São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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Representante de vítimas do terrorismo faz greve de fome por extradição de Battisti

Luciana Coelho/Folha Imagem
O italiano Bruno Berardi faz protesto diante da Embaixada do Brasil em Roma; segundo ele, Battisti é criminoso comum

DA ENVIADA A ROMA

Bruno Berardi é abordado por transeuntes que o cumprimentam e o incentivam enquanto posa para fotografias diante da Embaixada do Brasil em Roma, na movimentada Piazza Navona. Desde sábado, Berardi, presidente da associação de vítimas do terrorismo Domus Civita, está em greve de fome para protestar a favor da extradição de Cesare Battisti.
"Muito bem, é corajoso da sua parte", diz um casal. "Eles têm de extraditá-lo." Berardi diz que deixou de comer e beber em "contraposição" à greve de fome de Battisti, que iniciou o jejum na quinta dizendo que prefere morrer de fome "do que pelas mãos de seus carrascos".
"Nós, vítimas do terrorismo, pedimos aos brasileiros e ao presidente Lula da Silva que não ouçam só a voz de Cesare Battisti, mas também nossa voz", disse Berardi à Folha. "Esse senhor não tem nada a ver com política. É um criminoso que matou quatro pessoas e quer parecer alguém que participou de luta política. Ele deve ser extraditado à Itália. Ele matou, tem de haver justiça."
Filho de um oficial da polícia morto pelas Brigadas Vermelhas em 1978, Berardi está em sua segunda greve de fome. Na outra, "há alguns anos", diz que perdeu 20 kg em duas semanas, no julgamento de um militante. "Foi bom, eu pesava 140 quilos", brincou. Hoje, pesa em torno de cem. "Vai que consigo emagrecer outra vez."
Berardi afirma ter conversado com os parentes das vítimas de Battisti, que estão, diz, "decepcionados". Agora, quer falar com Lula para expor a posição dos familiares. "Se ele me convidar, eu declararei nossa posição, a das famílias, que é a de que Battisti deve cumprir uma pena longa no nosso país."
A Justiça italiana condenou Battisti à prisão perpétua por envolvimento no assassinato de quatro pessoas nos anos 1970, quando era militante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Ele alega que seu crime foi político. O Brasil, para onde foi após fugir para a França, concedeu-lhe status de refugiado. O Supremo deve decidir nesta quarta sobre a extradição -a votação está empatada, faltando apenas o voto do ministro Gilmar Mendes. O STF pode ainda remeter a decisão a Lula.
"Se decidirem contra a extradição, eu continuarei a passar fome e sede, porque, nesse caso, morre a Justiça do mundo", diz Berardi. "Antes que a matem, morro eu, porque não é possível confundir as vítimas com o criminoso." (LUCIANA COELHO)


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