São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2000


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JANIO DE FREITAS
Falta de escrúpulos

O confronto entre os procuradores da República que trabalham no caso TRT/Eduardo Jorge Caldas Pereira e, de outra parte, o Banco Central, há uma diferença muito sugestiva entre os oponentes: em relação ao BC, os procuradores só se referem a datas e fatos objetivos; o BC, por intermédio do seu presidente, Armínio Fraga, só emite insultos para falar de sua ineficiência no fornecimento dos dados pedidos e indispensáveis à investigação.
Talvez com as lembranças postas na especialidade que é a especulação internacional exploradora de países subdesenvolvidos, Armínio Fraga já acusara os procuradores de "falta de escrúpulos". Não de escrúpulos, simplesmente. "Escrúpulos políticos". Seja lá o que quisesse dizer com o penduricalho adjetivo, o insulto tinha ao menos a originalidade de partir logo de quem -o presidente do banco oficial que torrou uns R$ 30 bilhões em "socorro" a banqueiros riquíssimos antes, ainda e para sempre.
Armínio Fraga quis recepcionar com um preventivo oral os representantes da subcomissão do Senado, que ontem lhe foram pedir um pouco menos de ineficiência na contribuição devida pelo BC às investigações. O registro de demora e falhas nas exíguas informações prestadas pelo BC, segundo Fraga, não expressam senão "ânsia em obter resultados". Ânsia que esperou um ano e oito meses pelo cumprimento de uma ordem judicial de fornecimento de dados. Note-se que, ao se completar um ano, houve a reiteração da ordem e, ainda assim, passaram-se mais oito meses. Para que afinal aparecessem dados incompletos, com omissões repentinas e, no todo, incapazes de atender à finalidade da investigação.
A origem da ânsia, em contraste com a ação do BC, é explicada por Armínio Fraga de modo indireto: "O BC não é uma organização política". Logo o Ministério Público e os seus procuradores federais são organização política e, como tal, querem os dados para uso político. O mesmo se passa com os jornalistas que registram ou criticam a lerdeza e a ineficiência do BC. E até os senadores da bancada governista na subcomissão, o presidente Renan Calheiros e o relator José Jorge, estão assaltados pela ânsia mal intencionada.
É muito reconfortante, porém, concordar com Armínio Fraga, como se dá com o motivo da atitude do Banco Central: "Isso é feito para proteger o cidadão". Disso não temos, jamais tivemos, a menor dúvida. O cidadão Eduardo Jorge Caldas Pereira, o cidadão Nicolau dos Santos Neto, o cidadão Luiz Estevão, e demais beneficiários das dificuldades opostas aos procuradores que pesquisam os momentos áureos nas biografias de tão ilustres cidadãos.


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