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A REVANCHE DOS 300
Bancada diz que não aceitará aumento para deputados
Petistas e Severino travam
primeiro embate na Câmara
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia depois de perder o comando da Câmara dos Deputados para o PP de Severino Cavalcanti (PE), o PT criou o primeiro
embate com o novo presidente da
Casa. Os petistas falaram que vão
fazer valer o "peso político do partido", maior bancada da Câmara,
e que não aceitarão medidas defendidas por Severino, como o
aumento do salário dos deputados de R$ 12.847 para R$ 21.500.
Em resposta, Severino reafirmou que cumprirá a promessa,
feita em campanha, e que os descontentes que façam uma declaração renunciando ao reajuste.
"A Câmara não pode nem vai
virar sindicato de deputados. Não
dá para desconsiderar o Severino,
que foi eleito legitimamente, mas
esse discurso de sindicato de deputado acabou", afirmou Paulo
Bernardo (PT-PR), presidente da
Comissão de Orçamento do Congresso. "Uma coisa é um deputado de baixo clero [de pouca expressão política] defender isso [o
aumento], outra bem diferente é
o presidente da Câmara falar."
Segundo o deputado Paulo Rocha (PT-PA), cotado para ser o
novo líder da bancada, apesar de
o PT não ter nenhum representante na Mesa Diretora da Câmara, seu tamanho o legitimará a
participar das decisões da Casa.
"O PT reconhece a legitimidade
da Mesa eleita, mas vai fazer valer
seu peso político de maior bancada e de partido do governo. É uma
distorção o maior partido não ter
assento na Mesa", afirmou.
Severino respondeu imediatamente. "Esses deputados que estão preocupados com isso [o reajuste] têm que fazer uma carta renunciando aos salários [a mais].
(...) Eu prometi [o reajuste].
Quem promete tem que cumprir", afirmou.
Próximas ações
O PT reuniu ontem durante todo o dia a sua bancada de deputados federais, que repassou os erros que levaram à derrota na madrugada de anteontem, quando
Severino bateu o candidato oficial
do partido, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), por uma diferença de 105 votos.
O discurso foi o de que Severino
precisará adotar posição diferente
da que levava nos últimos anos e
que o caracterizaram como um
dos mais ferrenhos defensores do
aumento de benefícios aos parlamentares.
"A bancada do PT, como maior
partido, vai trabalhar para que a
gestão dele seja uma seqüência da
de João Paulo Cunha [PT-SP]",
afirmou Maurício Rands (PT-PE), presidente da Comissão de
Constituição e Justiça.
"Teve deputado da bancada que
disse que vai agir para que o programa do eleito não se cumpra,
mas acho que a Câmara vai se
pautar no sentido da estabilidade
do Poder", disse Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada.
O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), que visitou ontem Severino, disse que o governo
não vai interferir no assunto. "O
Poder Executivo não tem por que
elaborar posição sobre matéria
privativa da Câmara ou do Senado. Acho que a sociedade tem a
capacidade de discernir o que é
certo e o que é errado", disse. Na
prática, o PT tentará influir por
meio do chamado "Colégio de Líderes", que é o grupo de lideranças partidárias que, juntamente
com o presidente da Câmara, tomam as principais decisões.
Além disso, a liderança do governo na Câmara, pertencente ao
PT, é outro posto de influência.
Hoje ocupa a função o deputado
Professor Luizinho (SP), mas há
rumores de que ele pode ser substituído pelo antecessor de Severino, João Paulo Cunha (SP).
Severino aproveitou uma rápida entrevista que deu no início da
tarde para ressaltar que a atenção
dada pelo governo aos deputados
terá que ser redobrada. "Isso [minha vitória] foi um recado aos ministros. (...) Disse ao Lula que fui
eleito pela grande maioria silenciosa desta Casa e que essa maioria quer deixar de ser silenciosa."
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