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Disputa final por caças foca sistema de compensação
Empresas se comprometem a investir valor igual ao da compra em pesquisas do Brasil
Executivos da empresa dos EUA afirmam agora que a FAB poderá usar todos os sistemas de armas próprios ou os de sua preferência
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A principal corrida na reta final de aperfeiçoamento das
propostas para o programa FX-2, de renovação da frota da
FAB, é no sistema de compensações, pelo qual os vencedores
(país e empresa) se comprometem a investir o equivalente a
100% da compra no desenvolvimento da pesquisa, da tecnologia e da indústria no Brasil,
não necessariamente só no setor aeroespacial.
O pacote de 36 aviões pode
chegar a 4 bilhões (cerca de
R$ 10 bilhões), e a americana
Boeing, por exemplo, enviou
dois de seus vice-presidentes
para contatos com uma lista de
150 empresas nacionais para
acrescentar às 27 já listadas como parceiras na sua proposta
original de compensações. O
prazo para melhorar as propostas vai até a próxima segunda.
Concorrem o F-18 Super
Hornet da Boeing, o Gripen NG
da sueca Saab e o Rafale da
francesa Dassault -que vem
sendo apontado explicitamente como o preferido do governo
brasileiro, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, o vice-presidente da
Rede Global de Fornecedores
da Boeing, Ronald Shelley, e o
vice-presidente do programa
F-18, Bob Gower, rebateram
em São Paulo o argumento de
que o Brasil tem uma "aliança
estratégica" com a França.
Segundo eles, com apoio do
cônsul-geral em São Paulo,
Thomas White, a Embraer já
vende aviões para os EUA e os
dois países já têm parceria há
30 anos na área aeroespacial.
A intenção agora, segundo
eles, é ampliar uma aliança restrita a empresas e à área civil
para um acordo entre governos
e para a área militar, transformando o Brasil em fabricante e
exportador -uma plataforma
de venda de componentes,
principalmente da fuselagem,
para outros países.
A Boeing se compromete,
por exemplo, a incluir fornecedores brasileiros nas próximas
propostas de venda que fizer do
F-18 pelo mundo, se vencer o
processo de seleção, a ser concluído em outubro, com a decisão da FAB, depois da Defesa e
enfim do presidente.
As três concorrentes respondem publicamente a uma exigência da Aeronáutica: a de que
a transferência de tecnologia
não se limite à fabricação do
avião em si, mas inclua sistema
de armas (mísseis) e a conexão
entre os dois.
Os executivos da Boeing disseram que o Brasil vai poder
usar todos os seus sistemas de
armas próprios ou de sua preferência no F-18, caso opte pelo
norte-americano -um avanço
no que vinha sendo dito.
Eles, porém, não foram tão
afirmativos quando a Folha
perguntou se, no futuro, o Brasil estará livre para vender seus
próprios aviões Super Hornet
para a Venezuela, por exemplo.
"Nenhum dos três concorrentes pode dar essa garantia.
No momento, por exemplo,
ninguém aceitaria vender caças para a Coreia do Norte",
disse White, sobre país que está
sob cerco internacional por
causa de testes não autorizados
com mísseis. "Se um [dos concorrentes] disser algo diferente, não estará sendo honesto."
Eles disseram que ninguém
pode dar garantias de que o
Congresso norte-americano jamais venha a rever a autorização para o repasse de tecnologia para vender os caças ao Brasil. Segundo White, é assim
"em todos os países democráticos", não apenas nos EUA.
Compromissos
Nesta última semana até o
fim da coleta de dados pela
FAB, os três concorrentes afiaram o discurso e todos dizem
que se comprometem a transferir tecnologia de armamentos, sensores, sistemas de navegação e radares. A questão trancada a sete chaves é o quanto
cada um aceita abrir.
Enquanto a Boeing assume
uma tática mais agressiva de
convencimento via imprensa, a
Saab e a Dassault trabalham
nos bastidores. A Saab diz que o
Gripen NG é um projeto que
vem sendo executado com participação de técnicos brasileiros, num modelo de transferência direta de tecnologia, ou
"fazendo e aprendendo".
Já a Dassault diz que, apesar
das manifestações públicas, o
governo brasileiro não deu nenhuma palavra à empresa confirmando a preferência antecipada. A empresa tem o aval do
governo Nicolas Sarkozy para
vender o Rafale pelo preço que
vende à Força Aérea Francesa.
As três fazem negócios à parte, também como compensação, com a brasileira Embraer.
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