São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2001

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CONGRESSO

Presidente teria julgado "injusto" que pefelista o comparasse ao novo presidente do Senado, Jader Barbalho

FHC ameaça demitir ministros carlistas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso ameaçou demitir os dois ministros indicados por Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e julgou "injusto" o pefelista compará-lo a Jader Barbalho (PMDB-PA), segundo o líder do governo no Congresso, Arthur Virgílio.
Em entrevista à Folha, ACM disse que FHC e Jader "são as mesmas pessoas". O senador baiano, que passou dez meses chamando Jader de "ladrão", acusou o presidente de estar ciente de que tem aliados suspeitos de corrupção em postos do governo.
"Apesar do respeito por ACM, não posso crer que ele queira encurralar o presidente. Se quiser, haverá uma ruptura que naturalmente levará os competentes ministros ligados a ele a deixar de colaborar com o governo", disse Virgílio (PSDB-AM), escalado por FHC para responder a ACM.
"Sei qual é a opinião do senador Antonio Carlos a respeito do senador Jader Barbalho, que tem o direito e o dever de se defender. Por isso, não admito que ele compare o presidente da República ao presidente do Congresso. A comparação é exagerada e injusta."
Na semana que vem, FHC deverá discutir com o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), a situação dos ministros carlistas no governo.
ACM indicou Rodolpho Tourinho (Minas e Energia) e Waldeck Ornélas (Previdência Social). Os dois são do PFL da Bahia.
O Planalto já contava com um ataque pessoal de ACM a FHC depois de o pefelista ser o principal perdedor na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. O PFL, pela primeira vez no governo FHC, perdeu uma das Casas. Jader ganhou o Senado; Aécio Neves (PSDB-MG), a Câmara.
FHC quer fazer uma reforma ministerial, mas aguarda o fim do conflito na base aliada para definir seu tamanho. Se optar por demitir um dos ministros pefelistas, o escolhido deverá ser Tourinho.
Em reunião de manhã com seus coordenadores políticos, FHC chegou a planejar a divulgação de uma nota dura contra ACM. Contrariado, disse que o senador ultrapassara todos os limites, mas que não retaliaria de imediato.
No meio da tarde, FHC desistiu da nota, para evitar dar mais ressonância às críticas e para não acuar o senador. Teme-se que ele cause ainda mais dano a FHC.
Acertou-se que os ministros que se sentiram diretamente atingidos pelos ataques divulgariam notas. Eliseu Padilha (Transportes) e Fernando Bezerra (Integração Nacional) responderam. O ministro da Saúde, José Serra, ainda prepararia sua resposta.
No encontro de FHC com seus auxiliares, decidiu-se também que o líder do governo, que tem bom diálogo com ACM, responderia para dar caracterizar o ataque de ACM como efeito da derrota no Congresso.
Segundo Virgílio, as denúncias de ACM a respeito de irregularidades em ministérios e órgãos sob comando de peemedebistas "estão sendo investigadas no tempo em que a democracia permite".
"Não estamos mais na ditadura, não podemos ditar o tempo que a Justiça e o Ministério Público têm para cumprir suas funções constitucionais", disse Virgílio, em referência indireta ao fato de ACM ter apoiado o regime militar.
A fim de enviar um recado ao PMDB, que cobrava nos bastidores uma reação mais dura do presidente, como a demissão imediata de pelo menos um ministro de ACM, Virgílio disse:
"O presidente vai aguardar o final das divergências na base de apoio com paciência, como é de seu estilo e como condiz com o tamanho de sua responsabilidade, mas não aceitará a substituição de ACM por outro ferrabrás (fanfarrão) que queira atacar o governo", afirmou, em referência, também indireta, a Jader e ao líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, que costumam engrossar a voz em relação ao governo.
A Folha apurou que FHC deseja mudar ministros do PMDB, mas que ataques como os de ACM os fortalecem nos cargos, pois pareceria que foram substituídos por pressão do pefelista.
"O presidente é parlamentarista porque sabe o poder do presidencialismo. Não terá constrangimento em substituir os ministros que quiser e, se julgar conveniente, indicar o senador José Fogaça (PMDB-RS) para um posto", declarou o líder do governo.
O recado foi dirigido aos peemedebistas que, nos bastidores, rejeitam a eventual ida de Fogaça para o ministério. O gaúcho, bem visto por FHC, já foi cotado antes, mas nunca ganhou um posto.
Virgílio manteve aberta a possibilidade de diálogo com ACM: "Meu objetivo é congraçamento. Sabemos reconhecer que ACM é um aliado importante e peço que um canal continue aberto. Não desejo que feche as portas e se transforme num adversário".


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