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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/GOVERNO
Presidente disse que comparações com governos anteriores devem ser feitas só no ano que vem
Lula pede para ser julgado só no final do seu mandato
EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da maior crise política de
sua gestão, motivada por denúncias de corrupção em diferentes
setores, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pediu ontem para
ser julgado apenas ao final de seu
mandato, no ano que vem. Segundo o presidente, a forma como administra o país "deixa muita gente nervosa", mas, mesmo
sob pressão, não irá modificá-la
por "interesses eleitorais".
"Eu tenho dito, todo santo dia:
eu não quero ser medido pela minha passagem pelo governo brasileiro, pela aferição... que falte um
dia. Eu quero que o meu governo
seja aferido a partir do dia em que
ele terminar. Aí, podem fazer
comparação com todos os outros
que vieram antes de nós. E vamos
ver em todas as áreas, em todas,
sem distinção, quem é que fez
mais por este país, quem é que
consolidou as políticas corretas
para este país."
A declaração do presidente
ocorreu ontem no salão nobre do
Palácio do Planalto, durante cerimônia de assinatura da chamada
"MP do Bem", com medidas de
desoneração tributária, por
exemplo. Lula falou de improviso,
por 15 minutos, diante de empresários, parlamentares e ministros.
Durante a fala, por algumas vezes, Lula aumentou o tom de voz e
socou o púlpito à sua frente. Atrás
dele, enquanto isso, o ministro da
Casa Civil, José Dirceu, ora estalava os dedos ora fixava os olhos
nos jornalistas, à sua direita.
Anteontem, enquanto Roberto
Jefferson (PTB-RJ) reafirmava
suas denúncias sobre o pagamento de mesada pelo PT a parlamentares da base aliada da Câmara,
rumores davam conta da saída de
Dirceu do governo, o que foi negado pela Casa Civil.
Ontem, Lula citou duas vezes o
nome de Dirceu. Na primeira, pediu a ele e a outros três ministros a
manutenção do ritmo e da quantidade de reuniões de trabalho.
Depois, parabenizou-os pelo desempenho no governo. O principal elogio, porém, foi exclusivo a
Antonio Palocci Filho (Fazenda):
"O Palocci é uma seda".
O presidente evitou falar das
suspeitas de corrupção nos Correios e em outras estatais, mas
aproveitou para atacar seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, e para se comprometer a
administrar o país sem "interesses eleitorais".
"Nós já dissemos, inúmeras vezes, que fomos eleitos para criar
um novo ciclo de desenvolvimento para este país. Eu sei que isso
deixa muita gente nervosa, porque tem gente que gostaria que as
coisas não tivessem dado certo e
que o Brasil estivesse hoje quebrado como esteve duas vezes antes
de nós assumirmos."
Em ano pré-eleitoral, período
recheado de denúncias contra o
governo, Lula admitiu a manutenção de uma "política fiscal forte". "Mas um sinal forte que nós
temos que dar, sempre, mesmo
contrariando o interesse de muita
gente, é dizer em alto e bom som
que este país vai manter uma política fiscal forte, que este país vai
gastar apenas aquilo que ele pode
gastar e não aquilo que os interesses eleitorais permitiriam que a
vontade de alguns gastasse."
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