São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Empresário depõe em CPI e diz que vai exigir, em juízo, acareação com quem o acusa de receber propinas

Verba era para pagar concessão, diz Ronan

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
O empresário Ronan Maria Pinto depõe em CPI que apura esquema de propina em Santo André


LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

O empresário Ronan Maria Pinto apresentou ontem uma versão diferente para os R$ 100 mil mensais que seu ex-sócio João Antônio Setti Braga afirmou que ele próprio pagava como uma espécie de "custo político". Disse que vai exigir, em juízo, acareações com todos os que o acusaram de receber propinas em nome da Prefeitura de Santo André.
Em depoimento à CPI criada para investigar um suposto esquema de extorsão de dinheiro de empresários para financiar campanhas do PT, Ronan disse que os R$ 100 mil definidos por Setti Braga como um "custo político para a empresa Expresso Nova Santo André operar com tranquilidade na cidade" eram "simplesmente" o valor de cada uma das 23 parcelas do contrato de concessão a serem pagos à prefeitura da cidade.
Segundo o contrato, enviado por fax à Folha pelo advogado de Ronan, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, a permissão de uso por dez anos das linhas da Expresso Nova Santo André foi por meio de uma outorga onerosa (direito de utilizar as linhas, mediante pagamento de taxas à prefeitura).
De acordo com o texto, a permissão custou aos sócios R$ 7 milhões, divididos em uma parcela à vista de R$ 4.200, outra de R$ 500 mil e mais 23 de R$ 100 mil.
Setti Braga não foi localizado ontem para comentar a afirmação de Ronan. Segundo sua secretária, ele estaria viajando. Seu advogado, Antônio Russo, foi procurado, mas não ligou de volta.
De acordo com Ronan, as parcelas foram pagas de julho de 1997 a junho de 1999. Já de acordo com Setti Braga, o "custo político" fora pago pelo menos de 1997 até o início de 2000, quando decidiu vender suas cotas da empresa.
Ronan também rebateu a acusação do empresário Sebastião Passarelli, seu ex-sócio na Nova Santo André. Passarelli afirmou à CPI que entregou nas mãos de Ronan, pelo menos uma vez, um "pacote" com R$ 40 mil. Ronan negou que tenha recebido dinheiro de Passarelli. "Em qualquer lugar que botem o Passarelli na minha frente estou disposto a desmenti-lo", disse Ronan.
Passarelli é sócio da família Gabrilli na Expresso Guarará. Rosangela Gabrilli, responsável pela empresa, afirmou à CPI e ao Ministério Público que sua empresa pagava propina de R$ 40 mil por mês à Prefeitura de Santo André.
De acordo com o Ministério Público, Ronan é acusado de ser um dos mentores de um suposto esquema de extorsão na cidade, ao lado do empresário Sérgio Gomes da Silva e do secretário afastado de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Souza. Klinger disse à CPI que não há esquema de propina na cidade.
Durante as duas horas de depoimento, Ronan fez poucos gestos e falou em voz baixa. Só alterou a voz e gesticulou muito para se defender, por quatro vezes, sobre o motivo que estaria levando ex-sócios a o acusarem de extorsão.
Afirmou que seus ex-sócios e os principais acusadores- a família Gabrilli- dizem calúnias por não aceitar que ele tenha agora o monopólio [65%, segundo o próprio Ronan" das empresas de ônibus de Santo André.
"O que estão fazendo comigo é um linchamento moral e público. Gente que não tem pedigree sofre para caramba. É duro de aceitar que alguém possa subir sem ter roubado. Eu não tenho tradição. Aos 25 anos, eles [em referência aos Gabrilli" andavam de Mercedes [o carro", enquanto eu dirigia um Mercedes, mas um caminhão", afirmou Ronan.
Após o depoimento, Ronan afirmou em entrevista ser dono de 11 empresas de ônibus no país. Mas não soube informar o valor de seu patrimônio. "Meu maior patrimônio são os 5.500 empregados que tenho e as famílias que ajudo a sustentar."
Segundo Ronan, por várias vezes ele foi procurado pelos Gabrilli para dar orientação jurídica e financeira para assuntos da empresa Expresso Guarará.
O empresário rebateu com ironia a afirmação de Rosangela Gabrilli de que a prefeitura teria colocado uma nova linha de ônibus em um dos itinerários como retaliação porque ela havia parado de pagar propina. "Eu chamo de inovação isso, não de retaliação."


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