São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001 |
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SUCESSÃO NO ESCURO Presidente licenciado do partido, José Dirceu é favorito "Desbotado", PT escolhe seu presidente em eleição direta
FÁBIO ZANINI DA REPORTAGEM LOCAL O PT de cores suaves, amplas alianças e a promessa de mudar "sem susto" a sociedade enfrenta hoje o teste das urnas. De maneira inédita na história política do país, os petistas escolherão diretamente o presidente nacional do partido, além de renovar o diretório nacional, os 27 estaduais e os 2.834 municipais. Estão habilitados a votar 861 mil filiados, 58% com direito a utilizar urnas eletrônicas cedidas pela Justiça Eleitoral. O partido espera quórum de 300 mil votantes. O favorito absoluto para conquistar novo mandato de três anos é o atual presidente licenciado do partido, José Dirceu, da ala moderada Articulação, a mesma do provável candidato ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva. A dúvida é quanto ao tamanho da vitória. Poderá ser folgada -significando a chancela incondicional do partido ao projeto da cúpula- ou apertada, em segundo turno, com crescimento da oposição interna. Nesse caso, o recado das bases será claro: o processo de "amadurecimento" do partido está indo rápido demais. No início da campanha, há cerca de três meses, a reeleição de Dirceu no primeiro turno era dada como certa. Mas a avaliação em todos os setores do partido é que, após a realização de nove debates acalorados, em que não faltaram vaias e ataques ao atual presidente, candidaturas das alas radicais do partido cresceram, podendo forçar a realização de segundo turno. Na última vez que foi eleito, de forma indireta, Dirceu obteve 55% dos votos. Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre, e Júlio Quadros, presidente do PT-RS, representam as correntes "de esquerda" com chances de chegar ao segundo turno. Os "centristas" Tilden Santiago (MG) e Ricardo Berzoini (SP) também têm esperança. Na eleição, há mais em jogo do que a simples renovação da direção do partido. Trata-se principalmente de escolher o comandante do PT na eleição de 2002, responsável por definir alianças. Será possível quantificar o respaldo nas bases partidárias do coeso projeto levado a efeito pela cúpula petista, cujo único e declarado objetivo é chegar ao Palácio do Planalto. Sob o comando de Dirceu, que assumiu a presidência do PT em 1995, o partido suavizou seu discurso, substituiu bandeiras, reconheceu erros e deu prioridade à ampliação de sua base de apoio para além da esquerda. Onde havia o discurso da transformação do modelo produtivo, hoje está o da moralidade e da experiência administrativa. No lugar da comunicação "militante", vê-se a atuação do ex-malufista Duda Mendonça, que se tornou em poucos meses o czar do marketing petista. Caso a esquerda ganhe território, o processo continuará, mas em ritmo mais lento. Haverá impacto direto na campanha presidencial de Lula, com a provável reintrodução de temas como a reversão de privatizações e posicionamento mais enfático quanto a uma auditoria da dívida externa. A margem de manobra da direção para fechar alianças mais ao centro será reduzida. "Não tenho interesse em dirigir o PT com essa política se não tiver apoio e solidariedade da maioria dos petistas. Eu quero um mandato claro", diz Dirceu. A oposição aposta na realização de segundo turno para contrabalançar o peso da corrente majoritária. "Hoje, a Articulação nada de braçada. Havendo segundo turno, terá de ouvir mais as minorias, o que é muito saudável", afirma Tilden. "O segundo turno depende do comparecimento nas pequenas cidades, onde não pudemos fazer campanha. Se o quórum for baixo, aumenta a possibilidade", diz Pont. Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Radicais querem ganhar espaço e influenciar agenda Índice |
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