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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Temor de oposicionistas é o de serem associados a tentativa de golpe; PFL quer reavaliar contas de campanha de Lula em 2002
Oposição não vê clima para impeachment
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Durante a primeira reunião
conjunta da oposição (PFL,
PSDB, PDT, PPS, PV e parte do
PMDB), parlamentares estancaram o discurso de impeachment e
adotaram um posicionamento de
que "não há clima político para o
impedimento do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva". A reabertura das contas da campanha de Lula em 2002 também foi discutida.
O motivo para o recuo na questão do impeachment é prático:
ninguém quer ser acusado de golpismo. Apesar disso, a oposição
avança em ações laterais. O PFL
discute o pedido de reabertura
das contas de campanha de Lula à
Procuradoria Geral da República.
O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) disse que,
independentemente da decisão
do PFL, irá encaminhar hoje requerimento à CPI dos Correios
pedindo a análise das contas.
O pedido de impeachment havia ganhado força após o depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, na semana passada, quando ele afirmou que recebeu R$ 15,5 milhões
de caixa dois do PT, sendo R$ 10,5
milhões em uma conta nas Bahamas, por intermédio de Marcos
Valério Fernandes de Souza.
Na reunião de ontem, que começou às 16h30 e terminou pouco
depois das 19h, os parlamentares
decidiram ainda criar um fórum
de acompanhamento da crise
com articulação das oposições
nas três CPIs que tramitam no
Congresso -Correios, Mensalão
e Bingos. Esse fórum interessa
principalmente aos partidos pequenos (PPS, PV e PDT), que ganharão mais peso. Outro consenso foi pedir que a CPI dos Correios e o Conselho de Ética da Câmara acelerem o processo de cassação dos parlamentares beneficiados pelo esquema de Marcos
Valério. Não se falou em nomes.
Governabilidade
A reunião de ontem foi articulada pelo PPS. O presidente do partido, Roberto Freire (PE), reconheceu que o partido exagerou no
tom ao veicular uma propaganda
na qual acusava PFL e PSDB de
promover um acordão com o PT
para abafar a crise. "Eles compreenderam que o comercial estava equivocado", disse o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC).
Feitas as pazes, os oposicionistas alinharam o discurso em defesa das investigações, mas sem
avançar o sinal do impeachment.
"Se ficar comprovada a desonestidade pessoal e cabal do presidente
não vamos poupá-lo", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur
Virgílio (AM), para quem "impeachment não se pede, mas também não se impede". Vários parlamentares repetiram a mesma
frase: "Não há clima político para
o impedimento e o pedido, se
houver, tem de vir da sociedade".
A oposição teme o ônus de patrocinar uma ação sem respaldo
popular. "Vamos ser acusados de
golpistas se falarmos de impeachment", avalia ACM Neto.
O presidente do PMDB, Michel
Temer (SP), observou que o impeachment "é um juízo de conveniência e é preciso ver se há conveniência ou não": "Neste momento, não há". Temer acredita
que o impedimento do presidente
poderia causar "convulsão social": "É conveniente assegurar a
governabilidade, e estabelecer
uma pauta de votação".
Outra motivação para não promover o impeachment é eleitoral.
Ao manter o governo Lula fraco,
os partidos de oposição acreditam que se fortalecem e têm mais
chance de conquistar a Planalto.
Se for reaberto o processo das
contas de Lula, o tribunal irá apurar se houve caixa dois e quem foi
responsável por ele. Parte das
contas é assinada por Lula. A
eventual confirmação de sua responsabilidade poderá justificar
um processo por violação do artigo 350 do Código Eleitoral, que
dispõe sobre o crime de falsidade
documental. A pena máxima é de
cinco anos de detenção.
Como o suposto crime teria
ocorrido antes de ele assumir o
cargo, o processo só poderia ser
aberto após o fim do mandato.
Ministros do STF e do TSE e advogados ouvidos pela Folha disseram que o processo não deverá
prosperar e que, se aberto, não
deverá resultar em condenação.
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