São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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NOVA DIREÇÃO

Presidente da Câmara omitiu propriedades em João Alfredo, cidade natal; deputado não retornou ligações ontem

Severino não declarou imóveis e deve cheques

CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A JOÃO ALFREDO (PE)

Responsável por um orçamento de R$ 2,4 bilhões, o novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tropeça na administração das próprias contas. Segundo dados da Prefeitura de João Alfredo e do cartório da cidade, Cavalcanti omitiu de sua declaração de renda de 2002 pelo menos duas propriedades que mantém no município onde nasceu: uma casa numa área de 1.100 m2 e um prédio que já abrigou a Agroindustrial e Comercial Cavalcanti. Nos livros do cartório de João Alfredo, as duas propriedades estão em nome do deputado.
Destinada à confecção de caixa de jóias e, depois, à produção de móveis, a empresa fechou há dez anos. Segundo o registro de imóveis, as propriedades foram hipotecadas como garantias de empréstimos. Sem baixa nos livros.
Em julho de 2001, um ano antes de Severino declarar não ter imóveis, a casa, por exemplo, foi oferecida como garantia num empréstimo de R$ 145.132,75 com o Banco do Brasil. No documento de confissão de dívida, Cavalcanti e a mulher, Catarina Amélia, assumem um débito do filho, de R$ 65 mil com a instituição, recebendo outros R$ 94.407,02.
Além do imóvel, uma camionete é apresentada como garantia. Pelo contrato, o deputado e a mulher deveriam pagar prestações mensais, sendo a primeira parcela de R$ 1.757,81 no dia 10 de julho de 2001 e a última, de R$ 2.946,78, no dia 10 de agosto de 2004.
Essa operação aconteceu cinco anos depois de a família contrair um empréstimo de R$ 111.590,61 com o Banco do Brasil, segundo cédula de crédito 95/00070-40, de janeiro de 1996. A primeira hipoteca da propriedade, segundo o registro de imóveis, foi em 1995. Desde o ano passado, a casa conserva a propaganda de campanha de seu filho, José Maurício, para a prefeitura, derrotado pela pefelista Maria Sebastiana da Conceição.
O prédio da agroindustrial Cavalcanti, por sua vez, foi oferecido em garantia para um empréstimo de R$ 90.998,18 com o Bradesco. A operação foi registrada no dia 18 de março de 1996.
Pelos dados da prefeitura -na oposição a Severino desde 1997- Cavalcanti não paga o IPTU da casa pelo menos desde 1997.
Chamado ao gabinete do ministro José Dirceu (Casa Civil) na noite de ontem, Severino não respondeu as perguntas feitas pela reportagem durante a tarde.

Sem fundo
O atual presidente da Câmara de João Alfredo, José Martins (PTB), usou uma música de Bezerra da Silva para atacar o filho de Severino na eleição passada: "O rei do cheque sem fundo".
Martins lembra ter exibido em praça pública um cheque apresentado pelo comerciante Manoel Moura. O cheque, 00892, do Banco do Brasil (agência Câmara dos Deputados), é de R$ 15 mil e tem data de 31 de maio de 2002.
Foi apresentado e devolvido nos dias 10 e 12 de junho. O comerciante disse à Folha que o cheque seria usado para quitar um empréstimo do deputado com ele, contraído durante uma campanha eleitoral para a Câmara. Em 2002, o deputado teria entregue dois cheques de R$ 15 mil cada um. Um foi usado para pagar dívida com fornecedor. No ano passado, José Maurício teria proposto um parcelamento da dívida, perfazendo R$ 33 mil. Pagou R$ 17 mil, levando um cheque que ainda não tinha apresentado.
Os irmãos Manoel e Maviael de Lima Campos guardam dois cheques assinados pelo deputado em 1996, de R$ 12 mil cada um. Os cheques são da agência Congresso, da Caixa Econômica Federal. Segundo Maviael, foram repassados por um cliente para a compra de um carro. Mas, estranhamente, nunca apresentaram os cheques. Segundo Maviael, foi a pedido do deputado.


Colaborou FÁBIO GUIBU da Agência Folha, em Recife

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