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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI
Por 17 votos a 15, aliados elegeram Delcídio Amaral (MS) para presidente, que indicou como relator Osmar Serraglio (PMDB-PR)
Governo controla presidente e relator da CPI
FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com duas traições na
base aliada, o governo conseguiu
eleger ontem, por 17 a 15, o presidente da CPI dos Correios e indicar seu relator. Dominando os
dois principais cargos da comissão, o governo vai controlar a
condução das investigações.
Na disputa pela presidência, o
líder do PT, senador Delcídio
Amaral (MS), derrotou o candidato da oposição, senador César
Borges (BA). O relator escolhido
foi o deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), ligado ao ministro
José Dirceu (Casa Civil). A vice-presidência também ficou com
um governista, o senador Maguito Vilela (PMDB-GO).
Os trabalhos da CPI dos Correios começam na próxima terça-feira com o depoimento do ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração dos
Correios Maurício Marinho. Ele
foi o pivô do escândalo de corrupção na estatal ao ser gravado negociando propina.
Delcídio havia desistido da incumbência anteontem, alegando
não querer dirigir uma comissão
parlamentar de inquérito "chapa-branca". Ele recuou depois de um
apelo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Nenhum governista
consultado se dispôs a substituir
Delcídio na função.
A disputa foi apertada. Por apenas um voto de diferença o governo escapou de um empate na escolha do presidente da CPI. Nesse
caso Borges assumiria a função
por ser mais idoso. "Nem todos
perceberam o ar de estupefação
da base do governo quando foi
anunciado o resultado, por apenas um voto", disse o líder do
PFL, senador José Agripino (RN).
Não foi respeitado o direito do
bloco PSDB/PFL, maior bancada
no Senado, de ocupar um dos
postos-chave da CPI. "A proporcionalidade não pode preponderar sobre avaliações políticas",
disse o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), flexibilizando a tradição.
Mesmo tendo se posicionado
contra o acúmulo da presidência
e da relatoria pelo governo, Delcídio refutou, depois de eleito, a tese
de manipulação na CPI. "Nosso
compromisso é com a lisura, a
isenção, o equilíbrio e a serenidade na apuração dos fatos, doa a
quem doer", afirmou Delcídio.
Já há 84 requerimentos de convocação e de quebras de sigilo fiscal, bancário e telefônico na CPI.
O relator afirmou ser a favor da
quebra de sigilos do tesoureiro do
PT, Delúbio Soares, e do presidente do PTB.
"Exercerei a imparcialidade no
limite das minhas possibilidades e
energia", disse Serraglio ao ser
empossado. "Devemos dizer não
ao abafa, ao cisma. Esse vai ser o
mote da comissão." Tanto o presidente quanto o relator da comissão pretendem restringir as investigações aos Correios. "Por enquanto é só Correios, não tem IRB
[Instituto de Resseguros do Brasil]", disse Serraglio.
A intenção também é não expandir para o chamado "mensalão" os trabalhos da CPI. "Como o
mensalão conduz à investigação
de mandato de deputado, isso talvez seja competência da Câmara",
afirmou o relator.
O roteiro de trabalho da CPI, a
princípio, é ouvir os diretores dos
Correios após o depoimento de
Maurício Marinho. Só depois seria convocado o deputado Roberto Jefferson, principal fonte de denúncias de supostos esquemas de
corrupção no governo. Se depender dos governistas, no entanto,
ele vai depor na condição de réu,
ao contrário do que ocorreu anteontem no Conselho de Ética da
Câmara dos Deputados, quando
distribuiu acusações.
A preocupação com a imagem
do Legislativo permeou ontem os
debates sobre a condução dos trabalhos da CPI. "O Congresso sairá
enxovalhado ou dignificado dessa
comissão. Tenho certeza de que
ele [Delcídio] dignificará o Congresso", disse o senador Jefferson
Péres (PDT-AM).
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