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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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Queixa dos EUA é ruído "menor", diz Amorim

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, classificou de "ruídos menores em um processo que está muito bem encaminhado" as queixas de autoridades norte-americanas sobre declarações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no domingo, durante um debate com governantes da "Terceira Via", agora rebatizada de "Governança Progressista".
Lula dissera que "os Estados Unidos pensam primeiro neles, segundo neles, terceiro neles e, se sobrar tempo, pensam neles outra vez". A observação do presidente brasileiro foi criticada pelo presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, que afirmou que os EUA também pensam em outros países, citando o Plano Marshall e a ajuda aos países do Leste europeu. Neste ano, Kwasniewski autorizou a mobilização de tropas polonesas em apoio à invasão do Iraque por forças dos EUA.
A embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, declarou ao jornal "O Estado de S. Paulo", ontem, que "a declaração do presidente Lula não reflete o tipo de relação de colaboração que ele e o presidente Bush estabeleceram durante sua bem-sucedida visita a Washington, no mês passado".
Ontem, o chanceler Amorim disse que Lula apenas afirmou que "os Estados Unidos sabem defender os seus interesses e que é isso que devemos fazer".
De fato, foi esse o contexto da frase mais pesada. Mas, ao longo de uma resposta prolongada sobre os Estados Unidos e seu papel no mundo, Lula fez outras observações que acabaram por criar a impressão de um ataque aos Estados Unidos.
Falou, por exemplo, de Cuba, para dizer que o embargo é uma "questão política", destinado a contentar os eleitores de origem cubana que vivem na Flórida. Tal posição causa mesmo "ruído", ainda mais depois que o embaixador brasileiro em Cuba, Tilden Santiago, defendeu a prisão de oposicionistas.
Por isso, o próprio ministro trata de dizer que o embaixador fizera "uma reinterpretação" das afirmações anteriores e que a posição do governo não mudou: "Defendemos os direitos humanos e a democracia, mas reconhecemos avanços na área social e achamos que boa parte dos problemas de Cuba se deve ao embargo [norte-americano ao país]".
O assessor diplomático de Lula, Marco Aurélio Garcia, também insiste em que houve má interpretação. "A reação da embaixadora mostra que ela está se baseando em uma versão descolada do contexto", afirma.
O assessor presidencial diz que "o Brasil está apostando numa boa relação com os Estados Unidos". Mais: Lula valoriza, sabidamente, relações interpessoais e está se dando bem com o presidente norte-americano.
"Logo", diz Garcia, "não faria um comentário frívolo. Se fosse o caso, criticaria os Estados Unidos pelo conteúdo de suas políticas".
( CLÓVIS ROSSI)


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