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JANIO DE FREITAS
Os anões dos bilhões
Desde que Gustavo Franco
e sua ação no Banco Central se tornaram insustentáveis
no governo Fernando Henrique,
impondo-lhe a demissão como
ato inaugural do segundo mandato, caiu sobre ele a condenação pelos fracassos econômicos
do primeiro mandato. As mãos
a se mostrarem mais pesadas
têm sido, naturalmente, as de
muitos que as usavam para
aplaudi-lo com mais ênfase. De
minha parte, tão logo definida a
postura anticrescimento do governo Fernando Henrique, fui
um crítico amargoso de Gustavo
Franco. Sem arrependimento
por isso, e hoje com ainda maior
convicção. Mas não me junto,
nem admito silenciar, diante do
absurdo que faz de Gustavo
Franco o símbolo do papel deplorável com que a importante
CPI do Banestado vai encerrando sua existência frustrante.
Indiciar Gustavo Franco por
praticar, quando presidente do
BC, políticas que facilitaram a
evasão ilegal de bilhões não é
verdadeiro nem decente. Os atos
que tenham facilitado a evasão,
e até a estimulado, não foram
individuais. É simples constatá-lo: se os atos não integrassem
uma política de governo, Fernando Henrique e Pedro Malan
os teriam invalidado, e no entanto os ampararam por anos.
Como complemento: a CPI não
encontrou vantagens materiais
de Gustavo Franco provenientes
de improbidade, assim como
fracassaram tentativas anteriores com idêntico propósito.
Palavras atuais do deputado
petista José Mentor, relator da
CPI, sobre a evasão ilegal de dinheiro: "Os mais pessimistas falam em US$ 80 bilhões, os mais
otimistas falam em US$ 180 bilhões". Procuradores da República passaram à imprensa, a
meio do ano, a evasão de US$ 30
bilhões, só pelas chamadas contas CC5, a partir de 1997. Diante
dessas cifras, José Mentor propõe
o indiciamento de apenas 91
pessoas, de mais de meio milhão
de possíveis remetentes ilegais
investigados. Que média individual de evasão, hein?
É certo que desabou sobre José
Mentor uma tempestade de
pressões, na última fase da CPI
e, sobretudo, na elaboração final
do relatório. Pressões petistas e
pressões originadas no governo,
dois territórios onde o temor de
que o escândalo de uma vasta
lista de indiciamentos, com figuras notórias, desfechasse acusações de esquerdismos, e outras
que tais, contra o governo Lula.
Com todos os óbvios inconvenientes políticos e reeleitorais,
temas permanentes de preocupações tão conhecidas por José
Dirceu, Aloizio Mercadante e
outros.
O que resultou da longa e importante CPI, além de alguns espalhafatos quando divulgados
documentos seus, foi igualar-se
à CPI dos Anões do Orçamento,
cujo relatório foi remanejado às
pressas, madrugada adentro,
para atender a conveniências
políticas e eleitorais, pessoais e
econômicas. A corrupção era assunto secundário.
Continua sendo.
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