São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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Disputa final por caças foca sistema de compensação

Empresas se comprometem a investir valor igual ao da compra em pesquisas do Brasil

Executivos da empresa dos EUA afirmam agora que a FAB poderá usar todos os sistemas de armas próprios ou os de sua preferência


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A principal corrida na reta final de aperfeiçoamento das propostas para o programa FX-2, de renovação da frota da FAB, é no sistema de compensações, pelo qual os vencedores (país e empresa) se comprometem a investir o equivalente a 100% da compra no desenvolvimento da pesquisa, da tecnologia e da indústria no Brasil, não necessariamente só no setor aeroespacial.
O pacote de 36 aviões pode chegar a 4 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), e a americana Boeing, por exemplo, enviou dois de seus vice-presidentes para contatos com uma lista de 150 empresas nacionais para acrescentar às 27 já listadas como parceiras na sua proposta original de compensações. O prazo para melhorar as propostas vai até a próxima segunda.
Concorrem o F-18 Super Hornet da Boeing, o Gripen NG da sueca Saab e o Rafale da francesa Dassault -que vem sendo apontado explicitamente como o preferido do governo brasileiro, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, o vice-presidente da Rede Global de Fornecedores da Boeing, Ronald Shelley, e o vice-presidente do programa F-18, Bob Gower, rebateram em São Paulo o argumento de que o Brasil tem uma "aliança estratégica" com a França.
Segundo eles, com apoio do cônsul-geral em São Paulo, Thomas White, a Embraer já vende aviões para os EUA e os dois países já têm parceria há 30 anos na área aeroespacial.
A intenção agora, segundo eles, é ampliar uma aliança restrita a empresas e à área civil para um acordo entre governos e para a área militar, transformando o Brasil em fabricante e exportador -uma plataforma de venda de componentes, principalmente da fuselagem, para outros países.
A Boeing se compromete, por exemplo, a incluir fornecedores brasileiros nas próximas propostas de venda que fizer do F-18 pelo mundo, se vencer o processo de seleção, a ser concluído em outubro, com a decisão da FAB, depois da Defesa e enfim do presidente.
As três concorrentes respondem publicamente a uma exigência da Aeronáutica: a de que a transferência de tecnologia não se limite à fabricação do avião em si, mas inclua sistema de armas (mísseis) e a conexão entre os dois.
Os executivos da Boeing disseram que o Brasil vai poder usar todos os seus sistemas de armas próprios ou de sua preferência no F-18, caso opte pelo norte-americano -um avanço no que vinha sendo dito.
Eles, porém, não foram tão afirmativos quando a Folha perguntou se, no futuro, o Brasil estará livre para vender seus próprios aviões Super Hornet para a Venezuela, por exemplo.
"Nenhum dos três concorrentes pode dar essa garantia. No momento, por exemplo, ninguém aceitaria vender caças para a Coreia do Norte", disse White, sobre país que está sob cerco internacional por causa de testes não autorizados com mísseis. "Se um [dos concorrentes] disser algo diferente, não estará sendo honesto."
Eles disseram que ninguém pode dar garantias de que o Congresso norte-americano jamais venha a rever a autorização para o repasse de tecnologia para vender os caças ao Brasil. Segundo White, é assim "em todos os países democráticos", não apenas nos EUA.

Compromissos
Nesta última semana até o fim da coleta de dados pela FAB, os três concorrentes afiaram o discurso e todos dizem que se comprometem a transferir tecnologia de armamentos, sensores, sistemas de navegação e radares. A questão trancada a sete chaves é o quanto cada um aceita abrir.
Enquanto a Boeing assume uma tática mais agressiva de convencimento via imprensa, a Saab e a Dassault trabalham nos bastidores. A Saab diz que o Gripen NG é um projeto que vem sendo executado com participação de técnicos brasileiros, num modelo de transferência direta de tecnologia, ou "fazendo e aprendendo".
Já a Dassault diz que, apesar das manifestações públicas, o governo brasileiro não deu nenhuma palavra à empresa confirmando a preferência antecipada. A empresa tem o aval do governo Nicolas Sarkozy para vender o Rafale pelo preço que vende à Força Aérea Francesa.
As três fazem negócios à parte, também como compensação, com a brasileira Embraer.


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