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Mauro Paulino
Ouro em pó
AS PRIMEIRAS pesquisas do segundo turno surpreenderam
ao mostrar que a tendência do final de setembro foi
revertida e que Lula retomou o favoritismo. Tiveram o objetivo central de
captar os pontos de partida de cada candidato e
possíveis impactos da própria eleição e do debate da
TV Bandeirantes.
As informações reveladas em primeira mão por
duas pesquisas do Datafolha, com ampla repercussão pelo ineditismo e significado dos números,
causaram curiosidade e
surpresa entre os eleitores
e os que não têm acesso direto às cúpulas das campanhas e a banqueiros.
Estes já dispunham de
números privados indicando as mesmas tendências tornadas públicas pelo Datafolha, que opta por
fazer pesquisas eleitorais
apenas para divulgação.
Pesquisas são vitais para
os partidos avaliarem os
rumos da comunicação e,
há algum tempo, no Brasil,
são amplamente utilizadas com esse objetivo.
Nenhuma campanha
sobrevive sem o termômetro dos levantamentos
diários e dos grupos de
discussão das qualitativas.
É um antigo filão explorado pelos institutos que
atendem partidos.
Já os bancos e as entidades empresariais passaram a contratar pesquisas
e consultores com mais
freqüência a partir de
2002, quando as variações
das intenções de voto
guardavam forte relação
com os humores do mercado. Instalou-se então
uma curiosa, porém lucrativa, prática dos investidores: atentos aos registros
obrigatórios das pesquisas
no TSE cinco dias antes da
divulgação dos resultados,
encomendavam levantamentos a outros institutos
para tentar antecipar as
tendências eleitorais e,
por conseqüência, do
mercado financeiro.
Ter indícios do que a
pesquisa registrada revelaria cinco dias depois era,
como se dizia, ouro em pó.
Quanto mais tempo de
posse da informação e
quanto mais indefinido o
quadro, maior era o poder
de manobras financeiras.
Nesta eleição, o favoritismo de Lula desfez a relação entre intenções de
voto e as variações do
mercado. Diminuiu o interesse dos investidores por
pesquisas durante o primeiro turno. O escândalo
do dossiê não só ajudou a
prorrogar os resultados da
eleição como reaqueceu
esse mercado para os institutos que atendem instituições financeiras.
Como as pesquisas privadas ajudam também a
definir as contribuições
partidárias, ter números
exclusivos nas mãos, neste
mês, pode ser o detalhe
fundamental de uma boa
aposta no mercado financeiro e político.
É legítimo e necessário
que institutos atendam todas as demandas, mas a especulação gerada por pesquisas a serem divulgadas
deve ser desestimulada.
Também por isso o Datafolha prefere divulgar seus
resultados tão logo os apura. Uma boa medida para
enfraquecer essa prática
seria diminuir o prazo de
registro das pesquisas no
TSE de cinco para dois
dias antes da divulgação.
MAURO PAULINO é diretor-geral
do instituto Datafolha
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