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Bolsa Família tem problemas em 90% de cidades auditadas
CGU fiscalizou programa em 120 municípios e flagrou irregularidades em 108 deles
Pagamento a beneficiados cuja renda supera a exigida pelo governo é o problema mais comum; ministério diz ter tomado providências
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
Auditorias feitas pela CGU
(Controladoria Geral da União)
em cidades de todo o país, escolhidas por sorteio, mostram
que em 90% dos municípios
analisados há irregularidades
na aplicação de recursos do
programa Bolsa Família, do governo federal.
Neste ano, o órgão divulgou
relatórios de fiscalizações dos
repasses da União feitas em 120
cidades. Houve problemas com
o Bolsa Família em 108 delas.
A investigação faz parte do
Programa de Fiscalização de
Municípios, que avalia periodicamente, por sorteio, cidades
com até 500 mil habitantes.
A irregularidade mais comum relativa ao Bolsa Família,
constatada em 70 municípios
visitados por fiscais da CGU, é o
pagamento a beneficiados com
renda superior à estipulada pelos critérios do programa.
A fiscalização também apontou, em outros municípios, casos de beneficiados mortos ou
que estão cadastrados simultaneamente em outros programas, como o Peti (Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil), o que é irregular.
Outro problema constante
foi a não-localização de estudantes ou de responsáveis incluídos no Bolsa Família.
Os fiscais relataram ainda
defeitos no controle do programa e o não-cumprimento de
medidas exigidas pelo governo
federal.
Isso inclui deficiência na verificação da freqüência dos alunos na escola, cadastros desatualizados e não-constituição
de um conselho para administrar ações na área social, conforme prevêem as normas do
Bolsa Família.
Recebem o benefício famílias
com filhos de até 16 anos incompletos e com renda mensal
de até R$ 120 por pessoa. O valor do pagamento depende da
renda e do número de filhos. A
média é de R$ 72 por mês.
Ar-condicionado
As duas últimas edições da
investigação da CGU foram feitas por cerca de 450 fiscais durante o segundo semestre do
ano passado e divulgadas em
março deste ano (com o relatório sobre a situação de 60 cidades) e na semana passada (com
o relatório sobre outras 60).
Os pesquisadores verificaram documentos das prefeituras e realizaram entrevistas
com moradores das cidades
sorteadas.
Um dos casos relatados pelos
fiscais foi a compra pela Prefeitura de Caiçara (PB), com o dinheiro que seria usado no Bolsa
Família, de um aparelho de ar-condicionado para o gabinete.
A prefeitura argumentou à
CGU que havia comprado o
equipamento para o prédio da
Secretária de Assistência Social, que gerencia o programa,
mas, como o local não oferecia
condições para instalação do
aparelho, instalou-o no gabinete da prefeitura.
Em Palmeiras (BA), a coordenadora do programa na cidade aparece na lista de quem recebe o benefício, segundo a auditoria. A prefeitura disse à
CGU que desconhecia o fato e
que iria apurá-lo.
Em duas cidades -Ipaba
(MG) e Jericó (PB)-, os fiscais
constataram que mulheres de
vereadores, que têm renda acima do estipulado, recebiam o
benefício.
Em Pernambuco, no município de Gameleira, a auditoria da
CGU verificou que as famílias
de mais de cem alunos de escolas particulares recebem o pagamento.
Todas as irregularidades
constatadas são encaminhadas
para os ministérios que gerem
as verbas -no caso do Bolsa Família, o Ministério do Desenvolvimento Social.
Também são informados sobre os problemas a Procuradoria Geral da República, as Procuradorias Gerais de Justiça
dos Estados, o Congresso e os
tribunais de contas.
O Bolsa Família atende
atualmente a 11,1 milhões de famílias em todo o país, segundo
o governo federal.
No Orçamento de 2007, foram reservados R$ 8,6 bilhões
para o programa.
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