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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS
Magistrado diz em depoimento que Antero Paes de Barros recebeu dinheiro do "comendador" Arcanjo na eleição de 2002; parlamentar nega acusação
Juiz liga senador tucano a crime organizado
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT e o PSDB fizeram ontem
um acordo para que fosse encerrada a tumultuada sessão da CPI
dos Bingos antes do término do
depoimento do juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara da Justiça
Federal de Mato Grosso.
Com o fim da sessão, ele não
conseguiu explicar os detalhes de
uma linha de investigação sobre a
suposta sociedade entre João Arcanjo Ribeiro, acusado de comandar o crime organizado em Mato
Grosso e conhecido como "comendador", e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes
da Silva em empresas de ônibus
em Santo André (SP) e Fortaleza.
A convocação do juiz tinha como objetivo esclarecer um possível envolvimento de Arcanjo na
morte do prefeito de Santo André
Celso Daniel já que Gomes da Silva foi apontado como o "mandante" do crime pela Promotoria.
O juiz acabou relatando as relações de Arcanjo com o PSDB-MT,
sobretudo com o senador Antero
Paes de Barros (PSDB-MT), que é
integrante da CPI. Sebastião da
Silva disse que houve caixa dois
na campanha de candidatos tucanos em 2002, incluindo Antero.
Segundo o juiz, parte do dinheiro
usado na campanha de Antero ao
governo do Estado veio das empresas de factoring de propriedade de João Arcanjo.
Antero afirmou que o juiz é
"mentiroso" e que está depondo
como um "instrumento petista
instalado dentro do Poder Judiciário". O juiz já foi filiado ao PT.
O término da sessão resultou no
adiamento por tempo indeterminado do depoimento do procurador-geral da República Pedro Taques. "Fizeram um grande acordo
porque ninguém quer que a verdade seja revelada", disse ele.
Taques também havia sido convocado para explicar o suposto
envolvimento de Arcanjo com o
assassinato de Daniel, em 2002.
Como o juiz, ele também tem
informações sobre as relações de
Arcanjo com o PSDB em Mato
Grosso. O "comendador" é apontado como financiador das campanhas tucanas em 1998 e 2002.
Ele está preso no Uruguai desde
2003 por uso de documento falso.
O caso atinge Antero porque ele
foi candidato nos dois pleitos.
Munido de um dossiê contra o
juiz, o senador usou o telão da CPI
para mostrar documentos que,
segundo ele, comprovariam que
Sebastião da Silva é "mentiroso".
O juiz então leu decisões judiciais contra Arcanjo e o PSDB de
Mato Grosso e disse que pessoas
ligadas ao "comendador" estavam no alto escalão do ex-governador tucano Dante de Oliveira.
O juiz e o senador bateram boca
por mais de duas horas.
Sentado ao lado de Antero, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB
no Senado, fez questão de defender o colega. A senadora Ana Júlia
Carepa (PT-PA) pediu calma.
Virgílio respondeu: "Eu quero você [Ana Júlia] quietinha hoje".
Após o fim da sessão, o tucano
negou a existência do acordo. No
corredor da comissão, encontrou-se com Pedro Taques e disse:
"Se o senhor quiser vir depor, eu
assino sua convocação agora".
O encerramento da sessão foi
proposto pelo senador Tião Viana
(PT-AC). "Nos bastidores, a gente
sentia uma tensão muito grande,
por isso não poderíamos seguir.
[...] Ali, o juiz simbolizava o Poder
Judiciário e o senador, o Legislativo. Quem iria prender quem?"
Os advogados de Gomes da Silva e a assessoria de Ronan informaram que os dois não conhecem
nem nunca tiveram sociedades ou
negócios com Arcanjo.
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