São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

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FHC diz não que não fará "birra" por dia

WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL À REPÚBLICA DOMINICANA

O presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou ontem sua oposição ao adiamento da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, mas disse que não vai fazer "birra" se o Congresso aprovar a alteração da data: ele aceita permanecer no cargo por mais tempo, em vez de deixar que o presidente do Senado, Ramez Tebet, passe a faixa presidencial.
"Tenho uma dificuldade que acho que todos os brasileiros deveriam ter. Lutamos tanto contra o regime autoritário! Naquele tempo se prorrogava mandato através do Congresso. Vamos voltar a prorrogar mandato? Isso fere a essência da democracia", disse.
FHC reconheceu que a data atual (1º de janeiro) é ruim, mas disse que uma eventual mudança deveria ter sido feita há mais tempo. Para ele, nem mesmo a data do mandato de Lula deve ser alterada, porque ele foi eleito para governar até dezembro de 2006.
"O Congresso, se mudar [a data], evidentemente não vou fazer birra, não é essa a questão, mas acho que é um erro institucional. O Supremo Tribunal Federal pode até não concordar", disse ele, na República Dominicana, aonde chegou ontem para o 12º encontro de cúpula dos países ibero-americanos (América Latina, Caribe, Portugal e Espanha).
O presidente concedeu entrevista antes de um almoço com o rei da Espanha, Juan Carlos. Antes, caminhou na praia de Bávaro com sua mulher, Ruth, e suas netas, as gêmeas Joana e Helena, 16, filhas de Paulo Henrique. FHC deu alguns mergulhos, nadou e voltou ao hotel após uma hora.
Questionado sobre a importância prática desse encontro, FHC afirmou que em política nem tudo pode ser medido pelo efeito prático. Segundo ele, a proximidade entre os presidentes que encontros desse tipo proporcionam é útil nas negociações em foros internacionais. "No Brasil, as pessoas acham que nas viagens o presidente está se divertindo, está gastando dinheiro, e não é verdade. Vocês me acompanham e sabem que estou trabalhando sem parar. Hoje consegui tomar um rápido banho de mar", disse.
FHC disse que soube pelos jornais do encontro que terá com Lula nos próximos dias, com a presença de Ruth e Marisa: "Será muito bom recebê-los". Ele disse que responderá a Lula o que lhe for perguntado e que o encontro será importante para que Ruth transmita a Marisa informações sobre a gestão "dos palácios".

Lula
Disse que não vê necessidade de se encontrar com Lula nos EUA. Ele vai no dia 9 para Nova York, e Lula, no dia 10, para Washington. "Tenho muitas questões para resolver no Brasil", disse, explicando que volta antes. Disse que Lula tem maturidade suficiente para conversar e não precisa de um "ex-presidente" ao seu lado.
Sobre o assédio por cargos de que Lula diz estar sendo vítima, FHC disse: "Qual chefe de Estado não passa por isso? Isso é da natureza da política". Disse que não precisaria dar conselho: "Ele [Lula] está mais do que treinado nessa matéria. Vai precisar dizer "sim" a um e "não" a outro. Diz "sim" a um, e o que foi beneficiado fica feliz, e há dez que não gostam".
Sobre a promessa de Lula de dar terra às 100 mil famílias em acampamentos do MST, ele disse que, "como se trata de uma entidade com motivação política", retiram-se 100 mil das beiras de estrada e aparecem outras 100 mil. "Não sei agora, dada a proximidade do MST com o PT e portanto com o presidente Lula, se o MST vai ser menos estridente politicamente do que foi durante meu governo."


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