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JANIO DE FREITAS
Falta de escrúpulos
O confronto entre os procuradores da República que
trabalham no caso TRT/Eduardo Jorge Caldas Pereira e, de outra parte, o Banco Central, há
uma diferença muito sugestiva
entre os oponentes: em relação
ao BC, os procuradores só se referem a datas e fatos objetivos; o
BC, por intermédio do seu presidente, Armínio Fraga, só emite
insultos para falar de sua ineficiência no fornecimento dos dados pedidos e indispensáveis à
investigação.
Talvez com as lembranças
postas na especialidade que é a
especulação internacional exploradora de países subdesenvolvidos, Armínio Fraga já acusara os procuradores de "falta
de escrúpulos". Não de escrúpulos, simplesmente. "Escrúpulos
políticos". Seja lá o que quisesse
dizer com o penduricalho adjetivo, o insulto tinha ao menos a
originalidade de partir logo de
quem -o presidente do banco
oficial que torrou uns R$ 30 bilhões em "socorro" a banqueiros
riquíssimos antes, ainda e para
sempre.
Armínio Fraga quis recepcionar com um preventivo oral os
representantes da subcomissão
do Senado, que ontem lhe foram
pedir um pouco menos de ineficiência na contribuição devida
pelo BC às investigações. O registro de demora e falhas nas
exíguas informações prestadas
pelo BC, segundo Fraga, não expressam senão "ânsia em obter
resultados". Ânsia que esperou
um ano e oito meses pelo cumprimento de uma ordem judicial de fornecimento de dados.
Note-se que, ao se completar um
ano, houve a reiteração da ordem e, ainda assim, passaram-se mais oito meses. Para que afinal aparecessem dados incompletos, com omissões repentinas
e, no todo, incapazes de atender
à finalidade da investigação.
A origem da ânsia, em contraste com a ação do BC, é explicada por Armínio Fraga de modo indireto: "O BC não é uma
organização política". Logo o
Ministério Público e os seus procuradores federais são organização política e, como tal, querem os dados para uso político.
O mesmo se passa com os jornalistas que registram ou criticam
a lerdeza e a ineficiência do BC.
E até os senadores da bancada
governista na subcomissão, o
presidente Renan Calheiros e o
relator José Jorge, estão assaltados pela ânsia mal intencionada.
É muito reconfortante, porém,
concordar com Armínio Fraga,
como se dá com o motivo da atitude do Banco Central: "Isso é
feito para proteger o cidadão".
Disso não temos, jamais tivemos, a menor dúvida. O cidadão Eduardo Jorge Caldas Pereira, o cidadão Nicolau dos
Santos Neto, o cidadão Luiz Estevão, e demais beneficiários
das dificuldades opostas aos
procuradores que pesquisam os
momentos áureos nas biografias de tão ilustres cidadãos.
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