São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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BASTIDORES

Aliados vêem "desorganização" na campanha tucana, ameaçada pela volta do fantasma da falta de unidade

Cúpula do PMDB cobra de Serra "correção de rumo"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PMDB, partido que se aliou a José Serra, vai cobrar da campanha presidencial tucana uma correção de rumos do que considera improviso, desorganização e falta de estrutura.
"Estou indo a Brasília amanhã [hoje" para procurar o comando da campanha do Serra e o próprio candidato porque o PMDB acredita que é preciso que os rumos sejam corrigidos", diz Geddel Vieira Lima (BA), líder peemedebista na Câmara e um dos principais aliados do tucano no partido.
Além das queixas do PMDB, outros dois problemas imediatos contribuem para gerar uma nova crise na campanha de Serra.
O primeiro: a volta do fantasma da falta de unidade interna no PSDB em torno do candidato ao Planalto, porque setores expressivos do partido têm pelo menos um pacto de não-agressão com Ciro Gomes (PPS), que empatou tecnicamente com Serra nas últimas pesquisas.
O segundo problema é o acúmulo de dívidas com fornecedores de serviços e materiais eleitorais, porque a arrecadação não acompanha o ritmo de gastos. Há candidatos tucanos nos Estados que não conseguiram um adesivo de carro. Em vários Estados, outros candidatos a presidente já têm outdoors. Menos Serra.

PMDB reclama
Segundo Geddel, que vocaliza um sentimento do núcleo peemedebista que lutou internamente para apoiar o tucano, a campanha está sendo feita com "improviso" e "descoordenação".
O líder do PMDB na Câmara resolveu pedir a reunião com Serra e o comando tucano depois de consultar outros dirigentes, a fim de trazer uma posição partidária. "Queremos dar sugestões e fazer críticas construtivas", afirma.
Como exemplo de improviso e descoordenação, Geddel cita ter sido avisado às 17h da última sexta-feira de que Serra iria à Bahia no dia seguinte.
"Já tinha outros compromissos e não pude acompanhar o Serra. A campanha precisa preparar melhor esses tipos de evento para que votos sejam conquistados efetivamente. Assim não dá", afirma o peemedebista.
A Folha apurou que, a exemplo de outros Estados, seções regionais do PSDB e do PMDB não têm recebido recursos supostamente prometidos pelo comando serrista para a organização de atos de campanha.
Reservadamente, outros caciques do PMDB disparam contra o que chamam de ambiguidade de candidatos tucanos a governos estaduais e ao Senado. Para os peemedebistas, Serra precisa cobrar maior fidelidade dos tucanos, especialmente dos que têm alianças regionais com Ciro.
Aécio Neves, que postula o governo de Minas; Tasso Jereissaiti, candidato ao Senado no Ceará, e Marconi Perillo, governador que disputa a reeleição em Goiás, são apontados como tucanos que alimentam a onda Ciro.
O candidato do PPS cresceu nas pesquisas. No último Datafolha, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderou com 38%. Serra teve 20%. Ciro marcou 18%. E Anthony Garotinho (PSB), 13%.
Para o PMDB, as boas relações de Ciro com alguns setores do PSDB, ainda que minoritários, podem transmitir a idéia de que Serra será abandonado pelo partido e de que o candidato do PPS será o anti-Lula da vez.



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