São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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BRASIL PROFUNDO

Família de sindicalista acredita em "acerto de contas sangrento"

Seis policiais tomam conta da Parauapebas "sem lei"

Edinaldo Sousa/ "Jornal Opinião"
Familiares e amigos do sindicalista Soares da Costa Filho, morto anteontem, protestam em frente ao seu velório, em Parauapebas


LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A PARAUAPEBAS (PA)

Às 14h de ontem, a família de Soares da Costa Filho, líder da Associação de Trabalhadores Rurais do Projeto de Assentamento Carlos Fonseca, morto na terça-feira, entrou em uma van com destino à cidade de Fortuna, no Maranhão. É lá que será enterrado o sindicalista que há 24 anos trocou a seca nordestina pela promessa de dias melhores no sul do Pará.
Ontem, eles iniciavam o percurso de volta. Foram com a certeza de que Soares foi vitimado não pela violência agrária que opõe agricultores a proprietários de grandes fazendas da região, mas sim por mais um acerto de contas sangrento, tão comum na região.
O cemitério da cidade de Parauapebas, inaugurado há apenas quatro anos, já tem 1.700 enterrados, "a maior parte vítima de homicídios", segundo o prefeito da cidade, Darci José Lermen, do PT.
"Correntes inimigas da nossa facção teriam interesse na morte de um dirigente combativo e íntegro como Soares", diz Josimar Lima da Silva, 32, tesoureiro da associação. Também recaem suspeitas sobre moradores do próprio assentamento Carlos Fonseca, que estariam disputando lotes de terras com outros moradores.
No velório do sindicalista, os presentes não mencionaram nenhuma só vez a suspeita de que o autor dos seis tiros estivesse a mando dos grandes fazendeiros da região, o que distanciaria o crime do que vitimou a missionária americana Dorothy Stang.
Terra de oportunidades, com a onipresente Companhia Vale do Rio Doce, Parauapebas é a que mais cresce na região sul do Pará, à custa da imigração em massa de refugiados da seca nordestina -75% da população provém de um só Estado, o Maranhão.
"Vêm atrás de emprego na Vale, mas, desqualificados, são recusados pela companhia, restando-lhes como saída engrossar o contingente dos sem-terra", diz Antonio Ferreira dos Santos, responsável na prefeitura por assuntos agrários e pela coordenação dos 35 projetos de assentamentos existentes na cidade.
Pouco antes da saída do corpo de Soares, duas viaturas da Polícia Militar e uma da Polícia Federal levando agentes que exibiam metralhadoras cruzaram as ruas do bairro da Paz, que já foi uma ocupação. A Polícia Civil tem seis homens na cidade. O prefeito pediu ao Exército reforço de 500 homens, para dar conta da violência. "Parauapebas é terra sem lei. Quando alguém morre de câncer ou do coração, a gente até se assusta", diz Lermen.


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