São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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Governo vai atrás do prejuízo, diz PT

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT considera que medidas tomadas anteontem pelo Banco Central como a modificação das regras para avaliação de fundos de investimento são um sinal de que o governo está "correndo atrás do prejuízo", por estar consciente das limitações do pacote com o Fundo Monetário Internacional para conter a alta do dólar.
"A impressão inicial do governo sobre o pacote mudou completamente. O BC sinaliza para a sociedade que está se mexendo e correndo atrás do prejuízo para tentar acalmar a situação", disse Guido Mantega, professor da Fundação Getúlio Vargas e um dos principais assessores econômicos do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. Na próxima segunda-feira, Lula e os demais candidatos à Presidência se reúnem com o presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília.
Duas das medidas anunciadas pelo BC são claramente dirigidas a tentar conter a alta do dólar.
Uma delas é abandonar a "marcação a mercado" dos fundos, determinada no final de maio. Agora, novamente os fundos terão seus valores registrados pela expectativa de desempenho futuro e não pela performance atual, ditada pelo mercado.
A provável consequência imediata da medida será melhorar a rentabilidade dos fundos, o que desestimularia investidores de migrar para o dólar, movimento que tem ajudado a pressionar a moeda norte-americana.
Quando a medida foi anunciada, o PT afirmou que não era contrário em princípio a ela, porque daria maior transparência ao funcionamento dos fundos.
Criticou, no entanto, a forma como foi feita, conjugada ao lançamento de Letras Financeiras do Tesouro que foram recusadas pelo mercado, o que contribuiu para aumentar a instabilidade nos fundos de investimento.
Os petistas também atacaram o momento em que a operação foi realizada, no início de um processo eleitoral que era potencialmente instável.
"O BC agora faz um remendo, na tentativa de recuperar a credibilidade junto ao mercado. Mas credibilidade é algo que não se recupera do dia para a noite, com canetadas", declarou Mantega.
Outra das medidas anunciadas pelo governo federal que, segundo o PT, equivalem a uma "corrida atrás do prejuízo" é o aumento do recolhimento de compulsório bancário -ou seja, do dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central.
Com menos dinheiro disponível no mercado, haveria menor espaço para compra de dólares, contribuindo para evitar a alta da moeda. O efeito colateral disso, no entanto, seria menor oferta de crédito e dificuldades maiores para a queda nas taxas de juros, o que tende a dificultar a retomada do crescimento.

Cobrança
No Rio, Lula cobrou mais clareza de FHC a respeito das soluções apresentadas para sair da crise.
A declaração de Lula foi em resposta à cobrança, por FHC, de mais clareza dos candidatos de oposição. "Quem está precisando demonstrar clareza é o presidente da República. Até agora, a única coisa que ele disse é que foi ao FMI. O que nós precisamos ouvir dele é qual o modelo de desenvolvimento do Brasil. Em oito anos de governo a economia não cresceu. Precisamos fazer o Brasil voltar a crescer. A produção tem que substituir a especulação", disse.


Colaborou a Sucursal do Rio


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