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EUA dizem a Lula que colaboração está vinculada a 'políticas sadias'
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Autoridades norte-americanas
fizeram questão ontem de deixar
claro que os EUA estão prontos
para trabalhar com um eventual
governo Luiz Inácio Lula da Silva
desde que esse adote "políticas sadias". A expressão encobre o jargão para equilíbrio orçamentário,
controle da inflação e respeito aos
contratos (leia-se: nada de calote).
"O dinheiro [do Fundo Monetário Internacional] está lá, desde
que as políticas corretas também
estejam", diz, por exemplo, Kenneth Dam, subsecretário do Tesouro dos EUA, em alusão ao mais recente pacote do FMI para
o Brasil, de US$ 30 bilhões.
Dam fez questão de ser explícito
em relação ao que considera "políticas sadias": "A manutenção da
prudência fiscal e passos concretos para reformar os grandes empecilhos para o crescimento, como a atual estrutura tributária".
Reforma tributária consta do
acordo entre Brasil e FMI, mas é
inusual que funcionários de outro
país desçam a detalhes de políticas específicas para parceiros.
Já Otto Reich, subsecretário de
Estado para o Hemisfério Ocidental (leia-se: América Latina), preferiu dizer que os EUA "trabalharão com aqueles governos que
compartilhem nossos valores".
Que valores? "Promover direitos
humanos e democracia, sem tentar redefini-los, oferecer oportunidades para seu povo, não interferir nos assuntos de vizinhos, por
exemplo abrigando terroristas."
Os dois altos funcionários falaram na Conferência das Américas, organizada pelo jornal "The
Miami Herald". Nas suas falas e
nas entrevistas coletivas que deram, o tema Brasil foi recorrente.
Reich e Dam despejaram elogios ao processo democrático
brasileiro. O subsecretário do Tesouro lembrou que a atual eleição
é a quarta desde a redemocratização (1985) "e está sendo totalmente pacífica mesmo com grandes
diferenças entre os candidatos".
Por isso, enfatizou que os Estados Unidos "apóiam o processo
democrático e apoiarão quem for
democraticamente eleito".
Reich, um arquiconservador,
foi na mesma direção, a ponto de
driblar pergunta sobre um suposto eixo de esquerda Brasília/ Caracas/Havana, a ser formado se Lula
ganhar, já que o petista tem boas
relações com o venezuelano Hugo
Chávez e o cubano Fidel Castro.
"Os modelos de esquerda não
funcionaram em nenhum país.
Não creio que nenhum governo
democrático vá escolher um sistema falido", preferiu responder.
Dam elogiou o atual governo,
em especial o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente
do Banco Central, Armínio Fraga,
pela "liderança" que exercem e
pelas "políticas sadias" que praticam. A explicação do subsecretário do Tesouro para o fato de o
Brasil estar sob intensa turbulência financeira, apesar das "políticas sadias", é "o nervosismo do
mercado sobre o resultado [eleitoral] e sobre as políticas que serão seguidas pelo novo governo".
"Estou certo de que [o novo governo" fará o melhor para a economia do país", disse Dam, pedindo que não seja feito um "pré-julgamento" de um eventual governo Lula. Mas lembrou que "o
Brasil só receberá a maior parte
do empréstimo do FMI se aderir a
políticas sadias" (prudência fiscal
e reforma tributária).
Já Reich insinuou que a relação
Brasil/EUA poderá ser comprometida por gestos (não especificados) do novo governo brasileiro.
Deu o exemplo de Venezuela e
México, para dizer que, com ambos, os EUA têm contenciosos comerciais e de outra natureza, mas
que as relações com o México são
melhores. Explicou: "Reagimos
como humanos: se nos estendem
uma mão amiga, nós a pegamos.
Presumimos que o governo a ser
eleito [no Brasil] será amigo".
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Miami a convite do jornal "The Miami Herald" para participar da Conferência das
Américas
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