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FOLCLORE POLÍTICO
O caso Moreira Alves - 2
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES
Íamos por meados de novembro de 1968. O presidente Costa e Silva recebe no Palácio Laranjeiras o deputado pela Arena
Djalma Marinho, que lhe dá conta, lealmente, ser contra a concessão da licença para processar o
deputado Marcio Moreira Alves
-uma aberração constitucional.
E, acrescenta, que sua posição é
compartilhada por quase todos os
deputados da Arena membros da
Comissão de Justiça, por ele presidida -prenúncio de uma desmoralizante derrota do governo.
O presidente, com a franqueza
que lhe era própria, declara ao
deputado que não convocaria o
Congresso Nacional, que entraria
em recesso em 1º de dezembro,
para votar o pedido de licença. A
matéria, embora importante, não
tinha densidade para justificar a
convocação. Sua preocupação era
recompor o diálogo Arena/governo. Pede, sem rodeios, a Djalma
Marinho que colabore na tarefa
de reintegrar o senador Daniel
Krieger no comando da articulação. A conversa soou como música para o deputado. Djalma Marinho comunicou aos líderes a decisão do presidente.
Parecia desarmada uma bomba-relógio que tinha hora marcada para explodir -o momento
da recusa do pedido de licença. O
recesso jogava água na fervura.
O alívio foi geral. Menos para a
corrente arenista mais governista
que se comprometera com a concessão da licença e que não suportava ter sido vencida pela ala liberal do partido. Garantiram ao
presidente ampla vitória do governo na votação da matéria,
convencidos de que, na hora final,
a ameaça do fechamento do Congresso intimidaria os mais rebeldes e a licença seria concedida.
O presidente Costa e Silva recuou e mandou avisar ao deputado Djalma Marinho que se vira
forçado a convocar o Congresso
com um único item em pauta -a
votação do pedido de licença. Deu
no que deu. A Arena substituiu
toda a sua representação na Comissão de Justiça e ganhou a votação. Mas não pôde afastar o deputado Djalma Marinho, seu presidente e relator do processo de licença. Bastou a eloquência do deputado para derrotar o governo.
A maioria da Arena em plenário,
em votação secreta, negou o pedido de licença, sob a inspiração de
Djalma Marinho, em cujo final,
na apertada sala da comissão,
elevou-se a voz tonitruante do deputado Britto Velho: "De pé para
aplaudir o homem".
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES,
71, ex-governador da Guanabara e
ex-ministro da Previdência do governo
Sarney, escreve às quartas nesta seção
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