São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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RANKING DAS NAÇÕES

Especialista defende base de informações fixa para índice

Fonte de dados pode alterar IDH

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é considerado por pesquisadores um valioso instrumento para comparar o estágio do desenvolvimento humano nos países, mas é também um indicador que deixa de lado alguns aspectos da qualidade de vida e que, dependendo da fonte de dados usada, pode elevar ou diminuir artificialmente a posição dos países no ranking.
Anteontem, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza acusou o governo de ter manipulado dados ao fornecer, para efeito de cálculo do IDH, dados de analfabetismo de 2000, em vez de trabalhar com os de 2002 (o relatório do IDH de 2004 trabalha, em sua maioria, com dados de 2002).
Caso o governo utilizasse os dados de 2002 (que indicam uma taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais de 11,8%), em vez dos dados de 2000 (que indicam uma taxa de 13,6%), o IDH brasileiro pularia de 0,775 para 0,779, o que faria com que o país melhorasse no ranking e subisse da 72ª posição para a 68ª.
O IDH é calculado por uma fórmula que leva em conta os indicadores de analfabetismo, taxa bruta de matrícula nos três níveis de ensino, expectativa de vida e PIB per capita.
A melhoria mais significativa no ranking, porém, ocorreria se a ONU usasse como dado para a expectativa de vida a média mais recente divulgada pelo IBGE. A ONU utilizou no relatório a expectativa de vida de 68 anos para o Brasil em 2002. No entanto, os dados da Tábua de Mortalidade de 2002 do IBGE indicam que a expectativa de vida do brasileiro já chegou a 71 anos. A ONU não explicou ontem como chegou ao primeiro número.
Dados tabulados pelo economista e professor da UFRJ Marcelo Paixão mostram que, se o Pnud (órgão da ONU que faz o cálculo do IDH) utilizasse a expectativa de vida de 71 anos, o Brasil daria um salto da 72ª posição para a 55ª colocação e teria um IDH de 0,797, muito próximo do índice de 0,800, que indica um estágio alto de desenvolvimento humano (quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento).
"O IDH é uma das principais ferramentas que temos para fazer análises comparativas entre países e é referência obrigatória para qualquer pesquisador do tema. No entanto, o ideal seria criar uma base de dados fixa para que o índice não fique sujeito a oscilações por causa da mudança da fonte dos números", diz Paixão.
Além de estar sujeito a variações por causa da mudança na base de dados, o IDH não leva em conta alguns aspectos da qualidade de vida. A expectativa de vida já é calculada em vários países levando em conta o tempo de vida que a pessoa viverá com qualidade.
No caso brasileiro, esse cálculo só pode ser feito a partir do Censo 2000 do IBGE. Em 2000, a expectativa de vida do brasileiro era de 68,6 anos, mas a expectativa sem incapacidade era de 54 anos -o brasileiro vive, em média, 21,3% da vida com menos qualidade.
Outro aspecto que não é considerado é a qualidade da educação.

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