São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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Ex-presidente do BC critica atual gestão

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão de tentar fazer a inflação em 2005 ficar muito próxima à meta perseguida pelo Banco Central, de 5,1%, foi "penosa" para o país. O BC poderia ter sido mais flexível, usando a banda de variação permitida pelo sistema de metas, disse ontem o ex-presidente do BC Armínio Fraga, em crítica velada à atuação da atual diretoria da instituição.
Ele e Ilan Goldfajn, diretor de Política Econômica quando Fraga estava à frente do Banco Central, participaram ontem do debate organizado pelo Instituto Teotônio Vilela e pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). Ambos disseram que o país está prestes a colher os frutos da adoção do regime de metas de inflação, principalmente agora que a taxa parece convergir para patamares próximos de 5%.
"Neste último ano, foi penoso perseguir os 5,1%", disse Fraga ao ser questionado sobre o impacto do aperto monetário sobre a economia -quando o BC eleva os juros para combater a inflação, ele reduz o nível de atividade, levando a um crescimento menor. Ele disse ainda que, agora que a inflação parece estar convergindo para cerca de 4,5% ao ano, será "possível voltar à direção original de utilizar com transparência esse tipo de espaço", referindo-se à possibilidade de o BC permitir que a inflação seja um pouco maior que a meta caso combatê-la signifique sacrificar demasiadamente o crescimento.
Tanto o ex-presidente do BC como Goldfajn dedicaram parte importante de sua exposição defendendo o sistema de metas. Também participaram do debate os economistas Julio Gomes de Almeida (Iedi), Ibrahim Eris, também ex-presidente do BC, Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa Caixa e professor da USP, e Yoshiaki Nakano, da Fundação Getulio Vargas.
Eris arrancou aplausos dos empresários que participavam do debate justamente criticando a maneira como o BC tem conduzido a política monetária, tanto na gestão de Fraga como na de Henrique Meirelles. "Nós estamos utilizando o sistema de metas de uma maneira muito rígida e errada", disse. Para o economista, o governo poderia ter adotado metas de inflação menos ambiciosas e, com isso, ter poupado o crescimento econômico, reduzindo mais os juros.
Apesar das divergências aqui e acolá, todos os economistas, sem exceção, concordaram em um ponto. O governo brasileiro, disseram, precisa fazer uma profunda reforma fiscal, cortando e realocando gastos, para permitir que o país cresça a taxas maiores a partir de agora. Todos consideram o aumento de gastos públicos uma barreira à estabilidade econômica brasileira.


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