São Paulo, Sábado, 16 de Outubro de 1999
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GRAMPO NO BNDES
Principal suspeito teve nova prisão preventiva decretada anteontem à noite pela Justiça do Rio
Telmo afirma que não se entregará

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Principal suspeito de grampear telefones do prédio do BNDES no Rio, Temílson Antônio Barreto de Resende, conhecido como Telmo na comunidade de informações do governo, disse ontem em entrevista à Folha que não se entregará à Justiça Federal.
Anteontem à noite, o juiz Alexandre Libonati, da 2ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, decretou a prisão preventiva de Temílson, 48, que está foragido.
Telmo admitiu reaparecer só depois que o TRF (Tribunal Regional Federal) do Rio apreciar o habeas corpus em que o advogado Carlos Kenigsberg pedirá a revogação da ordem. Se o TRF mantiver a prisão, ele permanecerá escondido.
Na primeira vez em que teve sua prisão decretada, Telmo ficou 12 dias foragido. Ele se entregou em 28 de setembro passado. Depois, a prisão foi relaxada.
Na entrevista à Folha, Telmo cobrou o aprofundamento das investigações em torno da cúpula do governo que participou da privatização das estatais de telecomunicações, em 29 de julho do ano passado.
Sem citar nomes, ele se referia ao ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e a André Lara Resende, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), conforme apurou a Folha.
Denunciados pelo Ministério Público Federal por suposta prática de improbidade administrativa, em processo na Justiça Federal do Rio, Mendonça de Barros e Lara Resende deixaram o governo após o estouro do escândalo dos grampos.
Analista de informações da Subsecretaria de Inteligência da Presidência da República, Telmo desfruta um período de três anos de licença sem vencimentos.
A reportagem da Folha conversou com Telmo por telefone. Segundo informou o advogado Carlos Kenigsberg, Telmo está fora do Estado do Rio.

Folha - As investigações apontam para quem teria grampeado os telefones do BNDES, não para quem teria dado a ordem. O que o senhor acha disso?
Temílson Resende -
Como cidadão, acho isso muito estranho. A responsabilidade pela confecção do grampo deve ser apurada. O responsável ou os responsáveis devem responder na Justiça.
Agora, jamais se esquecendo das pessoas que foram privilegiadas pelo grampo na privatização da Telebrás.

Folha - Quem foi privilegiado?
Telmo -
De acordo com o que foi publicado na Folha... Não gostaria de citar nomes. Isso tem que ser apurado pela Justiça.

Folha - O senhor acha que os dirigentes do governo à época da privatização das empresas de telecomunicações, e que deixaram os cargos após a divulgação do grampo, deveriam ser melhor investigados?
Telmo -
Com certeza. Não deve haver privilégio para ninguém. Todos devem ser investigados de acordo com a lei. Hoje a mídia só se preocupa com uma pessoa, a minha. Acho que devem continuar me investigando, como devem continuar investigando todo mundo.

Folha - O senhor pretende se entregar?
Telmo -
Por orientação de meu advogado, aguardarei a decisão do habeas corpus que será impetrado semana que vem no Tribunal Regional Federal. Como já falei na minha apresentação anterior, não sou nenhum foragido, nenhum bandido. Mas, agora, não vou me apresentar antes do habeas corpus.

Folha - O ex-policial federal Célio Arêas Rocha afirma que o senhor o convidou para grampear os telefones do BNDES. O senhor nega. Por que Rocha o estaria acusando?
Telmo -
Como todos os que tiveram acesso ao meu depoimento em juízo, com certeza, sem sombra de dúvida, acho essa história fantasiosa, mirabolante e totalmente mentirosa.

Folha - O senhor chegou a investigar na Subsecretaria de Inteligência quem seriam os responsáveis pelos grampos?
Telmo -
Não investiguei nada. O que houve foi uma informação, vinda de Brasília, de que a Abin (como a SSI é conhecida) teria realizado uma investigação oficial antes da privatização, mas nada ficou comprovado.

Folha - Para o senhor, veterano no serviço de inteligência do governo, o grampo teve origem institucional, tornando-se mais tarde uma operação comercial?
Telmo -
Sobre isso não tenho meios de aquilatar ou afirmar. Cabe à Justiça determinar.


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