São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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PF vai sugerir quebra de sigilos do parlamentar

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal encaminhará hoje ao STF (Supremo Tribunal Federal) o inquérito no qual é investigada a suposta prática de extorsão do empresário Sebastião Buani contra o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Junto com um relatório parcial sobre o caso, a PF sugerirá ao STF novas medidas, entre as quais a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Severino e Buani.
Pretende-se, com o cruzamento dos dados, descobrir possíveis indícios que indiquem a verdadeira relação entre o empresário e o parlamentar, já que ambos se dizem vítima no episódio.
Buani alega ter sido extorquido por Severino, que teria lhe cobrado uma pensão mensal para que ele continuasse como concessionário do principal restaurante da Câmara; o presidente da Casa diz que o empresário tentou arrancar-lhe dinheiro para não divulgar para a imprensa o que passou a se chamar "A História de um Mensalinho" -o passo-a-passo da suposta mesada de R$ 10 mil mensais paga ao parlamentar.
Será possível, por exemplo, checar se Buani disse a verdade ao afirmar que Severino ligava para seu celular para cobrar a mesada.
A PF decidiu apressar o envio do inquérito ao STF -conforme a lei, poderia tomar essa providência até o dia 4 de setembro- diante das novas evidências de que Severino, tanto quanto Buani, é alvo da investigação. Sua condição de parlamentar desloca o foro do inquérito para o STF.
Assim, se a PF continuasse com diligências, como a tomada de novos depoimentos, a defesa de possíveis acusados poderia alegar, no futuro, que as ações foram ilegais e, portanto, nulas, na medida em que não teriam sido conduzidas no foro competente.
Contra Severino pesam depoimentos que o colocam como beneficiário de uma mesada paga por Buani e, principalmente, a cópia de um cheque de R$ 7,5 mil, sacado por sua secretária Gabriela Kênia Martins em 30 de julho de 2002.
Em depoimento à PF anteontem, Kênia, que trabalha para Severino desde 1995, confirmou o saque e disse que o dinheiro foi usado na campanha de deputado estadual de Severino Cavalcanti Júnior, filho do presidente da Câmara, morto em agosto de 2002.
Os elementos colhidos até agora na investigação colocam Severino sob suspeita de concussão (extorsão praticada por funcionário público) ou de corrupção passiva. Quanto a Buani, investiga-se se houve corrupção ativa.
Conforme a legislação, as penas previstas para tais crimes podem chegar a oito anos de prisão, além de multa.
Na quarta, quando Buani apresentou a cópia do cheque, a PF pretendia voltar a ouvir o empresário, que já havia prestado depoimento na semana passada.
A coleta de um novo depoimento de Buani, de sua filha, Gisele, gerente financeira do restaurante, e também da gerente de banco Jane Albuquerque (que autorizou o saque do cheque) constarão das sugestões que a PF fará ao STF.


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