São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Outros ônus

Por menos que o prejudique no eleitorado -e, teoricamente, algum prejuízo pode ser previsto- a elevação dos juros é mais uma dificuldade que o governo lança sobre José Serra, com outro assunto em que o pôs entre defender uma medida antipatizada pela opinião pública ou expor uma divergência explícita com o governo, o que tem evitado a altos custos.
Enquanto Serra se guardava em silêncio, ao receber a notícia dos novos juros, seu comitê e o governo emitiam logo a explicação a que Jutahy Magalhães deu esta forma: "É a prova de que governo é governo, campanha é campanha". Fosse assim, não haveria a coincidência de outras declarações, estas do ministro de Minas e Energia, Francisco Gomide, informando que a Petrobras aguarda o fim da eleição para voltar aos aumentos dos combustíveis pela variação do dólar e dos preços externos.
O governo não é só governo, e não só em relação à campanha. Seria impossível explicar, concebendo o governo apenas por seus deveres e responsabilidades, os procedimentos que envolveram a elevação dos juros.
É óbvio que a reunião informática apenas complementou, para a oficialização da nova taxa, o aumento que já fora discutido nos dias anteriores, sobretudo desde que o dólar bateu nos R$ 4. Os integrantes do Comitê de Política Monetária não decidiriam em menos de uma hora, por conversa por via eletrônica, o aumento de taxa que representa acréscimo de mais de R$ 8 bilhões/ano na dívida governamental em títulos internos.
Houve, no mínimo, a tarde de sexta, o sábado, o domingo e a primeira hora do expediente de segunda-feira para o tal acerto final e comunicação dos novos juros. Mas, não. Que isso ficasse para a metade do dia, como ficou, já era absurdo. Houve, no entanto, mais um elemento interessante: foi a divulgação de que o comitê faria uma reunião extraordinária.
Reunião extraordinária envolveria, fatalmente, os juros. A alterá-los, nas circunstâncias, só poderia ser para aumento. Pronto: foi tudo feito em tempo de muitos "fazerem posição", como dizem nos meios especulativos. Ou seja, jogar nas aplicações que se valorizariam de imediato com o aumento dos juros. Lucro que sai, é claro, dos cofres públicos.



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