São Paulo, Segunda-feira, 16 de Agosto de 1999
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Procuradoria apura "lavagem" no PR

da Agência Folha, em Londrina

Um processo em andamento na Justiça Federal em Cascavel (oeste do PR) ajuda a entender como é feita a lavagem de dinheiro com as contas CC-5.
O processo 99.601.0069-3 revela as ligações entre um contrabandista de ouro, um banco, dois "laranjas" profissionais, um "laranja" ocasional e um deputado estadual pelo PSDB do Paraná.
A investigação começou em abril de 1997, quando o procurador da República em Cascavel, Celso Antônio Três, recebeu comunicação do BC levantando suspeitas sobre a existência de possíveis remessas ilegais.
No relatório do BC, constavam os nomes Marcos Alexandre Irineu de Souza, Anísia dos Santos e Valdete Pereira dos Santos como suspeitos de serem "laranjas".
Em contas dos três, o Ministério Público Federal descobriu 61 registros de depósitos da empresa Tradicional Comércio de Metais Preciosos Ltda, de Belém (PA). A Tradicional depositou R$ 6,494 milhões entre abril e maio de 97.
Como os titulares das contas não tinham como comprovar a origem desse dinheiro, o Ministério Público passou a investigar.
Em abril deste ano, o proprietário da Tradicional, Aldesir Nardino, foi preso em Belém pela Polícia Federal por suposto contrabando de ouro. Em depoimento, ele disse que enviava dinheiro para "laranjas" de Cascavel.
Única das ""laranjas" a ser encontrada, Valdete Pereira dos Santos, hoje proprietária de uma banca de revistas em Cascavel, disse em juízo que abriu a conta bancária a pedido de Romildo José de Souza, gerente da Cash Câmbio, empresa do deputado Barater e de seu irmão, Mauro.
Valdete trabalhava como zeladora na Cash e disse ter apenas assinado cheques, sem movimentar a conta. Em seu nome, no entanto, há registros de movimentação de R$ 6,007 milhões.
A "laranja" Anísia dos Santos está foragida. Ela chegou a enviar R$ 24,737 milhões ao exterior.
As investigações mostraram ainda que Marcos Alexandre Irineu de Souza era um "laranja" profissional, com diversas contas. Ele é o 25º maior remetente de dinheiro via CC-5, com o envio de R$ 47,353 milhões. Nunca foi localizado e existe a suspeita de que o seu nome seja falso.
Mesmo antes da prisão de Nardino, o procurador Três havia conseguido na Justiça Federal, em setembro de 1997, o sequestro dos bens dos irmãos Barater.
A casa de câmbio foi fechada pelo Banco Central em outubro de 98. Segundo Três, a Cash teria ""lavado" R$ 30 milhões. O processo está parado na Justiça em razão da imunidade de Barater.
Eleito deputado em 98, Barater foi beneficiado com a suspensão do sequestro de seus bens.
O deputado nega participação no processo de lavagem e atribui responsabilidades pelas irregularidades ao ex-gerente da Cash Câmbios. Ele diz ser ""perseguido" pelo procurador Três.
O gerente Romildo José de Souza, hoje desempregado, se nega a falar sobre o caso. (JM)


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