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FHC diz não que não fará "birra" por dia
WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL À REPÚBLICA DOMINICANA
O presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou ontem
sua oposição ao adiamento da
posse do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, mas disse que
não vai fazer "birra" se o Congresso aprovar a alteração da data: ele
aceita permanecer no cargo por
mais tempo, em vez de deixar que
o presidente do Senado, Ramez
Tebet, passe a faixa presidencial.
"Tenho uma dificuldade que
acho que todos os brasileiros deveriam ter. Lutamos tanto contra
o regime autoritário! Naquele
tempo se prorrogava mandato
através do Congresso. Vamos voltar a prorrogar mandato? Isso fere
a essência da democracia", disse.
FHC reconheceu que a data
atual (1º de janeiro) é ruim, mas
disse que uma eventual mudança
deveria ter sido feita há mais tempo. Para ele, nem mesmo a data
do mandato de Lula deve ser alterada, porque ele foi eleito para governar até dezembro de 2006.
"O Congresso, se mudar [a data], evidentemente não vou fazer
birra, não é essa a questão, mas
acho que é um erro institucional.
O Supremo Tribunal Federal pode até não concordar", disse ele,
na República Dominicana, aonde
chegou ontem para o 12º encontro de cúpula dos países ibero-americanos (América Latina, Caribe, Portugal e Espanha).
O presidente concedeu entrevista antes de um almoço com o
rei da Espanha, Juan Carlos. Antes, caminhou na praia de Bávaro
com sua mulher, Ruth, e suas netas, as gêmeas Joana e Helena, 16,
filhas de Paulo Henrique. FHC
deu alguns mergulhos, nadou e
voltou ao hotel após uma hora.
Questionado sobre a importância prática desse encontro, FHC
afirmou que em política nem tudo pode ser medido pelo efeito
prático. Segundo ele, a proximidade entre os presidentes que encontros desse tipo proporcionam
é útil nas negociações em foros internacionais. "No Brasil, as pessoas acham que nas viagens o presidente está se divertindo, está
gastando dinheiro, e não é verdade. Vocês me acompanham e sabem que estou trabalhando sem
parar. Hoje consegui tomar um
rápido banho de mar", disse.
FHC disse que soube pelos jornais do encontro que terá com
Lula nos próximos dias, com a
presença de Ruth e Marisa: "Será
muito bom recebê-los". Ele disse
que responderá a Lula o que lhe
for perguntado e que o encontro
será importante para que Ruth
transmita a Marisa informações
sobre a gestão "dos palácios".
Lula
Disse que não vê necessidade de
se encontrar com Lula nos EUA.
Ele vai no dia 9 para Nova York, e
Lula, no dia 10, para Washington.
"Tenho muitas questões para resolver no Brasil", disse, explicando que volta antes. Disse que Lula
tem maturidade suficiente para
conversar e não precisa de um
"ex-presidente" ao seu lado.
Sobre o assédio por cargos de
que Lula diz estar sendo vítima,
FHC disse: "Qual chefe de Estado
não passa por isso? Isso é da natureza da política". Disse que não
precisaria dar conselho: "Ele [Lula] está mais do que treinado nessa matéria. Vai precisar dizer "sim"
a um e "não" a outro. Diz "sim" a
um, e o que foi beneficiado fica feliz, e há dez que não gostam".
Sobre a promessa de Lula de dar
terra às 100 mil famílias em acampamentos do MST, ele disse que,
"como se trata de uma entidade
com motivação política", retiram-se 100 mil das beiras de estrada e
aparecem outras 100 mil. "Não sei
agora, dada a proximidade do
MST com o PT e portanto com o
presidente Lula, se o MST vai ser
menos estridente politicamente
do que foi durante meu governo."
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