São Paulo, Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2000


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NARCOTRÁFICO
Investimento sobe e, em 98, 5.400 pessoas foram recrutadas
Presença militar dos EUA cresce na América Latina

Patrícia Santos - 16.dez.99/Folha Imagem
Peruana é retirada de plantação de coca em operação dos EUA


MALU GASPAR
de Nova York

A presença militar e a ajuda financeira dos Estados Unidos aos países da América Latina para o combate ao narcotráfico cresceram consideravelmente nos últimos anos, devem aumentar ainda mais em 2000 e, segundo especialistas, terão reflexos sobre o Brasil.
Junto com a Venezuela, o país é destino da migração de narcotraficantes que têm tido a atuação sufocada nos principais focos de investimentos norte-americanos na região de fronteira com a Amazônia brasileira -Colômbia, Peru e Bolívia.
Para esses países e também para o Equador, os EUA fornecem armas, equipamentos, infra-estrutura para o combate ao narcotráfico, assistência nas áreas de inteligência e até, em alguns casos, na reforma dos sistemas judiciais (veja quadro ao lado).
Reportagem publicada neste mês pela Folha mostrou que, na Amazônia peruana, há 150 fuzileiros navais norte-americanos trabalhando no combate ao narcotráfico. A presença dos "mariners" na região é interpretada pela Polícia Federal brasileira como uma forma de pressão pela militarização desse combate na América Latina, política com a qual o Brasil não concorda.
A prática norte-americana no Peru se repete na Colômbia, na Bolívia e no Equador, segundo o relatório "Just the Facts: a civilizan guide to US defense and security assistance to Latin American and the Caribbean" . O levantamento, produzido anualmente pelas ONGs Latin American Working Group e Center for International Policy, monitora os investimentos dos EUA no combate ao narcotráfico utilizando como base documentos oficiais. Sua última atualização foi publicada em dezembro passado.
Além de fornecer força militar, os EUA ainda treinam agentes para o combate às drogas. Em 98, segundo o relatório, pelo menos 5.400 pessoas foram treinadas pelo governo norte-americano em todos os países da região, incluindo o Brasil.
Só na Colômbia, 950 homens estão sendo treinados para formar um "batalhão antinarcótico" que entrará em ação ainda neste ano. Outros dois batalhões devem ser formados até 2001. Na semana passada, os EUA anunciaram uma ajuda recorde para o combate ao narcotráfico no país -US$ 1,6 bilhão para os próximos dois anos, mais de cinco vezes a verba enviada em 99.
Os gastos dos EUA com o combate ao narcotráfico na Colômbia, Peru, Equador e Bolívia aumentaram até três vezes e meia nos últimos três anos. No orçamento enviado ao Congresso para o ano 2000, os EUA já aumentaram as verbas destinadas a alguns países, como Equador e Bolívia. Boa parte das verbas ainda deve sair de fundos suplementares.
"Está havendo um lobby agressivo no Congresso pelo aumento do combate ao narcotráfico na região. A presença dos EUA na região tende a aumentar, e me parece lógico que o Brasil se preocupe. O país certamente sentirá os efeitos", afirma Ted Bridges, analista da Drug Policy Foundation.
Para ele, é cedo para saber como o Brasil será atingido, porque isso vai depender tanto do avanço do narcotráfico sobre o país como das políticas adotadas pelo governo brasileiro para combatê-lo.
Para Colletta Youngers, analista sênior para a região andina do Washington Office for Latin America, é improvável que os EUA forcem qualquer presença no território brasileiro, mas devem fazer pressão política.
"O Brasil é um país muito importante para sofrer algum tipo de pressão "física". O que o governo norte-americano faria seria deixar vazar histórias, na imprensa ou no meio político, de que o país não está colaborando, ou não está suficientemente empenhado no combate às drogas, para forçar uma ação mais efetiva", afirma.
Durante a semana passada, a Folha procurou a DEA (Drug Enforcement Administration, agência civil antidrogas) e o escritório da Casa Branca para o combate ao tráfico para comentar o assunto, mas não obteve nenhuma resposta.


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