São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS

Magistrado diz em depoimento que Antero Paes de Barros recebeu dinheiro do "comendador" Arcanjo na eleição de 2002; parlamentar nega acusação

Juiz liga senador tucano a crime organizado

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT e o PSDB fizeram ontem um acordo para que fosse encerrada a tumultuada sessão da CPI dos Bingos antes do término do depoimento do juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso.
Com o fim da sessão, ele não conseguiu explicar os detalhes de uma linha de investigação sobre a suposta sociedade entre João Arcanjo Ribeiro, acusado de comandar o crime organizado em Mato Grosso e conhecido como "comendador", e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva em empresas de ônibus em Santo André (SP) e Fortaleza.
A convocação do juiz tinha como objetivo esclarecer um possível envolvimento de Arcanjo na morte do prefeito de Santo André Celso Daniel já que Gomes da Silva foi apontado como o "mandante" do crime pela Promotoria.
O juiz acabou relatando as relações de Arcanjo com o PSDB-MT, sobretudo com o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que é integrante da CPI. Sebastião da Silva disse que houve caixa dois na campanha de candidatos tucanos em 2002, incluindo Antero. Segundo o juiz, parte do dinheiro usado na campanha de Antero ao governo do Estado veio das empresas de factoring de propriedade de João Arcanjo.
Antero afirmou que o juiz é "mentiroso" e que está depondo como um "instrumento petista instalado dentro do Poder Judiciário". O juiz já foi filiado ao PT.
O término da sessão resultou no adiamento por tempo indeterminado do depoimento do procurador-geral da República Pedro Taques. "Fizeram um grande acordo porque ninguém quer que a verdade seja revelada", disse ele.
Taques também havia sido convocado para explicar o suposto envolvimento de Arcanjo com o assassinato de Daniel, em 2002.
Como o juiz, ele também tem informações sobre as relações de Arcanjo com o PSDB em Mato Grosso. O "comendador" é apontado como financiador das campanhas tucanas em 1998 e 2002. Ele está preso no Uruguai desde 2003 por uso de documento falso.
O caso atinge Antero porque ele foi candidato nos dois pleitos. Munido de um dossiê contra o juiz, o senador usou o telão da CPI para mostrar documentos que, segundo ele, comprovariam que Sebastião da Silva é "mentiroso".
O juiz então leu decisões judiciais contra Arcanjo e o PSDB de Mato Grosso e disse que pessoas ligadas ao "comendador" estavam no alto escalão do ex-governador tucano Dante de Oliveira. O juiz e o senador bateram boca por mais de duas horas.
Sentado ao lado de Antero, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, fez questão de defender o colega. A senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) pediu calma. Virgílio respondeu: "Eu quero você [Ana Júlia] quietinha hoje".
Após o fim da sessão, o tucano negou a existência do acordo. No corredor da comissão, encontrou-se com Pedro Taques e disse: "Se o senhor quiser vir depor, eu assino sua convocação agora".
O encerramento da sessão foi proposto pelo senador Tião Viana (PT-AC). "Nos bastidores, a gente sentia uma tensão muito grande, por isso não poderíamos seguir. [...] Ali, o juiz simbolizava o Poder Judiciário e o senador, o Legislativo. Quem iria prender quem?"
Os advogados de Gomes da Silva e a assessoria de Ronan informaram que os dois não conhecem nem nunca tiveram sociedades ou negócios com Arcanjo.


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