São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/GOVERNO

Presidente disse que comparações com governos anteriores devem ser feitas só no ano que vem

Lula pede para ser julgado só no final do seu mandato

EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante da maior crise política de sua gestão, motivada por denúncias de corrupção em diferentes setores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem para ser julgado apenas ao final de seu mandato, no ano que vem. Segundo o presidente, a forma como administra o país "deixa muita gente nervosa", mas, mesmo sob pressão, não irá modificá-la por "interesses eleitorais".
"Eu tenho dito, todo santo dia: eu não quero ser medido pela minha passagem pelo governo brasileiro, pela aferição... que falte um dia. Eu quero que o meu governo seja aferido a partir do dia em que ele terminar. Aí, podem fazer comparação com todos os outros que vieram antes de nós. E vamos ver em todas as áreas, em todas, sem distinção, quem é que fez mais por este país, quem é que consolidou as políticas corretas para este país."
A declaração do presidente ocorreu ontem no salão nobre do Palácio do Planalto, durante cerimônia de assinatura da chamada "MP do Bem", com medidas de desoneração tributária, por exemplo. Lula falou de improviso, por 15 minutos, diante de empresários, parlamentares e ministros.
Durante a fala, por algumas vezes, Lula aumentou o tom de voz e socou o púlpito à sua frente. Atrás dele, enquanto isso, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, ora estalava os dedos ora fixava os olhos nos jornalistas, à sua direita.
Anteontem, enquanto Roberto Jefferson (PTB-RJ) reafirmava suas denúncias sobre o pagamento de mesada pelo PT a parlamentares da base aliada da Câmara, rumores davam conta da saída de Dirceu do governo, o que foi negado pela Casa Civil.
Ontem, Lula citou duas vezes o nome de Dirceu. Na primeira, pediu a ele e a outros três ministros a manutenção do ritmo e da quantidade de reuniões de trabalho. Depois, parabenizou-os pelo desempenho no governo. O principal elogio, porém, foi exclusivo a Antonio Palocci Filho (Fazenda): "O Palocci é uma seda".
O presidente evitou falar das suspeitas de corrupção nos Correios e em outras estatais, mas aproveitou para atacar seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, e para se comprometer a administrar o país sem "interesses eleitorais".
"Nós já dissemos, inúmeras vezes, que fomos eleitos para criar um novo ciclo de desenvolvimento para este país. Eu sei que isso deixa muita gente nervosa, porque tem gente que gostaria que as coisas não tivessem dado certo e que o Brasil estivesse hoje quebrado como esteve duas vezes antes de nós assumirmos."
Em ano pré-eleitoral, período recheado de denúncias contra o governo, Lula admitiu a manutenção de uma "política fiscal forte". "Mas um sinal forte que nós temos que dar, sempre, mesmo contrariando o interesse de muita gente, é dizer em alto e bom som que este país vai manter uma política fiscal forte, que este país vai gastar apenas aquilo que ele pode gastar e não aquilo que os interesses eleitorais permitiriam que a vontade de alguns gastasse."


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