São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2006

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Ação do PV leva à renúncia de 1º deputado sanguessuga

Coriolano Sales (PFL), acusado de receber R$ 172 mil de máfia, abre mão de mandato

Processos contra 69 devem ser abertos na semana que vem pelo Conselho de Ética; quem não renunciar antes se arrisca a ficar inelegível


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O primeiro deputado suspeito de participação na máfia dos sanguessugas entregou ontem sua carta de renúncia. A atitude foi tomada depois que o PV entrou com representação no Conselho de Ética pedindo a cassação dos 69 deputados federais acusados no relatório da CPI dos Sanguessugas.
O deputado Coriolano Sales (PFL-BA), 63, que é candidato à reeleição, abriu mão do mandato como forma de escapar à inelegibilidade que uma possível cassação acarretaria. Sua renúncia será lida na sessão de hoje do plenário -ele pode voltar atrás até esse momento.
Sales teria recebido R$ 172,4 mil da quadrilha, de acordo com Luiz Antonio Vedoin, líder da máfia. A Folha não conseguiu falar ontem com Sales.
A representação do PV ao Conselho de Ética elimina a necessidade de análise prévia dos casos pela Corregedoria da Casa. Isso porque a Constituição determina a imediata ação do conselho caso a representação seja feita por um partido.
A renúncia ao mandato só beneficia o acusado até a abertura dos processos no conselho, que está prevista para o início da semana que vem. Após isso, o processo segue, haja renúncia ou não. Se o acusado tiver o mandato cassado, fica inelegível por oito anos a contar do fim da legislatura em que ocorreu a punição -até 2015, se for cassado na atual legislatura, ou até 2019, caso a punição ocorra na próxima, que começa em fevereiro. A renúncia não impede a retomada do processo caso o acusado se reeleja para a Câmara.
Pelo menos mais quatro deputados manifestaram a colegas a intenção de renunciar, entre eles Nilton Capixaba (PTB-RO) e Marcelino Fraga (PMDB-ES).
Os 69 deputados são acusados de participar do esquema que, desde 2001, fraudava licitações para que prefeituras adquirissem ambulâncias superfaturadas da Planam. A CPI acusou ainda três senadores de envolvimento com a fraude.

Pressão
A Folha acompanhou as negociações para a abertura dos processos no gabinete do presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP). Ele chegou a telefonar ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), pedindo para que ele segurasse a representação, já que o órgão teria que se estruturar antes da abertura dos processos. "É impossível fazer tudo isso com o pessoal que disponho", disse no telefonema.
Diante da resistência de Aldo, o petebista disse que deve abrir os processos entre segunda e terça-feira, prazo final para que acusados renunciem.
Durante as negociações com o presidente da Câmara, Izar recebeu a visita de duas assessoras do deputado Marcelino Fraga. A Folha apurou que elas traziam a carta de renúncia do deputado, que só não foi apresentada porque descobriram que os processos não seriam abertos nesta semana.
Os órgãos técnicos da Casa ligavam na noite de ontem para o gabinete dos 69 deputados avisando sobre a representação do PV, uma forma de alertar sobre o prazo para aqueles que desejam renunciar.

Quadrilha
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da CPI que levou o PV a assinar a representação, disse que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o grupo político dele no PMDB fazem parte de "uma quadrilha", pois teriam dificultado a primeira fase da CPI e, agora, estariam colocando obstáculos para a seqüência dos trabalhos.
Renan enviou ontem para o Conselho de Ética do Senado o relatório que pede a cassação de Serys Slhessarenko (PT-MT), Magno Malta (PL-ES) e Ney Suassuna (PMDB-PB). Ele preferiu não responder as acusações de Gabeira. "Demonstrei em todos os momentos total isenção e absoluto equilíbrio. De modo que não dá para responder esse tipo de coisa."
O deputado Lino Rossi (PP-MT) afirmou ontem em Cuiabá que renunciou à sua candidatura à reeleição. Rossi foi apontado como campeão no recebimento de propina -cerca de R$ 3,1 milhões- entre os 72 parlamentares supostamente integrantes da máfia dos sanguessugas. A justificativa de Rossi para a renúncia é a falta de recursos na campanha eleitoral. (RANIER BRAGON, LETÍCIA SANDER E ADRIANO CEOLIN)


Colaborou a Agência Folha, em Campo Grande


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