|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula exalta "democracia" em ato que lembra golpe
Burkina Fasso comemorou os 20 anos do evento que levou o atual presidente ao poder
Recebido aos gritos pelo locutor, petista pregou a paz e disse que a África "quer deixar para trás história de desencontros e conflitos"
Ricardo Stuckert/PR
|
Os presidentes Blaise Compaore, de Burkina Fasso, e Lula cumprimentam o público em Uagadugu |
DO ENVIADO A UAGADUGU
O presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, foi ontem a
vedete de um evento para comemorar os 20 anos do golpe
de Estado que levou ao poder o
atual presidente de Burkina
Fasso, Blaise Compaore.
Ao lado de Compaore, cujo
movimento triunfou em 1987
após o assassinato do então
presidente Thomas Sankara,
Lula defendeu a "democracia"
africana e fez uma crítica leve
ao "exercício abusivo de poder
em muitas partes" do mundo.
O dia de ontem marcou o aniversário do que a propaganda
oficial do governo chama de
"renascimento democrático".
Houve manifestações da pequena e frágil oposição em memória de Sankara.
Do lado do governo, o principal evento programado foi um
seminário com representantes
de partidos de todo o mundo,
principalmente africanos e
asiáticos. A estrela indiscutível
foi Lula, desde o momento de
sua entrada no salão lotado.
"Brasil! Brasil! Lula! Lula!",
gritava ao microfone o locutor.
Depois, gritos de "Lula! Compaore! Lula! Compaore!"
Sorridente, o brasileiro sentou-se no palco e foi presenteado com uma versão em francês
de "O que Será", de Chico Buarque. Acompanhou com tapinhas da mão direita na perna e
movimentos com a cabeça.
Burkina Fasso é um país com
liberdade moderada, segundo
analistas internacionais. A imprensa independente e a oposição são toleradas, mas o presidente controla as instituições
do país e se perpetuou no poder. Compaore foi eleito três
vezes desde o golpe, sempre
com cerca de 80% dos votos.
Assessor internacional da
Presidência, Marco Aurélio
Garcia disse que o governo brasileiro considera o regime local
democrático. "O presidente
tem se subordinado a eleições
livres, fiscalizadas internacionalmente, pelo que sabemos."
Depois de um breve discurso
do presidente africano, em que
chamou Lula de "amigo do povo africano", chegou a vez de o
brasileiro falar. "A África está
em pleno ressurgimento. Desenha seu próprio destino. Quer
deixar para trás uma história de
desencontros e conflitos, provocados ou agravados pela herança colonial", declarou.
Ele repetiu alguns dos temas
presentes em seus discursos,
como a necessidade de reformar a ONU e concluir a Rodada
Doha. Também convidou Burkina a "participar na revolução
dos biocombustíveis".
Em seu discurso, o presidente brasileiro pregou a paz, uma
"palavra mágica". "Se ao invés
de comprarmos pão tivermos
que comprar canhão, se ao invés de compramos arroz, comprarmos fuzis, se ao invés de
abraçar um companheiro tivemos de ficar atirando nele, certamente os países nunca irão se
desenvolver", afirmou.
O clima foi de cordialidade
entre Compaore e Lula desde a
chegada do presidente. No aeroporto, cerca de 200 pessoas
recrutadas pelo governo apresentavam-se em danças locais.
Hoje Lula segue para a República do Congo.
(FÁBIO ZANINI)
Texto Anterior: Câmara: Para Chinaglia, ritmo de MPs é "insuportável" Próximo Texto: Justiça: Partidos querem anular ministério de Mangabeira Índice
|