|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sobrepreço é falha mais recorrente em obras
Problema soma R$ 653 milhões e atinge quase um terço dos 14 projetos do PAC com irregularidades detectadas pelo TCU
Dos 14 empreendimentos, apenas 2 foram paralisados por determinação do órgão; entre eles, parte da BR-265 na divisa entre Minas e Rio
ANDRÉA MICHAEL
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Somente duas das 14 obras
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas quais
o TCU (Tribunal de Contas da
União) detectou irregularidades foram paradas por determinação do órgão. Seis estão paralisadas, mas por outros motivos. As demais encontram-se
em execução, em ritmo lento.
Um ponto recorrente entre
as irregularidades encontradas
nas fiscalizações do TCU é o sobrepreço, presente em quase
um terço das 14 obras. Total
apurado: R$ 652,88 milhões, o
suficiente para bancar metade
de um mês do Bolsa Família, o
maior programa social do país.
O valor pode ser maior, pois
em alguns casos a auditoria é
feita por amostragem.
Em regra, as irregularidades
detectadas pelo tribunal não
são novidade. O problema é que
ficam anos sem ser resolvidas.
Exemplo é a ponte sobre o rio
Madeira, em Porto Velho, para
a qual já havia um projeto básico em 2002. Na ocasião, o TCU
identificou as primeiras irregularidades no empreendimento.
A ponte, porém, continua no
papel. Deu sinais de que decolaria em 2008, quando o Dnit
(Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte)
lançou o edital da obra. O TCU
apontou sobrepreço de R$ 39
milhões em um total de R$ 166
milhões. Neste ano, técnicos do
tribunal e do Dnit discutiram
termos de um novo projeto,
mas em setembro o Dnit revogou o edital. Para o governo,
contrato rescindido não pode
ser considerado irregular.
Outra "obra de papel" que o
governo coloca na conta do
TCU é a construção de um sistema de irrigação em Santa
Cruz (RN), com 9.236 hectares,
na Chapada do Apodi. O contrato foi assinado em 2002. Fiscalizado dois anos depois, o
TCU descobriu que faltava licença ambiental e condicionou
o repasse de verbas à adoção de
providências. A situação persiste até hoje, segundo o TCU.
O governo diz que já apresentou as justificativas.
Entre as obras paradas por
determinação do TCU está um
trecho de 102 km da BR-265, na
divisa entre Minas Gerais e Rio.
Em 2007, quando o trabalho ia
começar, uma fiscalização descobriu irregularidades, como
falta de desapropriação de terras, para o que seria necessário
investir, em dinheiro da época,
R$ 27 milhões, além de sobrepreço no contrato.
A outra obra paralisada é
composta por quatro contratos
para conservação e restauração
da BR-364, em Rondônia. As
principais irregularidades,
apontadas inicialmente em
2004, foram subcontratação e
medição e pagamento de serviços não realizados. Neste caso,
diz o TCU, "a paralisação é parcial e atinge só um subtrecho".
Com o pré-sal, as refinarias
se tornaram prioridade para o
governo. A Abreu e Lima, em
construção em Pernambuco,
caiu na malha fina do tribunal.
Em 2008, por sobrepreço no
contrato de terraplenagem. Em
2009, por irregularidades em
diversos contratos.
Maiores contratos
Neste ano, o TCU selecionou
dez contratos entre os mais expressivos firmados pela Petrobras, num total de R$ 15,6 bilhões. O trabalho está em fase
preliminar, mas há, como informado pelo órgão à Folha,
indícios de sobrepreço.
No caso da ampliação da refinaria Presidente Vargas, no Paraná, o TCU analisou 19 contratos, que somam R$ 8,6 bilhões, nos quais os técnicos
apontaram um sobrepreço de
R$ 39 milhões, classificaram as
irregularidades como graves e
recomendaram ao Congresso a
suspensão de vários contratos.
É uma decisão soberana da Comissão Mista de Orçamento.
Quando se trata de paralisação de obras, o caso da ampliação e modernização dos aeroportos de Vitória e Guarulhos é
emblemático. Em ambos, os
canteiros foram fechados pelos
consórcios contratados, mediante licitação, depois de o
TCU recomendar a retenção de
percentuais do pagamento
diante da constatação de irregularidades, como alterações
de projeto e sobrepreço, calculado em R$ 70 milhões para o
terminal paulista e R$ 176 milhões para o capixaba.
A Infraero negocia extrajudicialmente com os consórcios o
valor a pagar pelo que restou
construído. A empresa está
proibida pelo TCU de pagar por
este passivo, mas pode licitar
de novo os empreendimentos.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Outro lado: Casa Civil diz que já apresentou justificativas Índice
|