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JANIO DE FREITAS
Os gastadores
Sempre que se olha um ato
do governo além do que é exposto dele pelo próprio governo, encontra-se motivo para
descrer da competência ou da
decência, quando não de ambas, que o inspiraram.
Ao repisar mais uma vez o
seu assunto obsessivo -a demissão de servidores públicos-, Bresser Pereira curva-se à constatação, tantas
vezes negada, de que o Brasil
não tem funcionários em excesso, embora, a seu ver, isso
não seja motivo para não continuar diminuindo o custo
com pessoal. E gaba-se, então,
de que o governo já reduziu
em 60 mil o quadro de funcionários.
Os servidores amargam três
anos sem correção dos vencimentos, mas não é verdade
que o governo esteja reduzindo o gasto com pessoal. É só
atentar para o Orçamento de
98: o governo prevê gasto de
pessoal 20% superior ao deste
ano, que já está acima do de
96. Mesmo tendo estabelecido,
quando do recente pacote,
que em 98 o funcionalismo
continuará sem correção.
Que mágica é essa, de menos
servidores, nenhuma correção
de vencimentos e, como resultado, maior gasto com pessoal? Para começar, os funcionários de alto coturno, os chamados DAS, "de confiança" e
outros, nunca foram tão numerosos quanto no governo
de Fernando Henrique. Nem
ganharam tão bem, jamais.
Explica-se: esses cargos são
uma das moedas na compra
de apoios a Fernando Henrique e, no compasso seguinte,
destinados aos parentes e
agentes eleitorais dos parlamentares e governadores pagos com o direito de indicar o
ocupante do cargo. As vantagens e mordomias dadas a esses novos privilegiados, cujo
número de viagens é também
recordista, constituem a versão "moderna" do marajá.
A inexistência de correção
ou aumento é relativa. Em
certas funções tem havido,
sim, e senhores aumentos, sob
a forma de adicionais, sobretudo na área do governo dita
econômica. A cobertura para
esse privilégio é a "função estratégica", um conceito criado
por Bresser Pereira com originalidade muito pessoal. Medicina, sanitarismo, pesquisa
científica, pesquisa tecnológica, ensino superior, entre outras atividades essenciais para o futuro do país, não mereceram as graças de "funções
estratégicas". Para aquelas, os
vencimentos e as verbas só encolhem.
A redução do quadro de
funcionários em 60 mil vale
como uma forte denúncia ao
lado farsante do governo.
Grande parte dessa redução,
em número que o governo até
hoje não revelou, é composta
de servidores que precipitaram a aposentadoria, em razão do terrorismo de Bresser
Pereira contra os funcionários, nos dois primeiros anos
do governo. Só no ensino, são
mencionadas 5.000 aposentadorias apressadas. Os serviços
de medicina pública sofreram
também enorme perda.
Depois de proibir concursos
e nomeações, o governo foi
obrigado a fazer o oposto.
Continua fazendo e fará muito ainda para preencher as
vagas deixadas pelos novos
aposentados em funções indispensáveis. Ainda hoje são
inúmeros os serviços hospitalares que não puderam se recompor, assim como as universidades que ainda não podem oferecer aos alunos o que
já lhes davam em ensino.
Eis, então, o resultado da inteligente Operação Bresser Pereira: o governo passou a pagar dezenas de milhares de
novas e precipitadas aposentadorias e, mais, os vencimentos dos que está forçado a admitir para preencher as vagas
dos aposentados.
É esse tipo de ação que Fernando Henrique e Bresser Pereira chamam de "reforma do
Estado".
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