão por aí. Tenho condições hoje de andar sozinho pelo país.

Folha - O que o sr. pretende dizer aos trabalhadores?
Paulinho
- Minha função é ganhar votos defendendo jovens, trabalhadores e aposentados.

Folha - Quais são as suas propostas para os mais jovens?
Paulinho
- Vou defender que o governo dê incentivo fiscal às empresas para contratar jovens. Defendo ainda que se acabe com o serviço militar obrigatório.

Folha - Qual é a fórmula para acabar com o desemprego?
Paulinho
- Para acabar com o desemprego que ocorre em função da política econômica, é preciso renegociar a dívida interna e alongar seus prazos de pagamento. Muitos alegam que são muitos os credores. Mas 80% da dívida está nas mãos de três setores pequenos... Os bancos, por exemplo, você chama e resolve.

Folha - O que é preciso já que essa questão é de fácil solução?
Paulinho
- Precisa-se de um governo eleito, com vontade e com coragem para enfrentar esse povo. Pagar [a dívida", mas dentro das condições do país. Assim você consegue baixar os juros e volta a ter crescimento econômico.

Folha - Qual a sua proposta para resolver o desemprego causado pelas mudanças tecnológicas?
Paulinho
- Tem de haver redução de pelo menos 10% da jornada de trabalho, uma diminuição de quatro horas. Seriam criados 1,7 milhão de empregos.

Folha - O sr. falou que os aposentados também são prioridade...
Paulinho
- O déficit é de R$ 40 bilhões, somando as previdências municipais e federal. No INSS, o déficit deve chegar neste ano a R$ 18 bilhões.

Folha - O que pretende fazer?
Paulinho
- Tem de ter reforma profunda, com Previdência única no sistema público e privado para acabar com todo e qualquer privilégio. O teto tem de ser de até dez mínimos. Quem quiser mais que isso vai para os fundos de pensão. Outra proposta é tirar a Previdência da folha de pagamento.

Folha - Essa proposta é do programa do Ciro?
Paulinho
- Não sei se isso está no programa dele. Ainda não tivemos tempo de discutir. Devemos nos encontrar no domingo [hoje" para conversar um pouco sobre essas propostas.

Folha - O sr. apoiou o governo FHC. Por que decidiu ser vice em uma chapa de oposição?
Paulinho
-Apoiei FHC desde que chegou ao Brasil em 78. Fui um dos coordenadores de sua campanha na eleição passada. O problema é que ele se comprometeu a acabar com o desemprego, mas o desemprego aumentou. Se comprometeu a fazer as reformas da Previdência e tributária, mas não fez. É meu amigo, mas não cumpriu os compromissos conosco. Eu já disse a ele que seu candidato é muito ruim. Tenho até dúvidas de como ele [José Serra" vai tratar o sindicalismo.

Folha - Quais são seus planos políticos?
Paulinho
- Vamos resgatar o trabalhismo no Brasil. As conquistas que os trabalhadores têm hoje devem-se ao PTB, ao partido unificado lá trás, com Getúlio Vargas.

Folha - A frente será rival do PT?
Paulinho
- Queremos acabar com o monopólio do PT. Nós vamos unificar o PTB com o PDT, e há grandes possibilidades de o PPS se juntar a essa frente. Nós [da Força" temos influência sobre os trabalhadores, mas sem radicalismo. Não precisamos fazer o que o PT está mostrando hoje.

Folha - O que o PT está fazendo?
Paulinho
- Está tentando se mostrar como um bom moço para a sociedade, comprando até terno de primeira linha. Não preciso mostrar que sou bom moço, fiz isso a vida inteira. Fiz um sindicalismo de negociação. Tenho boa relação com os empresários.

Folha - Essa relação próxima aos empresários é muito criticada...
Paulinho
- Isso faz parte do nosso sindicalismo, de negociação e parceria.

Folha - A Força também é criticada por gastar R$ 3,5 milhões nas comemorações do 1º de Maio.
Paulinho
- O gasto da Força é zero. Os anunciantes investem onde há público. Nossa festa é transmitida para 112 países do mundo. Vendemos anúncio como qualquer empresa. A CUT critica, mas também já fizeram shows neste ano. Desde os anarquistas, nas comemorações do 1º de Maio, há sorteios de galinhas, ovos e bicicletas. O que fizemos foi copiar um pouco do anarquismo e um pouco do Silvio Santos.

Folha - Como o sr. vê o problema de erros nos extratos do FGTS?
Paulinho
- O problema do FGTS está dentro do que eu esperava.

Folha - Por que esses problemas estão ocorrendo?
Paulinho
- Acho que algum esperto fez as contas erradas, pensando que, se tirasse um pouco de cada um, ninguém perceberia.

Folha - O acordo é bom?
Paulinho
- É ótimo.

Folha - O que o sr. tem a dizer sobre o suposto envolvimento da central no uso irregular de recursos do FAT?
Paulinho
- Estamos tranquilos. Os recursos não ficam com a Força, ficam com o Banco do Brasil. O que fazemos é apenas a fiscalização, com 24 pessoas. Isso nos custa R$ 600 mil por mês.

Folha - No ano passado, surgiu a proposta de criar uma CPI para investigar as contas do FAT. A CUT foi a favor e a Força contra. Por que?
Paulinho
- Nós somos a favor da CPI, mas para todo mundo. As centrais estão tranquilas.

Folha - Quais são os projetos da Força?
Paulinho
- Temos vários projetos para tirar as crianças das ruas. Em Piracicaba, por exemplo, um dos nossos sindicatos tirou as crianças do lixão. Em São Paulo, outro sindicato tirou crianças de favela. O projeto modelo é o Meu Guri, presidido pela minha mulher [Elza Costa Pereira".

Folha - O que é esse projeto?
Paulinho
- Compramos um terreno na Serra da Cantareira e estamos construindo uma casa. Hoje cuidamos de 35 crianças em uma subsede do sindicato no Tucuruvi, mas a meta é abrigar 200. Os trabalhadores adotam essas crianças, contribuindo com R$ 0,40 por mês. O restante vem dos empresários. Cada criança custa em média R$ 450.

Folha - Quanto vai custar o Meu Guri?
Paulinho
- A obra estava orçada em R$ 1,4 milhão, mas vai chegar a um pouco mais. O BNDES emprestou R$ 600 mil, a Ford nos deu um carro para rifar e faremos shows para arrecadar verba.

Folha - Quais são os outros projetos da Força?
Paulinho
- Temos um projeto com o governo para assentar famílias em fazendas. O dinheiro vem pelo Banco da Terra. A Força não compra terra, só escolhe as famílias, que escolhem a terra que querem adquirir, e nós fiscalizamos com nossos técnicos. Técnicos da prefeitura local autorizam a compra da terra e o Banco do Brasil paga o fazendeiro.

Folha - A Força criou uma marca, a Força da Terra, para vender produtos produzidos nessas fazendas. Como se dá essa parceria?
Paulinho
- Orientamos as famílias a formarem grupos para produzir e damos qualificação. Já existem 500 famílias assentadas em 20 fazendas. Os produtos serão comercializados com a marca Força da Terra dentro de quatro meses. Acreditamos que a solução para o emprego no Brasil está no campo, não para plantar feijão, mas para produzir no campo.

Folha - De onde vem o dinheiro?
Paulinho
- O Programa de Agricultura Familiar empresta até R$ 12 mil por família. Organizamos um projeto para emprestar recursos para um grupo de famílias. A terra é em parte coletiva e em parte individual. Damos R$ 3.000 para o trabalhador fazer o que quiser no alqueire dele.

Folha - Como está esse projeto?
Paulinho
- Existem 33 fazendas ativas, com 2.500 vacas e outros animais. A idéia é essa, os homens são donos das vacas, e as mulheres, dos porcos ou vice-versa. Os filhos cuidam de galinhas, peixes e abelhas. Estamos montando uma indústria de mel para vender o produto em saquinhos.

Folha - O que a Força vai ganhar com esses produtos?
Paulinho
- A Força pode ganhar dinheiro quando o processo produtivo estiver montado. Nosso produto vai chegar mais barato na cidade porque não há intermediários. Nosso frango custará metade do preço de um frango da Sadia. Com as 2.500 vacas, temos condições de fornecer milhares de litros de leite por dia. Com as 100 mil galinhas, vamos montar uma poderosa indústria de ovo.

Folha - A Força será dona da produção de frangos, ovos e mel?
Paulinho
- Seremos intermediários na produção. Estamos negociando com os supermercados a compra desses produtos. Sindicatos filiados à Força nos setores de alimentos, churrascarias, bares e restaurantes nos ajudarão a negociar a venda desses produtos.

Folha - Quanto a Força vai cobrar para emprestar sua marca?
Paulinho
- Vamos cobrar uma taxa de 5% a 10%.



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