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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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NA OPOSIÇÃO

Tucanos relevam mágoas e restrições a ex-candidato à Presidência para o elegerem presidente do partido

Abandonado em 2002, Serra comandará PSDB

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pouco mais de um ano após a derrota na eleição presidencial de 2002, da qual saiu aos pedaços, o PSDB conseguiu o que até bem pouco tempo parecia impensável: recompor as principais correntes do partido e eleger uma nova direção com o aval de todas as alas.
Para comandá-los na tentativa de se tornar uma alternativa real de poder ao PT em 2006, os tucanos vão eleger presidente justamente o candidato derrotado em 2002, o ex-ministro da Saúde José Serra. A eleição será na próxima sexta-feira, 21.
Serra será presidente do PSDB da mesma maneira como se tornou candidato no ano passado: sem que nenhum tucano da chamada alta plumagem pedisse ou fizesse efetivamente algo para impedir sua candidatura.
A diferença é que, dessa vez, ele procurou se rearticular internamente sem deixar atrás de si um rastro de ressentimentos, como aconteceu no ano passado. Em vez do rolo compressor que acionou para sair candidato em 2002, exercitou a humildade.
"Espero que essa candura dure até o final", brincou o senador Tasso Jereissati (CE), um dos que saíram magoados da campanha, ao ver Serra conversando com jornalistas após encontro com ele.
Serra teve 33,3 milhões de votos na eleição -38,73% do total. Desempenho surpreendente para quem fora abandonado pelo partido, sofrera o desgaste de oito anos de governo tucano e carregava fama de antipático e desagregador. Mas, se a renovação do comando do partido ocorresse em maio passado, Serra dificilmente seria eleito. Os governadores tucanos tinham restrições.
Em Minas Gerais, Aécio Neves avaliava que a eleição de Serra levaria o PSDB a fazer política com o olho no retrovisor. Cássio Cunha Lima (PB) torcia o nariz e dizia isso publicamente.
Tasso, que se sentiu atropelado pelo rolo compressor serrista durante o processo de escolha do candidato em 2002, defendia que o comando tucano devia ser renovado e entregue a pessoas como Aécio e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Serra enfrentava dificuldades no próprio quintal: Alckmin avaliava que ele não tinha o perfil certo para reestruturar o PSDB após uma derrota como a de 2002.
Por experiência própria. Alckmin presidia o diretório de São Paulo, em 1990, quando Mário Covas perdeu a eleição para o governo do Estado. Julgava que a situação requeria uma pessoa mais maleável, capaz de colocar no colo e reanimar os derrotados.
Por essa época, Serra procurou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e analisou as opções. Ele poderia tornar-se presidente do instituto mantido pelo PSDB, o Teotônio Vilela. Ou disputar a Prefeitura de São Paulo, o que descartava. Decidiu reivindicar a presidência da sigla.
FHC, Tasso, Aécio, Alckmin e outros caciques de primeira linha fizeram várias reuniões para avaliar os prós e contras. Serra participou de uma das últimas, um jantar no Palácio dos Bandeirantes. Depois passou a procurar os caciques para conversar.
A opção mais forte ao nome de Serra era um secretário de Alckmin, o ex-líder de FHC na Câmara Arnaldo Madeira. Mas Serra conseguiu reconstruir as pontes. Ninguém pediu para ser ele, mas ninguém fez nada para impedir. Serra foi o próprio grande eleitor.
Na recomposição do PSDB, Aécio ficará com 1ª vice-presidência, entregue ao senador Eduardo Azeredo (MG). A 2ª caberá ao governador Marconi Perillo (GO). Tasso indicará o secretário-geral.


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