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JANIO DE FREITAS
Outros ônus
Por menos que o prejudique
no eleitorado -e, teoricamente, algum prejuízo pode ser
previsto- a elevação dos juros é
mais uma dificuldade que o governo lança sobre José Serra,
com outro assunto em que o pôs
entre defender uma medida antipatizada pela opinião pública
ou expor uma divergência explícita com o governo, o que tem
evitado a altos custos.
Enquanto Serra se guardava
em silêncio, ao receber a notícia
dos novos juros, seu comitê e o
governo emitiam logo a explicação a que Jutahy Magalhães deu
esta forma: "É a prova de que
governo é governo, campanha é
campanha". Fosse assim, não
haveria a coincidência de outras declarações, estas do ministro de Minas e Energia, Francisco Gomide, informando que a
Petrobras aguarda o fim da eleição para voltar aos aumentos
dos combustíveis pela variação
do dólar e dos preços externos.
O governo não é só governo, e
não só em relação à campanha.
Seria impossível explicar, concebendo o governo apenas por
seus deveres e responsabilidades, os procedimentos que envolveram a elevação dos juros.
É óbvio que a reunião informática apenas complementou,
para a oficialização da nova taxa, o aumento que já fora discutido nos dias anteriores, sobretudo desde que o dólar bateu
nos R$ 4. Os integrantes do Comitê de Política Monetária não
decidiriam em menos de uma
hora, por conversa por via eletrônica, o aumento de taxa que
representa acréscimo de mais de
R$ 8 bilhões/ano na dívida governamental em títulos internos.
Houve, no mínimo, a tarde de
sexta, o sábado, o domingo e a
primeira hora do expediente de
segunda-feira para o tal acerto
final e comunicação dos novos
juros. Mas, não. Que isso ficasse
para a metade do dia, como ficou, já era absurdo. Houve, no
entanto, mais um elemento interessante: foi a divulgação de
que o comitê faria uma reunião
extraordinária.
Reunião extraordinária envolveria, fatalmente, os juros. A
alterá-los, nas circunstâncias, só
poderia ser para aumento.
Pronto: foi tudo feito em tempo
de muitos "fazerem posição",
como dizem nos meios especulativos. Ou seja, jogar nas aplicações que se valorizariam de imediato com o aumento dos juros.
Lucro que sai, é claro, dos cofres
públicos.
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