São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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Mauro Paulino

Ouro em pó

AS PRIMEIRAS pesquisas do segundo turno surpreenderam ao mostrar que a tendência do final de setembro foi revertida e que Lula retomou o favoritismo. Tiveram o objetivo central de captar os pontos de partida de cada candidato e possíveis impactos da própria eleição e do debate da TV Bandeirantes.
As informações reveladas em primeira mão por duas pesquisas do Datafolha, com ampla repercussão pelo ineditismo e significado dos números, causaram curiosidade e surpresa entre os eleitores e os que não têm acesso direto às cúpulas das campanhas e a banqueiros.
Estes já dispunham de números privados indicando as mesmas tendências tornadas públicas pelo Datafolha, que opta por fazer pesquisas eleitorais apenas para divulgação. Pesquisas são vitais para os partidos avaliarem os rumos da comunicação e, há algum tempo, no Brasil, são amplamente utilizadas com esse objetivo.
Nenhuma campanha sobrevive sem o termômetro dos levantamentos diários e dos grupos de discussão das qualitativas.
É um antigo filão explorado pelos institutos que atendem partidos. Já os bancos e as entidades empresariais passaram a contratar pesquisas e consultores com mais freqüência a partir de 2002, quando as variações das intenções de voto guardavam forte relação com os humores do mercado. Instalou-se então uma curiosa, porém lucrativa, prática dos investidores: atentos aos registros obrigatórios das pesquisas no TSE cinco dias antes da divulgação dos resultados, encomendavam levantamentos a outros institutos para tentar antecipar as tendências eleitorais e, por conseqüência, do mercado financeiro.
Ter indícios do que a pesquisa registrada revelaria cinco dias depois era, como se dizia, ouro em pó.
Quanto mais tempo de posse da informação e quanto mais indefinido o quadro, maior era o poder de manobras financeiras.
Nesta eleição, o favoritismo de Lula desfez a relação entre intenções de voto e as variações do mercado. Diminuiu o interesse dos investidores por pesquisas durante o primeiro turno. O escândalo do dossiê não só ajudou a prorrogar os resultados da eleição como reaqueceu esse mercado para os institutos que atendem instituições financeiras.
Como as pesquisas privadas ajudam também a definir as contribuições partidárias, ter números exclusivos nas mãos, neste mês, pode ser o detalhe fundamental de uma boa aposta no mercado financeiro e político.
É legítimo e necessário que institutos atendam todas as demandas, mas a especulação gerada por pesquisas a serem divulgadas deve ser desestimulada. Também por isso o Datafolha prefere divulgar seus resultados tão logo os apura. Uma boa medida para enfraquecer essa prática seria diminuir o prazo de registro das pesquisas no TSE de cinco para dois dias antes da divulgação.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha


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