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CPI DO BANESTADO
Base do MTB aponta depósitos de ex-diretor de empreiteira
Banco confirma peça-chave
em apuração sobre Maluf
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Transações financeiras registradas na base de dados do MTB
Bank (hoje Hudson Bank) de Nova York (EUA), em poder da CPI
do Banestado, confirmam parte
do depoimento de uma peça-chave nas investigações sobre a movimentação de recursos no exterior
de Paulo Maluf, candidato do PP à
Prefeitura de São Paulo.
O nome de Simeão Damasceno
de Oliveira, advogado e ex-diretor
financeiro da empreiteira Mendes
Júnior, aparece no CD do MTB
-enviado pelas autoridades
americanas ao Congresso Nacional- como autor de sete transferências, no valor total de US$ 485
mil, para contas da agência nova-iorquina do MTB em nome das
empresas Venus International e
Solid Financial.
No mesmo MTB consta o registro de um depósito de US$ 406,5
mil para o "beneficiário" "Maluf
Paolo Salim", identificado pelo
endereço residencial correto do
candidato, como a Folha revelou
na última sexta-feira.
Localizado ontem pela reportagem, por telefone, Oliveira não
negou nem confirmou as transferências. Indagado se se recordava
das operações, desconversou: "Eu
não gostaria de falar sobre esse assunto". Em nota divulgada ontem
a respeito do assunto, o ex-prefeito de São Paulo acusou "o repórter da Folha" de estar "a serviço
de algum partido político interessado no resultado da eleição para
prefeito de São Paulo" (leia texto
nesta página).
Em três depoimentos prestados
em 2002 aos promotores de Justiça de São Paulo, Oliveira havia dito que fizera depósitos no MTB e
em outros dois bancos, o Citibank
nova-iorquino e o "Safra de Genebra", na Suíça, com recursos supostamente desviados da obra de
construção da antiga avenida
Água Espraiada (hoje Jornalista
Roberto Marinho). Segundo ele, o
dinheiro iria para contas na Suíça
atribuídas a Paulo Maluf.
Oliveira disse que o desvio na
obra chegou a R$ 550 milhões.
Um ano depois, Damasceno
voltou atrás e alterou seu primeiro depoimento. Ele foi ao 12º Cartório de Notas, em São Paulo, local indicado por um advogado de
Maluf, e registrou seu desmentido. À CPI do Banestado, em agosto de 2003, também afirmou que
"acabou falando coisas que não
eram para ser ditas".
De acordo com a base de dados
do MTB, seis, das sete transferências de Damasceno, foram para a
conta da "offshore" Venus.
A Venus abastece bancos da
Suíça. Um extrato em poder da
Promotoria mostrou que o UBP
(Union Bancaire Privée) suíço recebeu, em 21 de maio de 1996,
uma transferência de US$ 3,18
milhões. O dinheiro havia saído
de uma conta chamada "Venus",
no MTB nova-iorquino.
Sobre a Venus, a polícia e o Ministério Público Estadual sabem
muito pouco. É uma "offshore"
(empresa virtual, cujos donos são
desconhecidos) sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Mas o próprio CD traz indício
de que na verdade a Venus pode
ser, como várias outras contas do
MTB, controlada por doleiros do
Brasil . Uma operação indica como endereço da Venus um prédio
da avenida Ipiranga, no centro
paulistano.
De acordo com as investigações
da Polícia Federal e da CPI, a Venus e a Solid funcionam como
"contas de passagem" -normalmente controladas por um doleiro, esse tipo de conta serve como
ponto intermediário entre a origem e o beneficiário real do dinheiro (leia texto nesta página).
O depósito registrado em nome
de Simeão para a Solid Financial,
de US$ 130 mil, seria, depois de
passar na conta da Solid, remetido para outra conta no banco Republic de Genebra, na Suíça, um
braço do grupo Safra.
Outras duas operações registradas no MTB confirmam que "Maria Rodrigues" está associada ao
banco UBP -ela recebeu, aos
seus cuidados, duas transferências de US$ 138 mil de uma empresa localizada no Uruguai.
Em seu depoimento ao Ministério Público, Simeão Oliveira havia
dito que a conta na Suíça chamada "Maria Rodrigues" também
recebera recursos públicos desviados. Investigações posteriores
dos promotores indicaram que
Maria era funcionária de uma
agência do UBP na Suíça que gerenciava contas bancárias.
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