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Queixa dos EUA é ruído
"menor", diz Amorim
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, classificou
de "ruídos menores em um processo que está muito bem encaminhado" as queixas de autoridades norte-americanas sobre declarações feitas pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva no domingo, durante um debate com
governantes da "Terceira Via",
agora rebatizada de "Governança
Progressista".
Lula dissera que "os Estados
Unidos pensam primeiro neles,
segundo neles, terceiro neles e, se
sobrar tempo, pensam neles outra
vez". A observação do presidente
brasileiro foi criticada pelo presidente da Polônia, Aleksander
Kwasniewski, que afirmou que os
EUA também pensam em outros
países, citando o Plano Marshall e
a ajuda aos países do Leste europeu. Neste ano, Kwasniewski autorizou a mobilização de tropas
polonesas em apoio à invasão do
Iraque por forças dos EUA.
A embaixadora dos Estados
Unidos no Brasil, Donna Hrinak,
declarou ao jornal "O Estado de S.
Paulo", ontem, que "a declaração
do presidente Lula não reflete o tipo de relação de colaboração que
ele e o presidente Bush estabeleceram durante sua bem-sucedida
visita a Washington, no mês passado".
Ontem, o chanceler Amorim
disse que Lula apenas afirmou
que "os Estados Unidos sabem
defender os seus interesses e que é
isso que devemos fazer".
De fato, foi esse o contexto da
frase mais pesada. Mas, ao longo
de uma resposta prolongada sobre os Estados Unidos e seu papel
no mundo, Lula fez outras observações que acabaram por criar a
impressão de um ataque aos Estados Unidos.
Falou, por exemplo, de Cuba,
para dizer que o embargo é uma
"questão política", destinado a
contentar os eleitores de origem
cubana que vivem na Flórida. Tal
posição causa mesmo "ruído",
ainda mais depois que o embaixador brasileiro em Cuba, Tilden
Santiago, defendeu a prisão de
oposicionistas.
Por isso, o próprio ministro trata de dizer que o embaixador fizera "uma reinterpretação" das afirmações anteriores e que a posição
do governo não mudou: "Defendemos os direitos humanos e a
democracia, mas reconhecemos
avanços na área social e achamos
que boa parte dos problemas de
Cuba se deve ao embargo [norte-americano ao país]".
O assessor diplomático de Lula,
Marco Aurélio Garcia, também
insiste em que houve má interpretação. "A reação da embaixadora
mostra que ela está se baseando
em uma versão descolada do contexto", afirma.
O assessor presidencial diz que
"o Brasil está apostando numa
boa relação com os Estados Unidos". Mais: Lula valoriza, sabidamente, relações interpessoais e está se dando bem com o presidente
norte-americano.
"Logo", diz Garcia, "não faria
um comentário frívolo. Se fosse o
caso, criticaria os Estados Unidos
pelo conteúdo de suas políticas".
( CLÓVIS ROSSI)
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