São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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Ruth articula área social da campanha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A antropóloga Ruth Cardoso voltou a vestir o figurino de militante político. A mulher de Fernando Henrique Cardoso é a mão invisível na campanha do tucano José Serra à Presidência. Ela só não terá o ministério mais importante da área social de um eventual governo Serra se não quiser.
Ruth é amiga de Serra há cerca de 30 anos. O tucano costuma dizer que ela é uma referência intelectual, a única pessoa que ele escuta, por mais que divirja sobre o que ela estiver falando. A antropóloga justifica seu trabalho por Serra não pela amizade, mas por considerá-lo a melhor opção para suceder o marido no Planalto.
Desde a época em que disputava a indicação como candidato do PSDB, Serra tem a preferência de Ruth. Mas a antropóloga só embarcou de vez na campanha após a convenção nacional da sigla, em junho, durante a confecção do capítulo referente à área social do programa de governo do tucano.
Ela teve papel decisivo, embora tenha feito isso de maneira discreta. Até mesmo quando patrocinou uma reunião com mais de 50 especialistas num escritório de São Paulo. Detalhe: a reunião ocorreu num dia de jogo do Brasil na Copa, de manhã. Muitos não gostaram, mas ninguém faltou.
Coube a Ruth Cardoso fazer uma espécie de "arrastão" nas universidades, sobretudo na USP e na Unicamp, e no governo federal. Gente como Maria Helena Guimarães e Iara Prado, especialistas em educação, Carlos Pacheco, em ciência e tecnologia, José Eli da Veiga, em políticas rurais, e o sociólogo Augusto Franco, especialista em microcrédito.
O núcleo original do programa de governo de Serra anotou uma característica comum no grupo que rodeava Ruth Cardoso: os integrantes tinham um perfil histórico de esquerda. Alguns, passagem pelo PT.
Ruth levou para a campanha de Serra aliados desavindos de FHC na universidade, mas também tucanos que trabalharam nas campanhas do presidente e não estavam engajados na candidatura de Serra: Lila Covas, viúva de Mário Covas, foi figura de destaque num evento de apoio das mulheres tucanas a Serra realizado em agosto no clube Pinheiros. O evento, seguido de show da cantora Elba Ramalho, também tucana, foi organizado por Ruth Cardoso. Entre outros, apareceram Milu Vilela, herdeira do grupo Itaú, as atrizes Ruth Escobar e Irene Ravache.
Mesmo após a conclusão do programa de governo de Serra, a antropóloga, entre um compromisso e outro do Comunidade Solidária, acha tempo para atender a demandas da campanha. Encomendou, por exemplo, do secretário-executivo do Ministério do Esporte e Turismo, José Portela, caderno sobre futebol.
Se depender da campanha tucana, Ruth Cardoso representará Serra nos próximos debates sobre o programa social de governo.
Ruth participou de uma dezena de reuniões das equipes. Mas é dela a conceituação que serve como fio condutor do programa social. Capítulos como "Ajudando a quem se ajuda" e "O novo Brasil rural" têm a sua inspiração. Ela sempre pedia cuidado para que os textos não fossem elitistas.
O termo "equipe social", que Serra utiliza como contraposição à "equipe econômica" para explicitar a importância que dará a essa área, surgiu numa reunião coordenada por Ruth.
Para os integrantes do programa social de Serra, a presença da antropóloga foi decisiva nos momentos de desânimo, que abateram a equipe quando o último lugar nas pesquisas rondava o tucano. Era Ruth, contam, quem se encarregava de elevar o moral da tropa. (RAYMUNDO COSTA)

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