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Protógenes sofre pressão na PF e deixa caso Dantas
Delegado que comandou operação foi "convidado" pela direção geral a se afastar
Saída vem após críticas da cúpula da polícia de que foram cometidos excessos nas prisões do banqueiro, de Celso Pitta e de Naji Nahas
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
LEONARDO SOUZA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após uma tensa reunião na
Superintendência da Polícia
Federal de São Paulo com delegados enviados pela cúpula da
direção geral da PF, em Brasília, o delegado Protógenes
Queiroz e mais dois delegados
que atuam na Operação Satiagraha deixaram a linha de frente da investigação.
Os dois novos inquéritos que
deverão ser abertos a partir da
investigação principal -que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas- não serão mais
presididos pelos delegados.
De acordo com a versão da
cúpula da PF em Brasília, Queiroz deixou o inquérito porque
na segunda-feira iniciará a etapa presencial do curso superior
da PF. Anteontem, mesmo dia
em que foi definida a saída de
Queiroz, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando
Corrêa, entrou em férias.
Segundo a Folha apurou,
Queiroz foi "convidado" pela
direção geral da PF a se afastar
das investigações por causa de
supostos excessos cometidos
durante a operação.
A reunião que levou à saída
de Queiroz ocorreu anteontem
em São Paulo. Por iniciativa
dos delegados da Satiagraha,
todo o encontro foi gravado.
Participaram da reunião Queiroz e dois dos delegados do caso, Karina Souza e Carlos Pellegrini, o diretor de combate ao
crime organizado da PF de Brasília, Roberto Troncon Filho, o
superintendente em São Paulo,
Leandro Coimbra, e outros seis
delegados federais.
A reportagem apurou que os
delegados da Satiagraha também se sentiram boicotados
pela direção geral, pois aguardavam um reforço de pelo menos 50 agentes desde a segunda-feira passada. O reforço era
esperado pelos delegados para
o serviço de análise, que estima
uma tonelada de equipamentos e papéis apreendidos.
Queiroz desabafou ontem a
amigos que enviou na semana
passada a Brasília uma relação
de agentes que deveriam auxiliá-lo na Satiagraha a partir de
segunda-feira passada, mas,
quando chegou ao trabalho, nenhum agente apareceu.
Para surpresa dos delegados,
em vez de a reunião discutir os
novos rumos da operação, houve apenas reclamações da cúpula da polícia, como o uso de
algemas em alguns dos investigados e o suposto privilégio a
uma equipe de TV. No final do
encontro, foi anunciado que
Queiroz terá de enfrentar duas
apurações internas na PF.
Um dos delegados que participaram da reunião, da DRCOR
(Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros) paulista, perguntou aos enviados de Brasília
se haviam avaliado o impacto
"na sociedade" da notícia da
saída dos investigadores.
"Insustentável"
Apesar dos erros não terem
comprometido o resultado da
operação, a cúpula da PF avalia
que a situação de Queiroz ficou
"insustentável" por conta de
"atos de insubordinação" -como uso indevido de agentes secretos do governo em sua apuração e exposição desnecessária da corporação, como ter supostamente permitido que a
TV Globo filmasse as prisões.
Na reunião de segunda, de
acordo com a versão da PF, ele
disse que não tinha mais interesse em retomar a operação
após o curso, pois passaria a tocar outros projetos, sem informar quais seriam.
O procurador da República
que atua no caso, Rodrigo De
Grandis, lamentou a saída:
"Protógenes fez um trabalho
excelente. Causa um prejuízo
para a investigação a saída do
delegado agora que estamos na
fase de análise de documentos.
Tenho convicção de que a Polícia Federal irá designar um delegado à altura e proporcionar
todas as condições para a execução do trabalho".
O bombardeio contra Queiroz veio de dentro e de fora da
PF. O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes, criticou indiretamente
Queiroz, dizendo que houve
"espetacularização" da ação.
Conforme a Folha antecipou, desde a semana passada
que a cúpula da PF já discutia o
caso. A princípio, os superiores
de Queiroz não queriam que
ele deixasse a operação agora.
Eles temiam chancelar a versão espalhada por Queiroz de
que a cúpula da PF tentou minar a investigação. Mas Corrêa
e chefes de departamento estavam insatisfeitos. Eles apontavam ao menos três excessos
mais graves: a filmagem das
prisões pela TV Globo; o pedido de prisão da jornalista Andréa Michael, da Folha [negado pela Justiça]; e os atos de insubordinação, que incluíram o
auxílio de agentes da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) na investigação sem
que a direção da PF tivesse sido
formalmente informada.
Segundo a PF, a parte prática
do curso a ser freqüentado por
Queiroz começará no dia 21 e
acabará no dia 22 do mês que
vem. Queiroz, segundo a PF,
chegou a entrar com mandado
de segurança para integrar a
turma deste ano, pois havia
perdido o prazo de inscrição.
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