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Ciro erra ao dizer que resgatou dívida do CE
GUSTAVO PATÚ
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidenciável Ciro Gomes
(PPS) superfatura seus feitos no
governo do Ceará ao afirmar que,
durante sua gestão (1991-94), pagou toda a dívida em títulos (mobiliária) do Estado.
"Eu fui o único caso de administrador público brasileiro que pagou 100% da dívida mobiliária do
seu Estado, quando fui governador do Ceará, com 15 anos de antecedência", disse, em entrevista
ao "Jornal Nacional", na última
segunda-feira.
O próprio site do candidato na
internet (www.ciro23.com.br)
conta a história em outros termos:
os títulos da dívida cearense teriam sido comprados por meio da
corretora do Banco do Estado do
Ceará, que na época pertencia ao
governo do Estado.
À primeira vista, parece a mesma coisa. Se o Ceará devia a seu
banco, a dívida, na prática, não
existia mais.
A diferença, no entanto, ficou
clara quando o Ceará fez em 97
acordo com a União para federalizar sua dívida mobiliária, que somava, em valores da época, R$ 114
milhões. Os valores estão relacionados na resolução 123 do Senado, de dezembro de 97.
Na época, o governo conduzia
um programa de socorro pelo
qual assumia as dívidas estaduais
com o mercado; os Estados passavam a dever à União, mas em condições favorecidas de prazos (até
30 anos) e juros (6% ao ano).
Os custos da dívida mobiliária
cearense, portanto, não acabaram
com Ciro. Foram, isso sim, transferidos mais tarde à dívida federal
-o que não teria ocorrido se a dívida do Estado tivesse mesmo sido "100% paga".
Mauro Benevides Filho, que foi
secretário do Planejamento de Ciro e hoje é seu assessor econômico, não contesta esses fatos.
Ele argumenta, porém, que os
valores envolvidos na operação
são irrisórios se comparados ao
socorro concedido pelo governo
aos demais Estados. São Paulo,
por exemplo, federalizou dívidas,
em títulos inclusive, que em 97
passavam dos R$ 50 bilhões.
Segundo seu raciocínio, o programa de subsídios às dívidas estaduais favoreceu os Estados que,
ao contrário do Ceará, não adotaram políticas prudentes de endividamento.
Benevides Filho considera ainda que a compra dos títulos cearenses pelo BEC configura, sim,
um resgate total da dívida mobiliária, uma vez que, na gestão Ciro, o Estado ficou livre do custo
dos papéis.
Dados oficiais, entretanto, lançam dúvidas também sobre essa
afirmação. As estatísticas do Banco Central apontam que a dívida
em títulos do governo do Ceará
passou de R$ 34 milhões, no final
de 1990, para R$ 50 milhões em
dezembro de 94, em valores corrigidos até a última data.
Ainda pelos números do BC, no
final de 94, quando Ciro vivia sua
experiência de menos de quatro
meses no Ministério da Fazenda,
apenas R$ 10 milhões em títulos
cearenses estavam em poder de
bancos estaduais.
Os dados sugerem que a compra dos títulos pelo BEC -que,
hoje federalizado, está com a privatização marcada para setembro
deste ano- só tenha sido concluída na gestão seguinte, de Tasso Jereissati (PSDB).
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